O uso excessivo de telas é uma preocupação crescente entre profissionais de saúde mental. Isso porque o aumento nas estatísticas pode estar associado a vários casos de consequências negativas, como ansiedade e depressão, mas também a episódios de dificuldades de concentração e problemas no sono. Para entender melhor a questão, o Portal M! ouviu especialistas no assunto, que alertaram sobre como essa prática pode afetar negativamente a vida das pessoas, impactando suas relações pessoais, produtividade e bem-estar geral.
Segundo o psicólogo Sergio Manzione, existem diversos fatores que podem ocasionar o uso excessivo das telas, sendo que o principal deles pode estar relacionado ao medo da rejeição e do abandono. “Então, eu preciso buscar na internet referências de como as pessoas estão sendo aceitas, ou seja, quais os padrões que estão sendo estabelecidos, para que eu possa tentar chegar neles. A gente vê na internet sempre pessoas maravilhosas, corpos maravilhosos, pessoas bem sucedidas, o que vai criando um padrão que pode até existir, mas para uma minoria”, alertou.
Outro problema, segundo o especialista, está no “incentivo ao uso das telas”, inclusive nos casos em que pais inserem os dispositivos na rotina dos filhos. “Já começa desde a infância, quando os pais usam as telas, usam o celular, para acalmar os filhos. Esses pais não estão tendo mais condições de lidar com os filhos, de forma a limitar, colocar esses limites e dizer onde pode, onde não pode, o que deve, o que não deve fazer. Os filhos estão sendo criados sem aprender a lidar com as frustrações”, observou.
Questionado se o uso das telas poderia estar ligado ao medo das pessoas de ficarem incomunicáveis, Manzione pontuou que essa condição pode estar associada ao temor de ser rejeitado.
“Ao medo de não ser mais contactado por ninguém e sentir aquela solidão, sentir o abandono, que é um medo geral das pessoas, é um medo que está relacionado a todos os seres humanos. Um raciocínio bem linear seria: se ninguém está se comunicando comigo, se ninguém está falando comigo, então eu estou isolado. Se eu estou isolado, eu sou rejeitado, e se eu estou rejeitado, eu estou abandonado. E isso vai gerar um medo. Uma profunda dor emocional, um sofrimento bastante grande”, observou.
Principais sintomas do uso excessivo de telas
O uso excessivo de telas pode apresentar também diversos sintomas entre as pessoas, conforme explicou o psicólogo. Segundo ele, um dos principais é o isolamento. Há sempre “a frustração e a ansiedade por não estar ali fazendo aquilo”, lembra o especialista. “Então, qualquer outra atividade, ela vai tentar fazer muito rápido, ela vai tentar se livrar logo, uma conversa curta e vai se tornar uma pessoa voltada para aquelas telas”, explica.
Há ainda, entre os sintomas do excesso, a possibilidade de dificuldades de comunicação, irritabilidade, medo, falta de sono, dificuldades no trabalho, na escola, além de prejuízo às relações sociais.
“O uso das telas em excesso, como a gente vive, traz uma grande contradição na área de comunicação. A gente se afasta cada vez mais das pessoas de perto, com a falsa sensação de que está se aproximando das pessoas de longe. Isso causa um isolamento social e uma coisa meio louca de que, no meio de tanta gente, nunca nos sentimos tão sós. Tem uma doença nova que se chama nomofobia.. O que seria nomofobia? É o medo ou ansiedade pela falta do uso do celular”, alertou o psicoterapeuta Victoriano Garrido.
Possíveis causas do uso excessivo de telas
Entre as possíveis causas para o aumento do uso das telas está a portabilidade do trabalho, através do home office, conforme o psicoterapeuta. Isso ocorre porque, segundo ele, o uso recreativo tem se confundido com o utilitário (uso ligado ao trabalho).
“Inclusive com esse uso simultâneo, muitas pessoas falam que não conseguem produzir muito, porque quando está no meio do trabalho, já tem aquele meio ‘TOC’ para ver o que está acontecendo nas redes sociais, se caiu uma mensagem de WhatsApp, e ele vai ter que ver.”.
Uma recomendação do especialista é que, após o uso laboral das telas, que tecnicamente seria de 8 horas, se fique no máximo duas horas ao celular.
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