A hipoglicemia — popularmente conhecida como “queda de açúcar” — é uma condição comum, mas muitas vezes mal compreendida. Por ser confundida com outros problemas ou tratada de forma descuidada, o diagnóstico pode demorar, aumentando os riscos à saúde.

Segundo Ramon Marcelino, endocrinologista do Hospital das Clínicas da USP e do Hospital Sírio-Libanês, o quadro ocorre quando a concentração de glicose — principal fonte de energia do corpo — cai abaixo do normal, geralmente para menos de 70 mg/dL.

“Pacientes com diabetes têm risco muito maior de ter hipoglicemia. Isso acontece tanto por causa da doença, que altera o controle da glicemia, quanto pelo tratamento com medicamentos como a insulina”, explica o médico.

Quem pode ter hipoglicemia?

A condição não afeta apenas pessoas com diabetes. Segundo Marcelino, há outras causas possíveis.

“Uma delas é a cirurgia bariátrica, já que a digestão muda completamente. Outra, mais grave, são os tumores no pâncreas, que fazem o órgão secretar insulina em excesso, mesmo em jejum”, detalha.

Principais sintomas

Os sinais mais comuns da hipoglicemia incluem visão turva, cansaço, fome intensa, suor frio, confusão mental, desmaios e até coma, dependendo da gravidade e da frequência das quedas de glicose.

“O cérebro é o primeiro a sentir a falta de glicose, já que ele depende quase totalmente desse combustível”, destaca o endocrinologista.

Tratamento da hipoglicemia

O tratamento depende da causa. Quando há origem genética, os médicos costumam prescrever medicamentos como diaçãoxido e octreotida, que reduzem a liberação de insulina pelo pâncreas.
Nos casos relacionados à cirurgia bariátrica, o foco é mudar hábitos alimentares — evitando, por exemplo, ingerir grandes quantidades de doces ou líquidos de uma só vez.

Em situações mais graves, como insulinoma (tumor raro que produz insulina em excesso), a cirurgia pode ser indicada.

Beber água com açúcar ajuda?

Sim. Uma das medidas de emergência é tomar um copo de água com uma colher de sopa de açúcar. Refrigerante comum (200 ml) ou suco de laranja natural também podem ser usados para elevar rapidamente a glicose no sangue.

Dietas restritivas podem causar hipoglicemia

De acordo com Paulo Miranda, coordenador da Comissão Internacional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), dietas muito restritivas aumentam o risco, mesmo em pessoas sem diabetes.

“A falta de reserva de carboidratos e doenças como insuficiência hepática ou renal reduzem a capacidade do corpo de produzir glicose”, explica.

Tremor e tontura sempre significam hipoglicemia?

Nem sempre. Esses sintomas também podem estar ligados à queda de pressão, ansiedade, desidratação ou efeitos colaterais de medicamentos. Por isso, é essencial investigar a causa correta antes de se automedicar.

Ozempic e Mounjaro podem causar hipoglicemia?

Sim, embora seja muito raro. Segundo Marcelino, os casos ocorrem em menos de 5% dos pacientes, e mesmo pessoas com hipoglicemia pós-bariátrica podem usar essas medicações sob orientação médica.

Hipoglicemia pode indicar tumor no pâncreas

Alguns tumores, chamados insulinomas, produzem insulina em excesso e causam hipoglicemia, especialmente durante o jejum. O tratamento mais comum é a remoção cirúrgica do tumor.

Ficar sem comer é a principal causa?

Não. No Brasil, a causa mais frequente é a hipoglicemia pós-bariátrica, também conhecida como dumping tardio — quando o açúcar dos alimentos é absorvido muito rápido, provocando picos e quedas bruscas de glicose.

É um problema simples?

Não. A hipoglicemia pode ser grave, pois aumenta o risco de acidentes, convulsões, arritmias, infartos e até déficits cognitivos e de memória. O diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações.

Causas genéticas também estão entre os fatores

Pesquisas brasileiras apontam que mutações genéticas no receptor de insulina podem levar ao desenvolvimento da hipoglicemia. Por isso, identificar os sintomas e procurar ajuda médica é fundamental para um tratamento eficaz e seguro.