Outubro Rosa: vacina contra o câncer de mama terá estudo realizado na Bahia
Atualmente, a doença é uma das principais causas de morte entre mulheres, e pesquisa busca mudar este cenário

O futuro traz esperança no combate ao câncer de mama, uma das principais causas de mortalidade entre mulheres. Pesquisas promissoras estão em andamento em instituições de renome, como as universidades de Harvard e Pittsburgh, focadas no desenvolvimento de vacinas que têm o potencial de revolucionar o tratamento da doença.
Os imunizantes utilizam a tecnologia de RNA mensageiro, que permite a síntese de proteínas específicas e emerge como uma inovação essencial, viabilizando a criação de produtos mais eficazes e personalizados.
O médico infectologista Roberto Badaró, PhD em Imunologia e Doenças Infecciosas, pesquisador-chefe e professor titular do Instituto Senai de Inovação em Saúde do Cimatc, é um dos profissionais à frente desse desenvolvimento. Ele está desenvolvendo uma vacina que promete ser um marco no tratamento do câncer de mama.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que 73.610 novos casos de tumor maligno de mama sejam registrados até 2025, com uma taxa de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres, e que a doença cause 18 mil mortes. Este tipo de câncer é a neoplasia que mais atinge a população feminina no Brasil, sendo as regiões Sul e Sudeste as que apresentam maiores índices de incidência e mortalidade.
Aproximadamente 15% a 20% das mulheres com tumor de mama têm uma proteína chamada Her-2. A vacina em desenvolvimento visa justamente agir contra esta proteína. “Nós sabemos que entre as mulheres que têm esse antígeno positivo, 86% podem ter tumor de cérebro, metástase cerebral. Mesmo entre as tratadas e operadas, 5% podem acabar tendo metástase. Existe uma vacina que está sendo desenvolvida em Seattle, pelo Dr. Steve Reed, que é capaz de bloquear essa proteína. Isso é o que estamos fazendo”, explica Badaró em entrevista ao Portal M!.
A maioria dos cânceres de mama está ligada a essa proteína. Quando ela é combatida, a redução do risco de recorrência é de 60%. “Não é difícil a gente fazer a expressão dessas proteínas [transformação em RNA] e construir a vacina aqui, reproduzir a vacina aqui. Nós temos uma parceria com o M. Biles, de Seattle, que é o detentor da patente desta vacina e eles escolheram nós aqui no Brasil para fazer os ensaios de fase 1 e 2 aqui com essa vacina”, explica o infectologista.

Roberto Badaró, médico e pesquisador baiano / Foto: Divulgação
Quatro fases da pesquisa da vacina
Os estudos de pesquisa clínica são realizados em quatro fases distintas, cada uma com objetivos específicos. A fase 1, por exemplo, é voltada para determinar a dose mais segura do imunizante. Inicialmente, experimentos são conduzidos em modelos animais para identificar uma dosagem que induza a formação de anticorpos sem apresentar toxicidade.
Uma vez determinada a dose adequada, os pesquisadores projetam um estudo aberto com voluntários saudáveis, testando várias dosagens, como 1 mg, 2 mg, 2,5 mg e 4 mg, para verificar qual delas resulta na maior produção de anticorpos com os menores efeitos adversos.
Após a identificação da dose ideal, a pesquisa avança para a fase 2, que se concentra na eficácia da vacina. Neste estágio, os participantes são divididos em dois grupos: um recebe a vacina e o outro, um placebo, como uma solução salina. O objetivo é demonstrar que o grupo vacinado apresenta proteção contra os antígenos circulantes, enquanto o grupo controle, não. Um resultado positivo nesta fase é crucial para a transição para a fase 3.
Na terceira etapa, também conhecida como Pivotal Trial, a companhia busca o registro do produto. Esta fase amplia a amostra, incluindo mulheres de diversas faixas etárias, como aquelas acima de 50 e 70 anos, assim como as que já tiveram câncer. O objetivo é verificar se a vacina mantém sua eficácia em diferentes grupos demográficos.
Caso os resultados sejam satisfatórios, o imunizante pode ser registrado e comercializado. A etapa final, chamada de fase 4, envolve estudos pós-comercialização para monitorar a segurança e a eficácia contínua da vacina na população.
“Aí já é a própria companhia que vende a vacina que vai fazer. É ver se houve algum efeito depois de longo tempo de uso diferente em algum paciente. Eu quero saber, por exemplo, se der a vacina em uma mulher que está com câncer se a vacina sozinha faz a redução da doença e impede metástase. Aí se fazem mil perguntas científicas”, explica Badaró.
Prazos para a pesquisa
O pesquisador frisa que não há prazos definidos para a realização de cada fase. À medida que os resultados vão aparecendo, a seguinte é iniciada. “Em geral, no estudo de fase 1, se o protocolo é bem desenhado, não leva mais de seis meses. O de fase 2, um ano. O de fase 3, um ano e meio a dois. O de fase 4, leva anos, dez, 20 anos”, pontua.
