Medicina naturopata: eficácia garantida ou charlatanismo? Especialista explica

"O organismo é uma floresta, constituído de partes que são interdependentes", explicou o médico Aureo Augusto de Azevedo ao podcast do Portal M!

Por Bruna Ferraz
03/02/2024 às 08h00
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Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Sistema de medicina que tem como base a cura através da natureza e da compreensão do corpo, da mente e do espírito, a Naturopatia tem alguma adesão, mas ainda é bastante desconhecida pela maioria da sociedade brasileira. A falta de informações sobre diferentes perspectivas de atenção  à saúde coloca a medicina tradicional como alternativa única e fomenta a crença de que um cuidado natural pode se tratar de charlatanismo. O médico Aureo Augusto Caribé de Azevedo garante que a abordagem é séria e efetiva.

O especialista abordou diversos pontos da Naturopatia durante sua participação no podcast do Portal M!. Morador do Vale do Capão, em Palmeiras, na Chapada Diamantina, o profissional atua em uma clínica particular e acumula vasta experiência na Unidade de Saúde da Família, onde desenvolveu atividades educativas e praticou terapêuticas naturais, com foco na saúde e na felicidade. Além de médico, Aureo Azevedo é também artista plástico e escritor.

"Tem dois aspectos da medicina natural que devem ser levados em consideração quando pensamos na base teórica. Um é a questão da nutrição. Então, uma pessoa que trabalha com Naturopatia deverá ter um conhecimento bem legal da fisiologia digestiva. Claro, e a fisiologia do corpo, mas a fisiologia digestiva é extremamente importante", pontua.

O especilista cita como exemplo a questão da enzima que temos na saliva, chamada ptialina, que tem a finalidade de quebrar o amido - conjunto de moléculas de glicose que ficam muito associadas e que o corpo não tem condições de aproveitar por completo.

"A ptialina faz esse trabalho, por isso que é importante a mastigação. E se ela não fizer esse trabalho, o restante do sistema digestivo vai sofrer, vai dar gases etc. Contudo, a ptialina funciona em ambiente alcalino, então se a nossa boca está ácida, coisa que acontece com aqueles que gostam muito de comer açúcar, a ptialina não vai ter um efeito tão bom. A pessoa pensa que está com problemas intestinais, mas na realidade o problema é desde a boca. Então, conhecer a fisiologia é muito importante", destalhou.

Outro aspecto importante da medicina natural, segundo o médico, é aproveitar os reflexos orgânicos com a finalidade de obter uma estimulação do que chamou de capacidade natural de cura.

O corpo é um ecossistema

Uma das ideias defendidas por Aureo Azevedo é que o corpo humano funciona como um ecossistema. Através dessa analogia, ele explica que, ao imaginar uma floresta, é possível compreender de que maneira esse corpo se forma.

"Essa floresta é constituída de unidades que são aparentemente independentes, mas que são interdependentes. As árvores de uma floresta têm conexões através das próprias raízes e também graças aos fungos. Os fungos, os cogumelos que estão por ali, são uma conexão muito grande entre as árvores. A floresta tem capacidade de se recompor. Hipócrates, médico grego do século III antes de Cristo, dizia que se você abrir uma clareira em um bosque, deixe o bosque por si só que ele se recompõe. Então o organismo é uma floresta, constituído de partes que aparentemente podem ser independentes. Células, por exemplo, você pode tirar uma célula de um corpo e criar em laboratório ela e ela se multiplicar, inclusive", detalhou o médico para explicar que o corpo tem uma capacidade regenerativa inerente a todos os organismos vivos.

Alimentação positiva

O especialista ressaltou que, para que o organismo possa por em prática a sua capacidade regenerativa, no entanto, é preciso que os humanos permitam que isso aconteça, o que só é possível a partir da adoção de uma série de práticas saudáveis, com foco principal na alimentação. "Se a gente fica magoando aquela ferida, ou se a gente tem uma alimentação muito ruim, a gente vai ter uma certa dificuldade de recomposição", afirma.

Segundo o médico, o fator principal e básico da Naturopatia é a alimentação, que, de acordo com ele, deve ser vegetariana, integral e natural/orgânica, dentro do possível. Dentro dessa concepção, cereais refinados e açúcar branco, por exemplo, estão fora de cogitação.

Desmistificando ideias

Aureo Augusto destacou, durante a conversa, que é preciso desmistificar a ideia de que a medicina natural é apenas preventiva, inibindo futuras doenças. De acordo com o médico, ela é também curativa. "Indiscutivelmente, a Naturopatia está muito atenta à prevenção das doenças através da alimentação, hábitos de saúde adequados, meditação, psicoterapia, atividade física etc. Mas também tem um papel curativo sim, através da hidroterapia, que são procedimentos com uso de água fria principalmente, e Geoterapia, que é a argila".

Sobre as discordâncias quanto a algumas práticas mais próximas da medicina natural, o médico destacou que os questionamentos existem dentro da academia e que são naturais, pois esse é o papel da ciência, que, segundo ele, é uma atividade humana que não tem princípios básicos, não tem dogmas. Dessa forma, alguns elementos são apresentados como boas alternativas, mas, em outro momento, é possível se dizer que não funcionou como o previsto.

Para o especialista, entretanto, o que tem sido observado ao longo dos últimos anos é a confirmação de que muitas práticas de cura alternativas à medicina tradicional ocidental têm se mostrado eficazes. O ideal, de acordo com ele, é fazer uma mescla daquilo que as diversas vertentes possuem de positivo em prol da cura de um paciente.

"A ciência sempre está nesta maneira de ver as coisas. As práticas tradicionais, elas têm uma longa tradição. E atualmente existem estudos que mostram que elas estão funcionando. A Naturopatia entre elas, a medicina tradicional chinesa entre elas, a Aiurveda entre elas etc. Contudo, é um equívoco, a meu ver, entender que a alopatia, ou melhor, a prática acadêmica de medicina, tal como nós entendemos aqui no Ocidente, deveria ser colocada de lado. A gente tem que ver a pessoa que nos procura e examiná-la, fazer toda a observação necessária e utilizar todo o nosso conhecimento no intuito de contribuir para a saúde daquela pessoa. Em certos casos, tenho que usar as medicações ditas de farmácia e sempre faço isso em conjunção com os meus conhecimentos de Naturopatia", reforçou.

Confira o podcast na íntegra: