A Santa Casa de Misericórdia da Bahia avançou em investimentos e ampliação de serviços ao longo de 2025, apesar das dificuldades econômicas enfrentadas pelo setor de saúde. Em entrevista ao Portal M!, nesta sexta-feira (27), o provedor da instituição, José Antônio Rodrigues, destacou que o Hospital Santa Izabel manteve desempenho estável e consolidou sua presença no mercado, mesmo diante da concorrência com redes privadas de grande porte.

“Tivemos muito investimento, mesmo num ano meio complicadinho, como tem sido esse ano, nem tanto quanto as receitas, a dificuldade de realizar essas receitas. O Santa Izabel consegue ter um desempenho muito bom, apesar desse processo concorrencial, somos dos poucos hospitais isolados, já que a gente está vivendo aí num sistema de redes“, destacou.

Segundo ele, um dos fatores mais importantes é a continuidade de atendimentos ao Sistema Único de Saúde (SUS). “É a nossa principal obrigação, e o atendimento dos beneficiários de Planserv, que ainda persiste, a gente tem continuado atendendo, apesar de muitos hospitais aí terem descredenciado, a gente continua garantindo isso“, frisou.

Entre as intervenções, José Antônio destaca a ampliação de leitos, que já chegam a mais de 100 de terapia intensiva. “Para um hospital como a Santa Casa, uma tradição de 475 anos na área hospitalar, o Santa Izabel mais de 130 anos de atuação, acho que a gente vem se posicionando bem”, considerou.

A concorrência com redes hospitalares de grande porte foi apontada como um desafio constante, devido à vantagem dessas estruturas em negociações e escala de compras. Para manter a competitividade, a Santa Casa tem buscado parcerias com outras instituições filantrópicas e hospitais independentes do país.

“É desigual, porque eles ganham em escala, têm uma sinergia que permite fazer compras em escala muito mais significativa, porque são muitos hospitais, imagina cada rede dessa, algumas delas com mais de 50 hospitais, o poder de aquisição, isso tudo barateando o sistema, de uma maneira geral. Mas, a gente vem conseguindo competir, de forma razoável, tentando nos associar a alguns hospitais do sul do país, isso é uma iniciativa importante que está começando agora”.

Infraestrutura e acesso ao Hospital Santa Izabel são ampliados

Entre as melhorias recentes, Rodrigues destacou a entrega de um novo estacionamento no Hospital Santa Izabel, localizado em Nazaré, além do início de obras para uma nova fachada e recepção, com previsão de conclusão até janeiro de 2026. O acesso ao hospital será feito por reconhecimento facial.

“Entregamos novo estacionamento, que era um grande problema do Hospital São Izabel, então quase que triplicamos o número de vagas, era uma queixa da população naquela área de Nazaré. Você tem acesso via o Vale de Nazaré, para esse novo estacionamento. Brevemente teremos uma nova fachada, mais bem distribuída, mas isso é uma obra que começamos agora“.

Segundo ele, até o início de 2026 a nova ala será finalizada e entregue. “Possivelmente em janeiro a gente já inaugura essa ala nova, recuperando aquele pavilhão antigo, bonito, inicial, original do Santa Izabel e reformulando todo o processo de acesso. O acesso vai ser via reconhecimento facial para todo mundo”.

Novas clínicas e expansão do atendimento ambulatorial

Além das obras no Santa Izabel, a Santa Casa ampliou sua presença com clínicas nos bairros do Rio Vermelho e Ondina, em Salvador. As unidades reforçam o atendimento de atenção primária e serviços especializados em saúde da mulher e tratamentos de doenças autoimunes.

“Praticamente dobramos os nossos serviços, criando um atendimento na área feminina, na área ginecológica e ampliando o nosso serviço de infusões, voltando pra artrite reumatoide, para essas coisas limitadoras de movimentos. Isso é interessante porque você tem um hospital bem situado com parque tecnológico invejável”.

Santa Casa lidera cirurgias robóticas no Nordeste

A instituição também fortaleceu sua posição na área de alta tecnologia, com destaque para a cirurgia robótica. A chegada do segundo robô cirúrgico consolidou o hospital como um dos líderes do setor no Nordeste, com quase 1.600 procedimentos realizados.

“Acho que é um fator preponderante. Infelizmente, os planos de saúde ainda não contratam cirurgia robótica e o SUS também está engatinhando nisso, mas eu acho que é uma questão de tempo essa tecnologia ser mais democratizada e isso permite também um processo de formação médica muito interessante”.

Além dos benefícios assistenciais, a cirurgia robótica tem contribuído para o fortalecimento do caráter de hospital de ensino da Santa Casa, especialmente nas atividades de pós-graduação e capacitação de novos profissionais.

“Isso é bastante interessante porque formata nossa área de pós-graduação e dá uma qualidade a nossa nosso compromisso de ser um hospital de ensino. Acho que essas novidades são importantes e agora vencer aí essas dificuldades junto às fontes pagadoras para que elas agilizem o processo”.

Atrasos de pagamento desafiam sustentabilidade da instituição

Um dos principais obstáculos enfrentados pela Santa Casa tem sido o atraso nos pagamentos por parte das operadoras de saúde. Conforme o provedor, algumas fontes chegam a demorar até 140 dias para realizar os repasses, o que compromete o fluxo financeiro da entidade.

“Algumas fontes pagadoras estão demorando 140 dias após a alta do paciente para realizar efetivamente o pagamento pleno”, lamentou.

Apesar da demora nos repasses, a Santa Casa conseguiu manter sua sustentabilidade financeira, optando por linhas de crédito de longo prazo e evitando endividamentos no curto prazo. O modelo tem permitido honrar compromissos sem comprometer o patrimônio da instituição.

“Temos conseguido fazer isso com sustentabilidade, para uma filantrópica é um caso rápido, mas estamos fazendo isso. Não temos dívida no curto prazo, isso foi um fato importante, a gente conseguiu consolidar isso, nos organizarmos com financiamento de longo prazo, de 10 anos, com um grande período de carência e a gente tem conseguido honrar isso sem comprometer o patrimônio da casa. Isso é muito importante”.