Rotatividade de médicos na Atenção Primária ultrapassa 30% e é maior em estados com menor PIB
Estudo revela disparidades regionais e impacto da saída de profissionais na qualidade dos serviços do SUS

Dados divulgados nesta segunda-feira (2) por um estudo conjunto da Umane, organização da sociedade civil voltada para a saúde pública, e do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que 33,9% dos médicos que atuavam na Atenção Primária à Saúde (APS) entre 2022 e 2024 deixaram seus postos no período. O fenômeno da alta rotatividade se concentra com mais intensidade em estados com menor Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
A relação entre desenvolvimento econômico e permanência dos profissionais se evidencia nas comparações entre as unidades da federação. Estados como Rio de Janeiro, São Paulo e o Distrito Federal, que apresentam os maiores PIBs per capita do país, registraram os menores índices de saída de médicos da APS. Já no outro extremo, estados como Maranhão e Paraíba, com menor capacidade econômica, lideram os percentuais de evasão desses profissionais. As Informações são da Agência Brasil.
Falta de fixação afeta vínculo entre equipes e comunidades
Os impactos da rotatividade elevada de médicos vão além da simples ausência de profissionais. A saída constante de integrantes das equipes compromete diretamente a continuidade do cuidado prestado às populações atendidas. A construção de vínculo entre os profissionais de saúde e os usuários do sistema um dos pilares da APS demanda tempo e constância. Quando há troca frequente de médicos, o processo de conhecer o paciente, acompanhar sua história clínica e estabelecer confiança é interrompido.
Esse rompimento prejudica não apenas o tratamento individual, mas a atuação integrada das equipes de saúde, que precisam reorganizar seus fluxos de trabalho, redistribuir demandas e lidar com a sobrecarga até a reposição do quadro profissional.
“Uma saída é sempre péssima, porque é rompida a continuidade com paciente, família, equipe e todo o território. Os estudos mostram que é preciso pelo menos um ano para eu começar a conhecer meu paciente. E para que o meu paciente comece a me reconhecer como médico dele. Para a gente começar a criar algum vínculo. Quanto mais se conhece o paciente, mais acertos, menos erros e maior satisfação, porque eu gero o melhor resultado”, diz Marcella Abunahman, médica de família e comunidade, e uma das autoras do estudo e pesquisadora do FGVsaúde.
Base de dados inédita reúne informações sobre a APS em todo o país
O levantamento reuniu dados públicos de diferentes plataformas, como o Datasus, Sisab, Vigitel, Sisvan, e-Gestor AB, Ipeadata e o sistema Sidra, do IBGE. Essas informações foram sistematizadas em um painel interativo disponível no site Observatório da Saúde Pública, criado para orientar gestores e formuladores de políticas públicas sobre os principais desafios e oportunidades na estruturação da APS no Brasil.
A base de dados permite cruzamentos entre indicadores econômicos e de saúde, possibilitando diagnósticos regionais detalhados. Entre os aspectos observados estão a cobertura de serviços essenciais, como o acompanhamento de gestantes e rastreios oncológicos, além da análise de internações por condições sensíveis à atenção básica aquelas que poderiam ser evitadas com um cuidado adequado desde o início.
“Apesar das limitações e inconsistências observadas em algumas informações, a base de dados proporciona um diagnóstico preliminar valioso, que pode orientar gestores e formuladores de políticas públicas na identificação de oportunidades de melhoria e no desenvolvimento de estratégias para o fortalecimento da atenção à saúde em todo o país”, disse Pedro Ximenez, cientista de dados da Superintendência de Estatísticas Públicas da FGV.
Desigualdades regionais continuam sendo um desafio
Entre os principais resultados do estudo, destaca-se que a meta de atender pelo menos 45% das gestantes com seis ou mais consultas pré-natais foi atingida em quase todas as regiões brasileiras no segundo quadrimestre de 2024. A exceção é a região Norte, que ficou abaixo do patamar esperado. Situação semelhante ocorre no rastreamento do câncer de mama, cuja meta de cobertura de 70% também foi alcançada apenas nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, ficando o Norte novamente fora do padrão.
No indicador de internações por condições evitáveis, a média nacional foi de 20,6% no período entre janeiro e outubro de 2024. A região Sul apresentou o melhor desempenho, com apenas 17,8%, seguida por Centro-Oeste (19,0%) e Sudeste (19,8%). Já o Norte (23,9%) e o Nordeste (22,4%) ficaram acima da média, indicando maior dificuldade na resolutividade dos problemas de saúde pela APS.
Cobertura vacinal segue abaixo do ideal
Outro dado preocupante do estudo refere-se à cobertura vacinal de crianças com menos de 1 ano de idade. Nenhuma unidade da federação conseguiu alcançar a meta de 95% preconizada pelo Ministério da Saúde. Alagoas e o Distrito Federal foram os estados que chegaram mais próximos do objetivo, com 87% de cobertura vacinal.
Esse cenário indica que, mesmo com avanços em algumas frentes, a Atenção Primária à Saúde ainda enfrenta barreiras importantes para alcançar sua plena efetividade em todo o território nacional. A baixa cobertura vacinal, aliada à alta rotatividade de profissionais e à desigualdade regional no acesso e na qualidade dos serviços, reforça a necessidade de políticas públicas mais direcionadas, que considerem os contextos locais e garantam a continuidade do cuidado.
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