Dermatologista alerta para excesso de procedimentos estéticos e recomenda cuidado na escolha dos profissionais

"A tendência é a naturalização facial: obter resultados cada vez mais bonitos, mais naturais, com menos preenchimento e mais estímulo de colágeno", disse Marta Mascarenhas 

Por Bruna Ferraz
27/01/2024 às 15h00
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Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Procurar manter uma boa aparência faz bem ao corpo e à mente, mas quando perceber que a busca pela inatingível 'perfeição física' está indo longe demais? Uma pesquisa divulgada em dezembro de 2022 pela Opinion Box, intitulada de 'Beleza, Saúde e Bem-estar', apontou que 42% dos entrevistados que nunca realizaram um procedimento estético afirmaram que tinham vontade ou fariam este tipo de intervenção. Dentre os que já realizaram, 58% o fizeram antes dos 30 anos e cerca de 50% dos ouvidos disseram que a aparência física está relacionada à felicidade.

Segundo relatório emitido pela Grand View Research, o mercado mundial da medicina estética foi avaliado em mais de R$ 500 bilhões em 2021. Até 2030, a previsão é de que essa receita deve aumentar a uma taxa anual de pouco mais de 14%. Os dados indicam que esses procedimentos - e o desejo por eles - estão em uma tendência de alta. Para falar sobre o assunto, o podcast do Portal M! ouviu a médica dermatologista Marta Mascarenhas, mestra em Ciências da Saúde, que atualmente atende na Clínica Sanlazzaro.

Ao citar as intervenções estéticas mais conhecidas, como o botox ou o ácido hialurônico, a especialista explicou como cada uma dessas substâncias funciona e quando é, de fato, necessário fazer uso delas. Sobre a realização do botox, Marta contou como ele reage no organismo, além da diferença entre a aplicação estética e a não estética.

"O botox nada mais é do que a toxina botulínica, uma substância que nós injetamos para diminuir a contração dos músculos. Ele não é um tratamento específico para rugas, mas sim do músculo. Você vai contrair menos aquela musculatura e você vai ter, consequentemente, menos rugas. A aplicação estética é indicada para quem tem um músculo muito forte, que faz aquelas rugas verticais no meio da testa, aqueles que fazem as rugas horizontais quando contraem a testa para cima, quando sorri e faz muito pé de galinha. Mas existe também o botox não estético, que é aplicado para algumas patologias, como enxaqueca, em que a gente vai ter um controle de neurotransmissores com redução da contração muscular. Tem um botox que é aplicado para hiper-hidrose, que é o excesso de suor na axila, virilha, mãos ou pés", explicou.

Exagero nas indicações

A médica dermatologista confirmou que, em um período recente, houve um exagero na indicação dos preenchimentos com ácido hialurônico. "As pessoas ficaram muito infladas, muito cheias, com aspectos de cara de boneca, cara inchada. Isso por uma cultura que foi feita de que se tratava a flacidez com preenchido de ácido hialurônico, e a gente sabe que isso não é verdade", explicou.

De acordo com a especialista, a tendência atual, principalmente dos dermatologistas e cirurgiões plásticos, é que se use cada vez menos ácido hialurônico para realizar o preenchimento. O ideal, segundo Marta Mascarenhas, é utilizar a substância com refinamento e complementar o processo com bioestimuladores de colágeno.

"Sejam bioestimuladores injetáveis, que temos vários no mercado, como tecnologias, como trações microfocadas, radiofrequências etc., para que a gente tenha resultados mais bonitos e naturais", orienta.

A harmonização facial não é mais uma tendência, segundo a dermatologista, mas sim a naturalização facial, com um resultado mais natural e bonito, com menos preenchimento e mais estímulo de colágeno. Contudo, a especialista destacou que o ácido hialurônico ainda é a substância preferida para realizar o procedimento de preenchimento.

"Principalmente pela sua segurança, pela previsibilidade dos resultados, pelo médico saber o que vai acontecer com aquele paciente, por ter antídoto para utilizarmos, caso a gente tenha algum tipo de complicação. É uma substância, sim, segura, em mãos habilidosas, em mãos que sabem o que estão fazendo", ressalta.

Atenção aos produtos utilizados

Marta Mascarenhas explicou que existem outras substâncias que eram utilizadas no passado, como o polimetilmetacrilato, hidrogel ou silicone industrial, que hoje são pouco empregadas. Contudo, ressaltou que ainda existem profissionais, principalmente os não habilitados, que ainda as utilizam bastante.

"São produtos mais baratos, mas que são extremamente perigosos, principalmente a longo prazo, por não termos antídoto, por não termos como tirar. E o risco de complicações também é maior, então cuidado com os produtos que são injetados em vocês", alerta.

A dermatologista afirmou também que existem várias opções de produtos bioestimuladores no mercado, que não são ácido hialurônico, mas que podem ter esse efeito levemente preenchedor.

"A escolha dessa associação do preenchimento com ácido hialurônico para refinamento e do bioestimulador que vai ser utilizado depende muito do formato do rosto, do que a pessoa deseja e também da visão estética e do conhecimento que o próprio dermatologista tem e passa para o seu paciente", pontua.

Alerta

A Sociedade Brasileira de Dermatologia emitiu um alerta, publicado no site oficial da entidade em outubro de 2023, destacando que as pessoas nunca devem realizar procedimentos estéticos invasivos com profissionais de fora da área médica, como esteticistas, enfermeiros, dentre outros.

Confira a nota na íntegra:

"A Sociedade Brasileira de Dermatologia, entidade médica com mais de 111(cento e onze) anos de existência, vem por meio desta circular alertar ao cidadão para que não realize procedimentos estéticos invasivos com profissionais não médicos.

Diariamente são veiculados nos jornais e redes sociais, notícias e entrevistas de profissionais não médicos como biomédicos, enfermeiros, esteticistas e outros, falando sobre a realização de procedimentos estéticos invasivos como a aplicação de toxina botulínica, preenchimento com ácido hialurônico, skinbooster, fios de PDO etc, como pode ser observado na matéria a seguir veiculada no jornal metrópoles: aqui. Este tipo de notícia ou matéria "jornalística" faz com que o cidadão acredite que estes profissionais não médicos possam realizar estes procedimentos invasivos, quando a lei diz o contrário.

Acontece que o cidadão comum não sabe que somente o profissional médico é quem possui a autorização legal, para realizar a indicação e execução de procedimentos estéticos invasivos como os já citados acima, de acordo com a lei 12.842/2013 (lei do ato médico).

Existe uma razão para que somente médicos possam realizar estes procedimentos, que é justamente a preservação da saúde dermatológica do cidadão, pois a formação médica e a especialização dão a este profissional o conhecimento necessário para identificar doenças ou outros fatores que contraindiquem a realização de procedimentos estéticos invasivos e tratar eventuais complicações ou intercorrências que advenham durante ou após o procedimento.

Diferentemente do que ocorre com outros profissionais não médicos, que além de não possuírem autorização legal para a prática destes procedimentos, também não saberão como reverter intercorrências ou tratar complicações durante ou após o procedimento.

É por esta razão que ao longo dos anos se observa o crescimento do número de pacientes em consultórios médicos, buscando reverter ou corrigir determinado procedimento estético invasivo que foi indevidamente realizado por biomédico, enfermeiro, farmacêutico, esteticista etc, portanto, se você deseja realizar qualquer procedimento estético invasivo em seu corpo busque sempre um atendimento com médico, assim você preserva sua saúde e será atendido por um profissional devidamente habilitando para a realização deste tipo de procedimento".

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Confira o podcast na íntegra: