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Inseminação artificial possibilita que mulheres realizem sonho da maternidade

Portal M! conta a trajetória de Carla e Sabrina Fróes, que investiram no procedimento e agora colhem  os frutos

Neste Dia das Mães, celebramos não apenas o vínculo entre mães e filhos, mas também a diversidade de experiências que envolvem o ato de maternar. Em um mundo em constante evolução, os caminhos para a realização desse sonho são tão variados quanto as próprias mães que os trilham. Entre essas histórias inspiradoras, o Portal M! encontrou a jornada da comissária de voo Carla Fróes e da advogada Sabrina Fróes, um casal de baianas que mora em São Paulo e tinha o desejo de exercer a maternidade. Isso foi possível  através da inseminação artificial.

Juntas desde 2002, Carla é natural de Jequié e Sabrina, de Alagoinhas. Elas se conheceram através do chat do Blah!, muito utilizado no início dos anos 2000 e que funcionava através do SMS. Após mais de um mês de conversas, marcaram o tão esperado primeiro encontro e garantem ter sido amor à primeira vista. Hoje, 22 anos depois, são mães da pequena Lia, de 3 anos, e compartilham experiências da dupla maternidade através do Instagram @liatemduasmaes.

“A gente vive super bem, somos um casal como qualquer casal e não temos muitos impasses. Temos uma relação muito de amizade, acreditamos muito de que uma é a alma gêmea da outra. A gente se completa, se respeita, e nesse tempo todo foi assim. Foi só depois de muito tempo de relacionamento que a gente começou a pensar de repente em ter filhos e tudo mais”, contou Carla.

A ida do casal para São Paulo ocorreu em função de uma proposta de emprego recebida por Carla. “Ela teve que se mudar para São Paulo em razão da profissão dela, e a gente ficou com muito medo do distanciamento. A gente realmente sentia que o relacionamento estava dando super certo. Então, eu decidi meio que ‘inventar uma profissão’ e disse: vou embora para São Paulo. Fui para a Faculdade de Direito e vim para São Paulo advogar. E hoje, aqui estamos, baianas em São Paulo e felizes com a nossa paulistinha”, descreveu Sabrina.

Escolha pela inseminação artificial

A decisão do casal pela inseminação artificial ocorreu por sugestão de uma médica. Elas, que nunca haviam tentado engravidar até então, foram informadas que optarem pela Fertilização In Vitro (FIV) logo de cara, seria um risco muito grande. “Uma vez que a gente não tinha conhecimento de como seria nossa saúde gestacional e reprodutiva”, explicou Carla.

Conforme a comissária, a FIV só seria uma possibilidade se a participação genética de ambas na gestação de Lia fosse algo muito importante. Como não era o caso, o casal optou pela inseminação, e juntas, entenderam que Carla deveria gestar, já que existia a possibilidade de afastamento do trabalho durante o período.

“A gente decidiu que, de nós duas, quem seria mais interessante gestar. E pela vantagem que a minha profissão me dá, de estar afastada no momento que eu engravido, a gente decidiu bem friamente mesmo, que eu faria a inseminação. E, graças a Deus, na primeira tentativa, apesar de eu já estar com quase 40 anos, nós conseguimos. Na inseminação artificial, onde a chance é muito menor, nós conseguimos um excelente sucesso que está aqui, com quase 4 anos”, celebrou.

Recepção ao modelo familiar

Perguntadas sobre como avaliam a recepção ao modelo de família, Sabrina lembrou ainda ser muito comum casos em que apenas uma delas é chamada  e reconhecida  como mãe. “Parem de olhar para uma das mães só e falar: você está ouvindo, mãe, preste atenção mãe’, quando as duas mães estão presentes. As duas mães estão presentes, então validem as duas mães, validem os dois pais, validem a pessoa que está ali. Melhor ainda que você chame até pelo nome, às vezes até porque a pessoa que está ali não é a mãe, é a tia, é avó, é avô”, ressaltou.

Situações desta natureza são muito comuns em locais como consultórios médicos, conforme lembrou Carla. Segundo ela, existem ainda episódios em que elas são perguntadas sobre quem é o pai de Lia, invalidando a maternidade de Sabrina. “Simplesmente direcionam a pergunta para mim e a gente automaticamente volta a pergunta para Sabrina. O médico me pergunta, eu olho para Sabrina e falo: ‘o que você acha disso?’, afinal ela é mãe também”.

A comissária, no entanto, acredita não se tratar de um preconceito velado contra elas, e atribui os episódios a uma “falta de conhecimento” e de “normalização”. Ela ressaltou que ambas sempre procuram “bater de frente” em casos como esses, inclusive nas escolas. Um exemplo dado por Carla é que elas priorizam escolas que não festejam o Dia das Mães e o Dia dos Pais, mas sim o Dia da Família.

“É importante para aquela criança ter a família dela validada. Se a minha filha é aquela criança que vive com a avó, que vive com avô, porque perdeu os pais na pandemia… Então, a criança que tem dois pais ou duas mães, como é o nosso caso, mas a criança que também tem uma família heteronormativa que está ali, mas que não tem a presença de um dos dois, e tá tudo bem, é uma família igual”, alertou.

Outro momento que chama atenção do casal é o de preencher fichas de inscrição, por exemplo. “Se na filiação tem nome do pai e mãe, eu risco o nome do pai e coloco mãe e mãe. É o mínimo. Eu entro em contato e falo: ‘olha, precisa ser mudado isso, agora vocês têm uma aluna que tem duas mães’. É preciso que isso seja questionado, porque dói em quem sente. Então, a gente precisa fazer essa parte dessa mudança, para que quando a Lia tiver os filhos dela, os filhos dela não precisem passar por isso. Os filhos dos amigos dela não precisem passar por isso, e por aí vai. E que não necessariamente a questão da família homoafetiva, é a questão do tipo – respeite que as famílias hoje são diferentes. Isso é o mais importante de tudo”, enfatizou.

Segundo o casal, esse é um tema de muita conversa entre elas, inclusive para que Lia esteja preparada para que, no futuro, possa lidar com possíveis questionamentos. Um episódio lembrado por Sabrina ocorreu quando uma criança a questionou se ela era mãe de Lia. Ao confirmar que era,  a criança perguntou se Carla também seria mãe.

“Ela me perguntou: ‘você é a mãe dela?’, eu falei sim. E ela me perguntou: ‘e a outra?’, eu falei também é a mãe. Daí ela me perguntou da barriga de quem a Lia saiu, aí eu, inocentemente, fui falar que tinha saído da barriga de outra mamãe, mas que eu também era a mãe. Ela reagiu e perguntou: ‘então é a outra que é a mãe dela, você é tipo a tia?’. Daí eu falei que não, e depois de umas duas, três insistidas, a criança absorveu. Mas você percebe que, obviamente, a dupla maternidade, a diversidade homoafetiva não é discutida dentro do núcleo familiar daquela criança, seja porque os pais são preconceituosos ou porque ainda são resistentes a discutir essa questão, e isso, de fato, é o que falta”, pontuou a advogada.

Por conta deste cenário, Carla enfatizou que a relação das duas sempre pautada na verdade, no respeito e na transparência, com o objetivo de mostrarem para Lia que cada família pode ser feliz do jeito que é.

“Eu tiro pelo ambiente escolar em que a Lia vive. É muito interessante porque as famílias que não tinham contato com famílias homoafetivas, e começaram a perceber claramente que nós duas somos as mães da Lia, e está tudo bem. Ninguém cria um caso especial, porque nós duas somos mães na escola em um dia de festa. A Lia fala com muito orgulho de que ela tem duas mães e para ela, é muito natural”, observou.

Já Sabrina ressaltou ser importante a existência de uma “noção de pertencimento”, e pontuou que o convívio da pequena Lia com outros modelos de famílias é muito necessário.

“Ela tem que entender que existem famílias como a dela e também tem que entender que existem famílias diferentes da dela. Aqui nós temos uma comunidade de famílias LGBTQIAPN+, nós temos convivência com famílias heteronormativas, homoafetivas, família de mães, pais, famílias onde existem transmaternidade solo, então ela realmente possui esse senso de pertencimento. Eu acho que isso é muito importante. Ela tem amigas que são adotadas por dois pais, por duas mães”, detalhou.

Dia das Mães é todo dia

A advogada também falou sobre a experiência de ser mãe, e afirmou que se trata de “ser” e “existir”. Ela lembra que até a chave só girou quando ouviu o primeiro choro de Lia.

“Carla se encaminhou sozinha inicialmente para a sala de parto, depois os profissionais me levaram para lá. E até ali eu estava só consolando, acudindo, dando todo o amor, todo o carinho para Carla. Só que, quando Lia fez o primeiro choro, sabe quando parece que alguém girou uma chavinha nas suas costas? Sua espinha congela e você muda totalmente, você vira uma chave na sua vida”, relembrou, ao citar a mudança no senso de responsabilidade, de amor, empatia, coragem, força e de ser guerreira.

Já Carla enfatizou que o Dia das Mães é uma data como outra qualquer, e ressaltou ser algo comercial. Por conta disso, ela defendeu a tese de que o Dia das Mães é todo dia, principalmente nas pequenas atividades diárias.

“É trocar a fralda, é se preocupar com o que a criança vai comer, é se preocupar com a hora que ela tem que dormir. É manter aquele ser humano que você ficou responsável, vivo. Se pegou piolho, não pegou piolho. É nos pequenos momentos. Então, é uma data só, é um domingo. O Dia das Mães não é um dia só, o Dia dos Pais não é um dia só. A data realmente é uma coisa muito comercial. Eu digo para quem quer ser mãe, quem é mãe, só viva, não dá para explicar. Materne do seu jeito, e está tudo bem. Cada um tem o seu jeito de maternar, e está validado. O importante é fazer aquela criança feliz e um ser humano diferente para a humanidade”, destacou.

Por fim, ela expressou seu desejo para todas as mães. “Que possam ser felizes sempre e procurem, dentro de vocês, onde pode melhorar. Porque é isso, a gente vai dormir e fala: ‘poxa, eu não podia ter feito aquilo’, e era isso que eu queria ter melhorado. E no dia seguinte você faz, tenta de novo, e tenta de novo, e a gente vai melhorando. É tentar compreender que as pessoas que estão educando uma criança, que isso é uma arte, e eu não sei nem explicar o que é. Mas sejam muito felizes e tenham muita saúde para cuidar desses ‘serumaninhos’ que estão confiados em vocês”.

Sabrina, por sua vez, lembrou que não devemos esperar a data para demonstrar afeto. “Não espere o Dia das Mães para amar suas mães, não espere o Dia das Mães para você se sentir mãe, e é isso”, concluiu.

 
 
 
 
 
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