A pesquisa para cada patologia é feita de forma separada. Entretanto, é possível que ocorra a descoberta de benefícios a outras doenças. “Se depois, por exemplo, descobrir que essa vacina anti-Her2 pode ser usada para mulheres que têm câncer de fígado, por exemplo, aí você vai fazer uma pesquisa em cima disso, mas aí é o uso na população que vai fazendo as perguntas”, explica Badaró.
Estudo na Bahia
O primeiro passo do estudo é justamente identificar mulheres que têm o antígeno Her-2 e não sabem. Estas estão em risco de câncer de mama. “Olho o sangue dela e testo com o antígeno que eu tenho. Eu colho o sangue e tenho uma placa de teste sensibilizada com o Her-2, aí eu jogo o sangue dela na placa. Se ela tiver anticorpo, ela tem contato com o Her-2. Ou faço o contrário, que é o mais eficaz ainda. Ponho na placa o anti-Her-2 e tiro o sangue dela e vejo se ela está circulando o Her-2 no sangue dela”.
O processo é voluntário e as participantes precisam dar o consentimento após ratificarem que entenderam a pesquisa e querem contribuir. Segundo Badaró, o número de voluntários é surpreendente.
“É impressionante o número de pessoas que são voluntárias para pesquisas e participam. Eu já participei de várias pesquisas para um bocado de droga, eu fui voluntário. O altruísmo das pessoas em contribuir com isso é muito grande. Há pessoas que pensam: ‘ah, não vou participar, eu não sou animal de laboratório’. Isso aí é uma ignorância. Ele está contribuindo, a pesquisa é segura, não vai fazer mal nenhum, e ele mesmo, no futuro, pode ser um beneficiado”.
Vacinas como esperança contra câncer
As vacinas em estudo são uma grande esperança contra o câncer de mama. Um dos estudos, desenvolvido em Harvard, visa combater o tumor triplo negativo, que ocorre quando as células cancerígenas não têm receptores de estrogênio ou progesterona e não produzem a proteína HER2. Ele representa 15% dos casos de câncer de mama no mundo, sendo mais agressivo e mais frequente entre mulheres jovens, com menos de 40 anos.
Por ser mais agressivo, o câncer de mama triplo negativo não estimula respostas fortes do sistema imunológico, de modo que as imunoterapias não conseguem trata-lo com a eficiência desejada. Daí, a importância das pesquisas com vacinas.
A imunização, que ainda está em fase de testes, se mostrou capaz de destruir as células cancerígenas, tal como a quimioterapia, e de criar uma memória imunológica duradoura, assim como os tratamentos de imunoterapia. A pesquisa foi publicada na revista científica ‘Nature Communications’ e apresentou 100% de eficácia em camundongos com câncer de mama triplo negativo.
As chamadas vacinas contra o câncer estão sendo aplicadas em situações na qual a doença já está instalada. Ou seja, não têm ação de prevenção – como os demais imunizantes – mas sim de tratamento contra a patologia.
No entanto, trata-se de uma ótima notícia para as portadoras de câncer de mama triplo negativo. Isso porque, segundo o coautor do estudo, Hua Wang, o câncer de mama triplo negativo não estimula respostas fortes o suficiente do sistema imunológico, o que faz com que as imunoterapias existentes não consigam combatê-lo.
A vacina em estudo busca ter a efetividade da quimioterapia – para destruir as células doentes – e a eficácia duradoura da imunoterapia, que auxilia o sistema imunológico do paciente a identificar e combater o câncer. Com isso, a vacina une os dois procedimentos, porém em uma abordagem menos agressiva para a saúde da paciente.
Outubro Rosa incentiva o autocuidado
O tema da campanha do Outubro Rosa 2024 é ‘Mulher: seu corpo, sua vida’, num convite à reflexão sobre a importância do autocuidado para a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama.
O ‘autodiagnóstico’ é uma prática essencial para a detecção precoce da doença, que pode aumentar significativamente as chances de tratamento eficaz e recuperação. As mulheres são incentivadas a realizar autoexames regularmente, que envolvem a observação e palpação das mamas em busca de alterações, como nódulos, mudanças de textura, assimetrias ou secreções.
A prática, que deve ser feita mensalmente, complementa os exames clínicos e mamográficos, e pode ajudar as mulheres a se familiarizarem com a aparência e a sensação normais de suas mamas. A conscientização sobre a importância do autoexame, aliada às informações adequadas sobre como realizá-lo corretamente, pode capacitar as mulheres a buscar atendimento médico imediato ao identificar qualquer anomalia, promovendo assim a detecção precoce do câncer de mama.
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