Médico cirurgião chama a atenção para mitos sobre obesidade e alerta: ‘Não existe milagre, existe tratamento a longo prazo’
Segundo o especialista, a obesidade deve ser tratada como uma doença crônica, complexa e que exige um cuidado contínuo

Em entrevista ao programa De Olho na Bahia, da Rádio Mix Salvador (104.3 FM), nesta quarta-feira (11), o médico cirurgião bariátrico Creilson Campos fez um alerta direto à população sobre a banalização da cirurgia bariátrica e o uso indiscriminado de medicamentos para emagrecer, conhecidos como “canetinhas”.
Segundo o especialista, a obesidade deve ser tratada como uma doença crônica, complexa e que exige um cuidado contínuo. “Não existe milagre. A obesidade não tem cura, tem controle. E o indivíduo precisa entender que vai conviver com essa condição ao longo de toda a vida”, afirma.
Indicações e precauções
Durante a entrevista aos jornalistas Matheus Morais e Osvaldo Lyra, também editor-chefe do M!, Creilson explicou que a cirurgia bariátrica não é indicada para qualquer pessoa e precisa seguir critérios estabelecidos por órgãos como o Conselho Federal de Medicina, a Agência Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde.
“A cirurgia está indicada para pacientes com índice de massa corpórea acima de 35 que tenham doenças agravadas pela obesidade, como diabetes, hipertensão, apneia do sono e doenças hepáticas. Ou então para quem tem IMC acima de 40, mesmo sem comorbidades”, detalha.
Além disso, ele chamou a atenção para o fato de que a cirurgia bariátrica não pode ser vista como uma solução isolada. O tratamento da obesidade é multidisciplinar e exige a atuação conjunta de profissionais como nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e, em muitos casos, psiquiatras.
“Não adianta fazer cirurgia ou usar canetinha achando que vai ficar magro o resto da vida. Atividade física e reeducação alimentar são indispensáveis. É necessário pensar como magro, não como gordinho”, enfatiza o médico.
Cuidados com procedimentos para emagrecer
Segundo Creilson, há uma “febre” no uso de medicamentos injetáveis como Mounjaro e Ozempic, o que preocupa especialistas. Ele afirma que essas substâncias podem sim ajudar na perda de peso, mas alerta para o risco da automedicação e do uso indiscriminado, sem orientação médica.
“Essas medicações vieram para somar. Não se trata de escolher entre cirurgia e remédio. É preciso identificar, com ajuda profissional, o melhor caminho para cada paciente. E em muitos casos, o tratamento envolve as duas abordagens juntas”, diz.
O cirurgião reforça que há diferentes perfis de pacientes no tratamento da obesidade. Alguns respondem bem apenas com medidas não cirúrgicas, outros precisam de cirurgia combinada com medicação, e há os que não se adaptam ao uso das canetinhas e optam diretamente pela intervenção cirúrgica. “Cabe ao médico, que estuda e entende de obesidade, escolher o que é melhor para cada um. O que não pode é achar que cirurgia é simples, como quem vai na esquina comprar pão”, alerta.
Nos últimos anos, mudanças nas normas da cirurgia bariátrica também ampliaram o acesso ao procedimento no Brasil. A idade mínima, por exemplo, caiu de 16 para 14 anos, desde que haja autorização dos responsáveis e acompanhamento de um pediatra.
O médico lembra que também houve uma atualização nas técnicas cirúrgicas permitidas. Cirurgias ultrapassadas, como a banda gástrica ajustável e o método Escopinaro — que levava à desnutrição severa — foram retiradas do rol oficial de procedimentos. Em contrapartida, novas opções já praticadas na Europa e nos Estados Unidos passaram a ser adotadas no país, o que amplia as possibilidades de escolha para os cirurgiões e seus pacientes.
Apesar dos avanços, Creilson afirma que ainda há muito mito e desinformação em torno da cirurgia bariátrica. “Hoje, o procedimento é muito mais seguro. Equipamentos evoluíram, os profissionais estão mais capacitados, e sabemos como acompanhar melhor o paciente no pós-operatório. Mas é essencial que esse paciente entenda que a cirurgia é irreversível e demanda mudança real de estilo de vida”, pontua.
Conscientização
O profissional também alertou para as chamadas transferências de compulsão, que podem ocorrer após a cirurgia. Respondeu a uma ouvinte que relatou casos em que pacientes substituíram a compulsão alimentar por comportamentos compulsivos ligados a sexo ou álcool. “Isso é possível. A pessoa tem uma doença compulsiva, de fundo psiquiátrico. Por isso o acompanhamento psicológico e, em alguns casos, psiquiátrico, é tão importante”, reforça.
Outro ponto abordado foi o comportamento de pacientes que tentam “burlar” os efeitos da cirurgia, consumindo alimentos pastosos e altamente calóricos, como leite condensado, para driblar a restrição imposta ao estômago operado. “Infelizmente, isso existe. Muitos dizem que não sabem por que voltaram a engordar, mas não mudaram seu comportamento. Cirurgia nenhuma resolve isso sem mudança de mentalidade”, afirma.
Para o médico, o maior desafio ainda é a conscientização. “A gente precisa entender que a obesidade é uma doença grave, com alto custo para o sistema de saúde, e que exige um esforço contínuo. Cirurgia e remédio são ferramentas, mas o sucesso do tratamento depende de um compromisso com a saúde para a vida toda.”
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