Presidente da Sociedade Israelita da Bahia avalia fala de Lula como "infeliz" e atribui a "ignorância história"

Rogério Palmeira também comentou caso em Arraial D'Ajuda e disse que o episódio mostrou as "faces do moderno antissemitismo"

Por Bruno Brito
24/02/2024 às 08h00
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Foto: Divulgação
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O presidente da da Sociedade Israelita da Bahia (SIB), Rogério Palmeira, criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por comparar as incursões militares de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto e chamar a guerra contra o Hamas de "genocídio". Em participação no podcast do Portal M!, Rogério classifico a fala como "injusta e infeliz", e enfatizou que Israel não pratica "nenhum tipo de discriminação ou apertheid". 

"A declaração do presidente Lula foi injusta e infeliz. O Estado de Israel não pratica nenhum tipo de discriminação ou apartheid, como aconteceu no Holocausto, não apenas contra as populações judaicas, mas ciganas, negras, homossexuais e deficientes mentais", afirmou Palmeira, que também é médico e professor da Escola Bahiana de Medicina.

Ele também chamou atenção para o fato de que em Gaza não estão sendo "implementadas câmaras de gás" e ressaltou que a população não está sendo "eliminada de maneira sistematizada e industrializada como aconteceu com os judeus, com os homossexuais, com os deficientes físicos". Rogério Palmeira também lembrou que as pessoas não estão sendo obrigadas a usar um "marco em suas roupas para identificar se elas são ou não são palestinas", em referência à estrela de Davi amarela, que o regime nazista impôs à comunidade judaica.

Ao explicar a situação em Gaza, o presidente da Sociedade Israelita da Bahia ressaltou que o Hamas é o responsável por matar os palestinos gays e disse que Israel acolhe vários deles, tanto de Gaza quanto da Cisjordânia, que trabalham no país, sem nenhum tipo de discriminação quanto a orientação sexual. 

"Em Israel, durante a ocupação, não está se promovendo nenhum tipo de perseguição a nenhum cidadão. A guerra não é contra palestinos, a guerra é contra o Hamas, que é uma teocracia - esta sim, tem utilizado métodos nazistas e do Estado Islâmico para o extermínio de qualquer pessoa, não apenas judeus israelenses, mas com uma doutrina que prega a destruição de todos os judeus em qualquer parte do mundo, que prega [também] a destruição dos homossexuais", observou. 

Ignorância histórica

Para o representante da comunidade israelita na Bahia, a declaração do presidente Lula pode ter sido fruto de uma "ignorância histórica". Palmeira lembrou que, durante o Holocausto, houve a  "eliminação de 6 milhões de judeus, entre 250 e 500 mil ciganos, mais de 250 mil deficientes físicos e mentais, um número incalculável, mas certamente superior a 200 mil homossexuais, e um número superior a 50 mil negros".  

Rogério Palmeira ressaltou ainda que nenhuma atrocidade deste tipo está acontendo por patrocínio do Exército Israelense, mas sim "do governo de Gaza", comandado pelo grupo terrorista Hamas.

"Fora isso, creio que o presidente Lula se enquadraria nas definições de antisemitismo da Aliança Internacional em memória do Holocausto, porque ele generaliza, com grandes riscos para a população judaica brasileira, um evento militar controlado e sob acompanhamento nesse momento da Corte Internacional, do Tribunal Internacional Penal, que não considerou isso um genocídio", avaliou. Ele também afirmou acreditar que a fala de Lula "banaliza o Holocausto".

Caso em Arraial D'Ajuda

Durante sua participação no podcast do M!, o presidente da SIB também foi perguntado sobre o caso da mulher chilena que promoveu um ataque antissemita a uma comerciante judia em Arraial D'Ajuda, distrito de Porto Seguro. Nas imagens que viralizaram nas redes sociais, é possível ver a chilena xingando a empresária Herta Breslauer de "maldita sionista" e "assassina de criança".

Na avaliação de Rogério Palmeira, o episódio expõe as "faces do moderno antissemitismo", que se revela também como o "anti-israelismo ou o anti-sionismo".

"A mulher chilena em Arraial D'Ajuda, ao atacar a comerciante judia, evocou um dos mitos medievais: a chamou de 'sionista matadora de crianças'. Na Idade Média, existia essa difamação contra as comunidades judaicas, dizendo que a comunidade sequestrava crianças para utilizar o sangue para alimentos rituais - até mesmo em uma hipótese absurda de que a comunidade judaica desejasse sequestrar qualquer pessoa, os alimentos judaicos inclusive nem podem ter sangue", pontuou.

Conforme Palmeira, toda essa movimentação tinha o objetivo de "impregnar o resto da população com revolta", e seria uma das grandes táticas do governo do Hamas em Gaza, ao oferecer "números astronômicos, dizendo que as principais vítimas são mulheres e crianças", o que segundo o representante da comunidade israelita na Bahia, "não é a realidade".

"Crianças foram queimadas vivas e continuam sendo atacadas diariamente [em Israel]. A diferença é que o número de civis [atingidos] não é tão grande porque, apesar dos milhares de mísseis que Gaza ainda consegue lançar sobre o Estado de Israel - ao contrário do Hamas, que usa os palestinos como reféns, escudos humanos, reféns da sua ditadura teocrática -, o governo de Israel investe em sistemas de defesa, em bunkers e em abrigos antiaéreos", disse. 

Palmeira também ressaltou que tem sido frequente no Brasil o uso da expressão "sionista" como xingamentos aos judeus, e que tal iniciativa representa "bizarrice e desinformação".

"Sobretudo no campo de pessoas que se consideram progressistas, as pessoas estão apoiando não a causa palestina, mas a causa de um grupo terrorista que é o Hamas, que inclusive oprime os palestinos, oprime as mulheres palestinas, suprimiu qualquer oposição, e que lança pessoas homossexuais de prédios, enquanto a causa sionista é pregar a existência de um direito, de um Estado judeu com um Estado de direito, com lei e com direitos iguais para todos", completou.

 

Confira o podcast na íntegra: