Curadora ressalta crescimento da literatura baiana no interior e importância da produção identitária

"Essas pessoas não falam só para si. Elas falam e escrevem para a sociedade", afirmou Ester Figueiredo, em participação no podcast do Portal M!

Por Bruna Ferraz
27/04/2024 às 18h00
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Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

O aquecimento do segmento literário na Bahia tem fomentado a ascensão de uma gama de profissionais que atuam nos bastidores, dando suporte a escritores e a todo o mercado editorial. A escritora Ester Figueiredo, curadora e sócia-diretora do Studio Palma, especializado na assessoria e curadoria de produtos e projetos editoriais, com um catálogo de 60 escritores na Bienal do Livro da Bahia, está entre os profissionais que têm vivenciado o avanço do setor no estado.

Ester também é mobilizadora da rede colaborativa de curadoria literária, criada em 2016 com o propósito de socializar experiências e fomentar projetos literários. Dentre os que já passaram pela sua curadoria, estão várias edições da Feira Literária de Mucugê/Bahia (Fligê), a IV Feira Literária Internacional do Paiaiá-BA e a edição de 2023 da Feira Literária de Canudos (Flican). Com experiência na área, Ester Figueiredo falou ao podcast do Portal M! sobre o desenvolvimento da literatura baiana e a importância de eventos como a Bienal do Livro.

"Do mesmo modo que a Bienal é esse espaço de convivência da literatura com o público, dessa mediação, dessa formação também do público leitor, as feiras e festas literárias, que já estão sendo realizadas na Bahia, estão em um boom nos últimos seis anos", explicou Ester Figueiredo.

Segundo a curadora, os eventos literários costumavam estar restritos à capital baiana, à Região Metropolitana de Salvador (RMS) e ao Recôncavo baiano, não chegando ao vasto interior da Bahia.  Contudo, Ester ressalta um visível processo de interiorização das feiras e festas literárias a partir dos últimos seis anos.

"O Estúdio Palma, que é uma agência literária em que eu atuo no campo da curadoria, tem prestado consultoria, tem também mobilizado a constituição de redes colaborativas de feiras e festas literárias, justamente para a gente poder dar visibilidade à produção literária da Bahia e, ao mesmo tempo, descobrir o que está acontecendo de literatura no norte da Bahia, em Canudos, em Irecê, na região do Rio São Francisco, no sudoeste. Por isso que a gente tem essa mobilização por meio da rede de feiras e festas literárias, que tem esse suporte também da curadoria literária vinculada ao Estúdio Palma", detalhou.

Literatura identitária

Outra questão destacada por Ester Figueiredo dentro das transformações do universo literário é o fortalecimento da literatura identitária. Para ela, a literatura envolve diferentes gêneros e diferentes públicos e, desta forma, é possível observar o movimento dos coletivos para trabalhar com a literatura de pertencimento étnico, indígena, erótica e LGBTQIA+.

"Isso é muito importante porque essas pessoas não falam só para si. Essas pessoas falam e escrevem para a sociedade. Essas pessoas escrevem e publicam para poder mostrar essa visibilidade. É importante esse destaque quando a gente foge de uma etiqueta: é uma literatura identitária, é uma literatura para público A, B, C e o D, porque não é isso que a gente vê no diálogo com essas escritoras e escritores. Eles produzem diferentes gêneros literários que realmente têm um público-alvo, mas esse texto acaba também sendo acolhido por públicos diversos, porque as questões sociais estão presentes", pontou.

Confira o podcast na íntegra:

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