Ministério da Saúde incorpora ao SUS novo tratamento contra efeitos do AVC

No primeiro semestre deste ano, foram 56.320 mortes pela doença, número acima das vítimas de infarto e Covid-19

Por Por Redação e Estadão Conteúdo
12/08/2022 às 22h17
  • Compartilhe
Foto: Marcelo Casal Jr / Agência Brasil
Foto: Marcelo Casal Jr / Agência Brasil

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou nesta quinta-feira (11) na abertura do Global Stroke Alliance - for Stroke without Frontiers, congresso médico destinado a debater sobre o Acidente Vascular Cerebral (AVC), que a trombectomia, tratamento utilizado na fase aguda da doença, será incluída nos procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS).

Especialistas destacam a importância da inclusão do tratamento, já disponível na rede privada, mas lembram da necessidade de infraestrutura dos hospitais e de capacitação das equipes para realizar o procedimento.

Uma das principais causas de morte, incapacitação e internações no mundo, o AVC ocorre quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea.

No primeiro semestre deste ano, foram 56.320 mortes, número acima das vítimas de enfarte (52.665) e covid-19 (48.865), de acordo com o Ministério da Saúde.

Complexo e especializado, o tratamento consiste na inserção de um cateter no vaso sanguíneo do paciente para remover o bloqueio no vaso e restaurar o fluxo sanguíneo para a área afetada. A trombectomia é recomendada para a remoção do coágulo em vasos grandes, como artéria cerebral média, carótida, vertebral ou basilar.

 

Redução de danos

A trombectomia é capaz de reduzir danos neurológicos graves, na avaliação da neurologista Sheila Martins, uma das autoras do estudo sobre a inclusão da trombectomia no SUS e que foi publicado no The New England Journal of Medicine em 2020.

"É um tratamento que já estava disponível na rede privada e que pode salvar vidas e diminuir sequelas", diz a presidente da Rede Brasileira de AVC e professora de Neurologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Pacientes afásicos, com distúrbio grave da linguagem, ou comprometimento motor, por exemplo, podem ter sequelas reduzidas, mas é fundamental que o atendimento seja feito nas primeiras horas após o AVC, alertam os neurologistas.

A tecnologia deve estar completamente implementada no SUS até o fim deste ano. O próximo passo é concluir a terceira fase do plano, que é a oferta nos hospitais especializados. Os critérios de escolha dos locais serão os indicadores de cada hospital, como dados de mortalidade por AVC, tempo de internação no hospital, reinternações, pacientes que são tratados com trombolíticos e a experiência dos médicos.

Hoje, quatro hospitais públicos (em São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Ceará) já oferecem o tratamento, mas ele é custeado pelo próprio hospital ou pela Secretaria Estadual de Saúde. O tratamento custa de R$ 15 mil a R$ 20 mil.

 

Infraestrutura necessária 

Gisele Sampaio Silva, neurologista e pesquisadora clínica do Hospital Albert Einstein, calcula que 10% dos pacientes com AVC agudo terão necessidade de tratamento com trombectomia mecânica. "Isso traz a chance de reduzir a incapacidade dos pacientes a longo prazo", destaca.

Por outro lado, a adoção do procedimento deve ser acompanhada da presença de profissionais capacitados, como um neurorradiologista intervencionista, responsável pela cirurgia.

De acordo com o Ministério da Saúde, o País tem 88 centros que realizam o tratamento especializado no AVC, mas não são todos que terão essa tecnologia em um primeiro momento. "Temos 20 hospitais já avaliados no estudo e pretendemos começar por eles. Estamos visitando outros hospitais para ampliar essa rede de centros especializados", diz Sheila Martins.

 

Sobre o AVC

Existem dois tipos de AVC, o hemorrágico e isquêmico. No AVC hemorrágico, ocorre o rompimento de um vaso cerebral, provocando hemorragia, que pode acontecer dentro do tecido cerebral ou na superfície entre o cérebro e a meninge. É o responsável por 15% dos casos, mas pode ser mais letal que o AVC isquêmico.

O AVC isquêmico, por sua vez, ocorre quando há obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de oxigênio para células cerebrais, que acabam morrendo. Essa obstrução pode acontecer por causa de um trombo (trombose) ou de um êmbolo (embolia).