"Chamar de revanchismo é típico de quem não entendeu a complexidade do racismo", diz Silvio Humberto

Vereador e ativista falou ao Podcast do Portal M! sobre as ações em busca de equidade para a população negra

Por Bruna Ferraz
05/11/2023 às 14h00
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Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

O vereador de Salvador, Silvio Humberto (PSB), convidado deste episódio do Podcast do Portal M!, falou sobre a sua luta antirracista e as ações promovidas na busca de equidade para a população negra brasileira. Além de político, Silvio é formado em Economia pela Universidade Católica de Salvador (UCSal) e professor da Universidade Federal de Feira de Santana (Uefs).

Em 1992, Silvio Humberto fundou, ao lado de parceiros, o Instituto Cultural Steve Biko, uma organização sem fins lucrativos de promoção educacional de jovens negros e negras, contribuindo para o seu ingresso nas universidades. O instituto recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos em 1999.

O investimento que a família fez na sua educação foi destacado pelo professor como o fator decisivo para a sua "virada de chave" quanto ao entendimento de quem ele era e pelo o que deveria lutar.  

Em 2004, antes de ser vereador, Silvio integrou o grupo que elaborou o Programa de Ações Afirmativas, a chamada política de cotas, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Para Silvio, foi um marco na abertura de portas para que o povo negro pudesse ocupar espaços, o que ele  considera ser a forma efetiva de distribuição de poder e de valorização desse grupo.

Sobre as críticas aos chamados movimentos identitários, que partem sobretudo do meio acadêmico, ao considerar "revanchista" a atitude atual dos militantes negros, Silvio Humberto destacou que essa é a postura de quem não compreende os mecanismos complexos e profundos que existem por trás do racismo.

"Chamar de revanchismo [a luta do negro] é típico de quem não entendeu a complexidade do fenômeno racismo, que confunde racismo com preconceito, e não entende que quando nós afirmamos a questão racial, nós estamos afirmando algo que vai para além da nossa identidade, estamos nos afirmando enquanto ser humano. Porque a primeira coisa que o racismo nos tira é a nossa humanidade", afirmou.

Silvio Humberto destacou que o fenômeno do racismo é tão influente no funcionamento das estruturas sociais que ele vem antes de outros elementos.

"O sexismo e outras iniquidades são considerados em segundo plano. Não dá para você entender essa realidade a partir de um olhar onde se considera, por exemplo, a pobreza dentro de um caráter unidimensional. Ou você considera esse caráter multidimensional para entender a luta que se trava hoje, ou simplesmente nós vamos continuar andando em círculos, sobretudo no que envolve a justiça social", completou o ativista.

Segundo o vereador, aqueles que colocam a luta do povo preto como revanchismo estão apenas reeditando o mito da democracia racial, no qual se afirma superficialmente que o negro já conquistou o seu lugar de respeito dentro da sociedade, ignorando assim as muitas discrepâncias que essa parcela da população vive em comparação com não negros.

Sobre o antirracismo

Segundo Silvio Humberto, ser antirracista - ou seja, assumir um papel de oposição efetiva ao racismo, não apenas de discordância - é uma consequência da sua luta como militante negro.

"Eu diria que ser um militante negro, não só aqui dentro da diáspora, é você entender, pegando as palavras de Ella Baker, uma militante negra dos Estados Unidos, que quem luta por liberdade não descansa nunca. Só que a população brasileira, sobretudo a população branca, precisa entender que a luta contra o racismo não é específica da população negra, indígena e de outros que são discriminados. É uma luta da sociedade brasileira, e precisa ser abraçada, entendida, criadas possibilidades com todos os envolvidos. Esse país não vai a lugar algum enquanto não enfrentar o racismo devidamente", reforçou.

Confira o podcast na íntegra