A imunização infantil contra a meningite terá um reforço mais abrangente com a inclusão da vacina meningocócica ACWY no calendário de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS). A mudança, que começa a valer a partir da próxima terça-feira (1º), substitui a atual dose de reforço da meningocócica C, aplicada aos 12 meses de idade, por uma versão mais completa, capaz de proteger contra quatro sorogrupos da bactéria Neisseria meningitidis: A, C, W e Y.

Com a nova estratégia, crianças que já receberam as duas doses iniciais da vacina meningocócica C aos 3 e 6 meses seguirão com o reforço aos 12 meses, agora com uma proteção mais ampla. De acordo com o Ministério da Saúde, a atualização faz parte de uma ação alinhada às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o enfrentamento das meningites em escala global. As informações são da Agência Brasil.

Proteção ampliada diante de aumento de casos

A substituição da vacina ocorre em um contexto preocupante. A meningite continua sendo uma das doenças infecciosas com maior potencial de gravidade, especialmente entre crianças menores de cinco anos. Somente neste ano, o Brasil já contabilizou 1.980 casos de meningite entre janeiro e abril, resultando em 168 mortes. Desse total, 361 registros foram causados por meningococos, com 61 óbitos confirmados.

Na Bahia, o cenário também acende um alerta. O Estado notificou 49 casos de meningite até maio de 2025, com seis mortes confirmadas, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). Embora o número seja menor em relação a 2024, quando foram registrados 446 casos e 24 mortes, especialistas destacam que o risco permanece alto, principalmente pela dificuldade de diagnóstico precoce em crianças.

Por que mudar vacina de reforço?

O imunizante ACWY já estava disponível na rede pública, mas apenas para adolescentes entre 11 e 14 anos. A ampliação da faixa etária, agora incluindo bebês, representa um passo importante para conter o avanço de sorogrupos que têm aumentado nos últimos anos, especialmente o W.

“No Brasil, o sorogrupo que mais preocupa, além do C, é o W. A gente observou aumentos de incidência importantes, principalmente nos estados do Sul do país, recentemente. Então, essa mudança representa uma ampliação da proteção contra sorogrupos que são um risco, principalmente para as crianças”, explica a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo.

A nova dose só será aplicada como reforço. Crianças que já completaram o esquema de três doses com a vacina meningocócica C não precisam se revacinar. Já aquelas que perderam a dose de reforço aos 12 meses poderão completar o esquema com a vacina ACWY até os 5 anos de idade.

Sintomas exigem atenção imediata

A meningite bacteriana pode evoluir rapidamente e levar a complicações neurológicas, paralisias e até à morte. Entre os sintomas mais comuns estão febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez na nuca, náuseas, vômitos e confusão mental. Em bebês, os sinais podem incluir irritabilidade extrema, dificuldade para dormir e falta de apetite.

“O que vai chamar atenção para uma possível meningite é quando o indivíduo apresenta confusão mental, rebaixamento do nível de consciência, fica falando coisas desconexas, sem reconhecer familiares. No caso de bebês, pode ser uma irritabilidade forte e persistente”, alerta o infectologista Igor Thiago Queiroz, da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Vacinação continua sendo principal forma de prevenção

A principal forma de prevenir a meningite bacteriana é manter a vacinação em dia. O SUS oferece gratuitamente as vacinas Pentavalente, Pneumocócica 10-valente, Haemophilus influenzae tipo b (Hib) e, agora, a meningocócica ACWY para bebês.

Na rede privada, também estão disponíveis vacinas adicionais, como a meningocócica B e versões mais completas da pneumocócica (13-valente e 20-valente), que ampliam a proteção contra mais sorotipos.

Higiene adequada, como lavar bem as mãos e evitar contato próximo com pessoas doentes, também é essencial para reduzir o risco de contágio — já que a meningite pode ser transmitida por gotículas de saliva ao falar, tossir ou espirrar.

Avanço importante, mas atenção deve continuar

A nova medida é considerada um avanço na saúde pública e tem o potencial de salvar vidas, principalmente entre os grupos mais vulneráveis. No entanto, especialistas alertam que o sucesso da estratégia depende da adesão da população e do reforço contínuo das campanhas de conscientização.

Com quase 2 mil casos registrados nos primeiros quatro meses de 2025, a vigilância epidemiológica segue em alerta. E a mensagem dos profissionais de saúde é clara: manter a caderneta de vacinação atualizada é essencial para proteger as crianças contra a meningite e outras doenças graves.