Silvio Humberto aponta a educação como instrumento de mudança para a população negra

"O movimento negro é que me dá a régua, o compasso e esse nível de consciência que venho aprimorando", declarou o vereador ao Podcast do Portal M!

Por Bruna Ferraz
05/11/2023 às 08h00
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Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Nascido e criado em Salvador, mais precisamente nos bairros Fazenda Garcia, Garibaldi e Federação, o vereador Silvio Humberto (PSB) pauta a sua atuação, seja como político, como economista ou como professor, na luta antirracista. Como homem preto, ele compreende que a ocupação dos diversos espaços sociais pelo povo negro, incluindo os redutos de poder, é que vai possibilitar que este grupo viva em condições melhores.

Formado em economia pela Universidade Católica de Salvador (UCSal), Silvio Humberto é professor da Universidade Federal de Feira de Santana (Uefs) e servidor público do município de Salvador. Em 2004, integrou o grupo que elaborou o Programa de Ações Afirmativas, a chamada política de cotas, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Eleito vereador posteriormente, em 2016, ele segue atuando em causas de equidade para o povo preto, por compreender que as lacunas a serem preenchidas ainda são grandes.

Na sua participação no Podcast do Portal M!, dentre os assuntos abordados, Silvio Humberto falou sobre o despertar da sua consciência de pertencimento, que, segundo ele, veio da sua família, das conversas que tinha com os pais e da rua onde cresceu.

"Só depois é que você vai entender aqueles elementos, a forma como as pessoas se ajudavam, o espírito comunitário presente, que depois você pode dar a denominação de quilombola. As pessoas que são pobres, que vivem em periferias dentro do centro da cidade, percebem como cada um se ajuda, o problema de um é o problema de todos, a ideia de que a comunidade educa, que vai desde quando você toma a bênção do mais velho. Eu acho que esses são alguns elementos que, quando você vem para a construção da sua consciência política, isso é dado pelo movimento negro [...] Resumindo, eu diria que esse é o movimento negro que me dá a régua, o compasso e esse nível de consciência que venho aprimorando, essa consciência política", disse o ativista.

Educação como alternativa

Silvio Humberto destacou que o estudo foi a sua primeira atitude revolucionária após se compreender como um homem preto que precisava lutar por essa parcela da população. Hoje ele compreende que essa iniciativa dos seus pais, de investirem na sua educação, foi uma decisão política e determinante na ascensão social da família.

A educação como chave da mudança não só foi vivenciada por Silvio Humberto, que entrou na universidade aos 17 anos, como também é incentivada diariamente por ele. Em 1992, ao lado de companheiros, ele fundou o Instituto Cultural Steve Biko, uma organização sem fins lucrativos, que tem como objetivo promover a educação de jovens negros e negras, contribuindo para o ingresso de milhares deles nas universidades.

Em 1999, o instituto, que hoje é reconhecido nacional e internacionalmente, foi contemplado com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos.

"O Instituto Cultural Steve Biko é um grande exercício do 'aprender fazendo' e de continuidade das lutas travadas individualmente e coletivamente pelo movimento negro, que sempre entendeu que este é o caminho para a ascensão social da população negra. O enfretamento do racismo não tem saídas individuais, as saídas precisam ser coletivas [...] Nós pegamos aquela lança que Zumbi jogou para o alto para dar continuidade à luta e não cair na mão dos inimigos", descreveu.

Confira o podcast na íntegra: