Pular para o conteúdo
Início » Comunidade judaica sente “necessidade de entrar em alerta máximo”, diz presidente da SIB após ataque do Irã em Israel

Comunidade judaica sente “necessidade de entrar em alerta máximo”, diz presidente da SIB após ataque do Irã em Israel

Ao Portal M!, Rogério Palmeira enfatizou que o clima é de muita apreensão

O presidente da Sociedade Israelita da Bahia (SIB), Rogério Palmeira, afirmou em entrevista ao Portal M! que a comunidade judaica sentiu a necessidade de “entrar em alerta máximo”, após os ataques de Irã a Israel ocorridos em 13 de abril. Na ocasião, dezenas de drones e mísseis foram enviados pelos iranianos ao território israelense. Conforme Palmeira, a comunidade está bastante “apreensiva” e tem tomados medidas para sua “proteção”.

“Após qualquer ameaça de guerra ou ataque terrorista contra judeus em qualquer parte do mundo, a comunidade judaica se sente preocupada, angustiada e também com a necessidade de entrar em alerta máximo. A comunidade judaica está bastante apreensiva, tem tomado todas as medidas para sua proteção, tem reafirmado seu desejo de paz, mas também de autopreservação, e reiterando seu apoio irrestrito ao direito de existência do Estado de Israel, inclusive o direito de se defender para manter a sua própria existência contra qualquer ataque”, afirmou.

Outro aspecto que tem levado preocupação aos judeus, de acordo com o presidente da SIB, é o aumento de ataques antissemitas no mundo. “Inclusive no Brasil, o discurso de ódio voltado a judeus cresceu vertiginosamente de 2023 para cá, sobretudo e curiosamente nos dias em que Israel é atacado, o número de ataques verbais e de manifestações antissemitas cresce de maneira desproporcional às manifestações de solidariedade”, alertou.

Início do confronto entre os países

A primeira agressão do Irã a Israel aconteceu em 13 de abril – em retalição, segundo o país, ao ataque ao seu consulado na Síria, no dia 1º de abril, atribuído a Israel, que não assumiu a autoria. O ataque à embaixada localizada em Damasco matou sete membros da Guarda Revolucionária Iraniana.

Segundo Rogério, um dos principais pontos envolvendo o embate seria a existência de registros fotográficos mostrando “claramente que a embaixada do Irã está intacta”. “O ataque atribuído a Israel, que Israel nunca reconheceu, foi numa instalação militar das guardas revolucionárias do Irã  na Síria, que é, na realidade, um dos centros, um dos focos de instabilidade, porque a partir desta instalação, os grupos terroristas [como o Hamas e o Hezbollah] são abastecidos pelo Irã”.

O presidente da SIB também pontuou que a Síria se encontra numa guerra civil em que os opositores do regime de Damasco, que é apoiado pelo Irã, podem ter sido responsáveis pelo ataque.

“Esta situação é muito grave, porque o Irã, na realidade, já vem fazendo ataques sistemáticos ao Estado de Israel através do que a gente chama de proxy wars, que são as guerras por procuração através de seus aliados com os grupos terroristas Hamas e Hezbollah. Uma outra coisa muito curiosa é que o Irã, nos anos 90, atacou a embaixada de Israel em Buenos Aires, na Argentina, e também atacou a maior instituição judaica na Argentina, a AMIA, em 1994, motivo pelo qual, poucos dias antes do ataque maciço que o Irã fez contra o Estado de Israel, a Justiça argentina responsabilizou a República do Irã pelos atos terroristas na Argentina”, afirmou.

Escalada do conflito e guerra total no Oriente Médio

Perguntado sobre a possibilidade de escalada do confronto ao ponto de gerar uma guerra total no Oriente Médio, Rogério enfatizou que o ataque promovido pelo Irã poderia ter inflamado, de maneira imediata, toda a região. Ele também chamou a atenção para a participação da Jordânia no combate, que é um país muçulmano árabe da região, e até mesmo a Arábia Saudita.

“Participaram da coalizão de defesa que foi acionada no dia do sábado, e com a participação também dos países da União Europeia, como a Alemanha, Reino Unido e França, além dos Estados Unidos”, completou.

Por conta destas participações, o presidente da SIB acredita que existe um pouco de esperança para que as relações comecem a ser mais racionalizadas na região. “Claro que isso aconteceu porque o Irã é um inimigo comum, por ser um fator de grande estabilidade regional, tanto para o regime da Jordânia, quanto para o regime da Arábia Saudita, além do mundo ocidental. O que causa muita surpresa, na realidade, é o grau de apoio que o Irã vem recebendo de outros países e de populações inteiras, já que o regime islâmico teocrático do Irã oprime os próprios iranianos. É um regime não democrático, é um regime que oculta, oprime as mulheres. Então, o Irã é uma ameaça não apenas para a região, mas para o mundo, e é importante que a população iraniana consiga superar isso e derrubar esse regime para um regime democrático. Já que é uma ditadura e no mundo moderno, a gente precisa acreditar e fomentar mais as democracias”, enfatizou.

Já sobre a situação em Gaza, em que Israel e o Hamas estão em conflito há cerca de três meses, Rogério ressaltou que o quadro está bem mais “complicado” deste o ataque realizado pelo Irã.

“O gabinete de guerra de Israel definiu por uma resposta ao Irã no momento mais apropriado. A gente não sabe ainda em que proporções e em que grau será esse ataque, ou se esse ataque será sobre bases militares iranianas, ou ataque a grupos como Hezbollah e Hamas. A gente ainda vai precisar observar, mas sempre há uma preocupação quando um estado terrorista, que patrocina o terrorismo como o Irã, faz um ataque sobre o território de um outro país com tão graves proporções”.

Comunidade judaica vê posição do governo brasileiro com “surpresa” e “indignação”

Em nota emitida em 13 de abril, após o Irã assumir os ataques contra Israel, o Itamaraty disse que o governo brasileiro acompanhava com “grave preocupação” os “relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel”. A nota continua com o governo brasileiro frisando que “vem alertando sobre o potencial destrutivo do alastramento das hostilidades” no Oriente Médio desde o início do “conflito em curso na Faixa de Gaza”, em referência à guerra entre Israel e Hamas.

O posicionamento, no entanto, não foi bem recebido pela comunidade judaica pela falta de “condenação” ao ataque promovido pelos iranianos. 

“A gente recebeu essa nota do Itamaraty com um misto de surpresa e indignação, porque a nota pede moderação dos dois lados. Acontece que um lado estava se defendendo e o outro lado estava agredindo de maneira violenta, baseado em uma informação mentirosa. A gente acha que a resposta do governo brasileiro deveria ter sido uma resposta contundente, como a que o governo tem produzido contra o Estado de Israel, mesmo quando as informações que ele utilizou para emitir aquela condenação não eram verdadeiras”, apontou Rogério Palmeira.

Por conta disso, o presidente da SIB defende que o governo brasileiro deve refletir sobre sua opinião. “A opinião do povo brasileiro é rejeição a ditaduras, rejeição a regimes que discriminem as pessoas por sua religião, por sua raça ou por sua opção sexual. E o regime que promove esse tipo de discriminação não é o regime do Estado de Israel e nem é do povo iraniano, mas é o do governo iraniano. E a gente acha que o governo brasileiro deve refletir a opinião e o espírito do povo brasileiro, que é o espírito de paz e conciliação. Então nesse sentido, eu acho que a nota foi bastante frustrante, não apenas para a comunidade judaica, mas por todos aqueles da comunidade brasileira em geral”.

Israel realiza ataque contra base militar iraniana

Na última sexta-feira (19), Israel realizou um ataque direto contra o Irã, na província de Isfahan, a cerca de 350 quilômetros da capital Teerã. Há relatos conflitantes sobre a dimensão do ataque à região, assim como sobre a extensão dos danos causados e a mídia estatal iraniana está minimizando sua importância.

Autoridades americanas confirmaram que um míssil israelense atingiu o Irã na madrugada desta sexta. Na avaliação do presidente da SIB, o ataque manda um “claro recado” aos iranianos sobre o poderio israelense.

“Ele sequer conseguiu evitar o ataque, e o ataque foi numa base que tem instalações nucleares, então manda um claro recado aos iranianos: ‘não provoquem’, porque se vocês não conseguiram repelir um ataque em pequena escala, imagine um ataque em grande escala. E ‘nós podemos atingir suas instalações nucleares’ é o segundo recado. Então, de certa maneira, esse ataque serve para tentar baixar a temperatura da região, tanto que as autoridades iranianas comunicaram a agência Reuters que não planejam fazer nenhum ataque de retaliação. Vamos esperar que a situação esfrie mais e que a paz possa se restabelecer em breve”, concluiu.

 

Leia também:

Presidente da Sociedade Israelita da Bahia diz ser a favor da criação de Estado Palestino

Presidente da Sociedade Israelita da Bahia avalia fala de Lula como “infeliz” e atribui a “ignorância história”

Marcações: