Lula reage a Israel e volta a falar em genocídio na Faixa de Gaza

"Crianças e mulheres estão sendo assassinadas", disse o presidente brasileiro, que virou 'persona non-grata' no país do Oriente Médio

Por Estadão Conteúdo
24/02/2024 às 08h41
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Foto: Agência Brasil
Foto: Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rebateu nesta sexta-feira (23) as críticas que tem recebido por comparar a guerra em Gaza ao Holocausto e voltou a acusar Israel de "genocídio" no enclave palestino. A atitude colabora para a escalada da crise diplomática aberta entre Brasília e Tel-Aviv.

"Eu sou favorável à criação do Estado Palestino livre e soberano Que possa esse Estado Palestino viver em harmonia com o Estado de Israel. O que o governo de Estado de Israel está fazendo não é guerra, é genocídio. Crianças e mulheres estão sendo assassinadas", disse ao participar de um evento da Petrobras.

"Não tentem interpretar a entrevista que eu dei. Leiam a entrevista e parem de me julgar a partir da fala do primeiro-ministro de Israel", acrescentou. Lula voltou a dizer que "não estão morrendo soldados, estão morrendo mulheres e crianças dentro dos hospitais". E repetiu: "Se isso não é genocídio, não sei o que é genocídio".

O petista seguiu dizendo que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) "não representada nada, não toma decisão em nada e não faz paz em nada". E criticou o veto dos Estados Unidos à resolução apresentado pelo Brasil, quando ocupou a presidência rotativa do colegiado.

"A lógica da ONU não é agir de forma democrática", disse, ao questionar o poder de veto que têm os cinco países com assento permanente no Conselho - Reino Unido, China, Rússia, Estaqdos Unidos e França.

"A gente não pode aceitar a guerra na Ucrânia, como não pode aceitar a guerra em Gaza, e nenhuma guerra", concluiu ao reclamar do que chamou de "hipocrisia" na classe política.

Diplomacia israelense reage

Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores isralense, Israel Katz, voltou a provocar Lula nas redes socais. "Ninguém vai separar o nosso povo, nem você", dizia a mensagem acompanhada por uma ilustração que mostrava brasileiros e israelenses abraçados.

Em publicações feitas ao longo da semana, a chancelaria de Israel também disse que a fala de Lula era uma "vergonha" e chamou o presidente brasileiro de "negacionista do Holocausto". As declarações foram duramente rebatidas pelo ministro das Relações do Brasil, Mauro Vieira, que chamou o tratamento dado a Lula de "insólito".

No último fim de semana, o petista abriu uma crise diplomática com Israel ao equiparar a guerra na Faixa de Gaza ao Holocausto. "O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus", afirmou.

Inicialmente, o presidente condenou o ataque terrorista do Hamas, que desencadeou o conflito. Depois, passou a criticar também a resposta de Israel, acusando o país de "terrorismo" e "genocídio".

Ao falar sobre o Holocausto, no entanto, Lula cruzou o que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, chamou de "linha vermelha". Por isso, o presidente brasileiro foi declarado 'persona non-grata' por Israel.

A reação de Tel-Aviv irritou o Brasil, que vê uso político da crise no momento em que o governo israelense enfrenta crescente pressão internacional pelo drama humanitário em Gaza. Como gesto de insatisfação, o Itamaraty retirou de forma temporária o seu embaixador em Israel, Frederico Meyer, e chamou o representante israelense em Brasília, Daniel Zonshine, para uma conversa.

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