A Faculdade Santa Casa realizou, nesta quinta-feira (5), um seminário sobre a formação médica no Brasil. O evento reuniu especialistas e representantes de instituições de ensino e saúde para discutir, no auditório do Hospital Santa Izabel, diretrizes relacionadas à avaliação, abertura, monitoramento e qualificação dos cursos de Medicina no país.

Na abertura, o diretor Técnico-Assistencial do Hospital Santa Izabel, Ricardo Madureira, destacou o compromisso da instituição com a excelência na educação médica.

“Treinamos e aperfeiçoamos muitas gerações de excelentes especialistas médicos. Este bom desempenho se deve a um conjunto de vetores. A qualificação de nosso corpo de orientadores que, somado à complexa estrutura hospitalar, assegura prestígio crescente à instituição”, afirmou.

Avaliação e políticas públicas na formação médica

A primeira palestra do seminário foi conduzida por Lorene Silva Pinto, médica e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com o tema “Formação Médica para o Brasil: onde estamos e para onde vamos?”.

A especialista integra o projeto Rever, que atua no fortalecimento de políticas públicas voltadas à abertura, avaliação e reconhecimento de escolas médicas e da educação médica no país.

Na sequência, uma mesa de debates reuniu o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), César Eduardo Fernandes, e o diretor de Ensino e Pesquisa do Hospital Santa Izabel, Gilson Soares. Este último pontuou o papel da instituição na consolidação do Programa de Residência Médica do Santa Izabel, considerado fundamental para o desenvolvimento da Medicina na Bahia e em âmbito nacional.

Os participantes discutiram desafios como a baixa qualidade acadêmica em parte dos cursos oferecidos, carência de atualização tecnológica e limitações no acesso a campos de prática. Também foram abordadas as dificuldades no controle de qualidade, problemas de avaliação eficaz, o avanço da judicialização e a necessidade de atualização curricular.

Conceito máximo no MEC, mas projeto indeferido

Durante o evento, o diretor Acadêmico da Faculdade Santa Casa, Tarcísio Andrade, destacou que em 2023 a instituição obteve nota máxima (5) do Ministério da Educação (MEC) na avaliação para criação de seu Curso de Medicina.

Apesar do resultado positivo, uma mudança normativa impediu novas autorizações na capital baiana, e o projeto foi indeferido. Segundo Andrade, a proposta contava com infraestrutura adequada, integração ao SUS e excelência acadêmica.

O professor também ressaltou o bom desempenho dos cursos já oferecidos pela instituição, como enfermagem, nutrição, psicologia e fisioterapia. Andrade reforçou que a Santa Casa mantém compromisso social, com 20% das vagas destinadas à gratuidade e formação integrada à rede pública de saúde.

Ao comentar o papel histórico da Santa Casa da Bahia no ensino da Medicina, Andrade destacou sua relevância na trajetória da educação superior no país.

“Ao longo dos séculos, a Santa Casa protagonizou momentos decisivos na estruturação do ensino médico brasileiro, sendo berço da primeira Escola Médica do país e responsável por impulsionar diversas instituições de referência”, afirmou.

Rotatividade de médicos na Atenção Primária ultrapassa 30%

Dados divulgados nesta segunda-feira (2) por um estudo conjunto da Umane, organização da sociedade civil voltada para a saúde pública, e do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que 33,9% dos médicos que atuavam na Atenção Primária à Saúde (APS) entre 2022 e 2024 deixaram seus postos no período. O fenômeno da alta rotatividade se concentra com mais intensidade em estados com menor Produto Interno Bruto (PIB) per capita.

A relação entre desenvolvimento econômico e permanência dos profissionais se evidencia nas comparações entre as unidades da federação. Estados como Rio de Janeiro, São Paulo e o Distrito Federal, que apresentam os maiores PIBs per capita do país, registraram os menores índices de saída de médicos da APS. Já no outro extremo, estados como Maranhão e Paraíba, com menor capacidade econômica, lideram os percentuais de evasão desses profissionais.

Os impactos da rotatividade elevada de médicos vão além da simples ausência de profissionais. A saída constante de integrantes das equipes compromete diretamente a continuidade do cuidado prestado às populações atendidas. A construção de vínculo entre os profissionais de saúde e os usuários do sistema um dos pilares da APS demanda tempo e constância. Quando há troca frequente de médicos, o processo de conhecer o paciente, acompanhar sua história clínica e estabelecer confiança é interrompido.