Endometriose é tratada com hormônios e até cirurgia, afirma especialista

Renata Britto, ginecologista da AMO e convidada do Podcast do M!, explica por que alguns casos, como o de Anitta, exigem operação

Por Bruno Brito e Bruna Ferraz
17/07/2022 às 14h00
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Foto: Divulgação
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Recentemente, a cantora Anitta usou as redes sociais para revelar que tem endometriose. Além do diagnóstico, o que chamou a atenção foi o relato da artista, que afirmou ter sofrido por diversos anos com dores fortes sem saber a causa. Além disso, Anitta adiantou que o tratamento da doença será cirúrgico.

Neste episódio do Podcast do Portal M!, a ginecologista Renata Britto, graduada em medicina pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), com mestrado e pós-doutorado em Medicina e Saúde, explica que no caso da cantora houve a necessidade da cirurgia, mas este procedimento não é indicado para todas as mulheres - depende da apresentação clínica da doença.

De acordo com a especialista, existem outras formas de tratamento. Renata também é professora associada de ginecologia da Ufba, supervisora do Programa de Residên cia Médica em Endoscopia Ginecológica e chefe da Unidade de Atenção à Saúde da Mulher do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hospital das Clínicas).

"No caso dela [Anitta], vai haver uma abordagem cirúrgica relacionada ao foco de endometriose na bexiga. Eventualmente, vamos ter necessidade de abordagem cirúrgica na bexiga, no intestino, no peritônio. Uma indicação frequente é quando a paciente tem endometrioma, que é a formação de um grande cisto ovariano, que não regride com tratamento hormonal, precisa ser operado para a retirada desses focos, com laparoscopia", explica a ginecologista, que também atende na clínica AMO.

Outra alternativa para o tratamento é o uso de hormônios. Isso porque, para a endometriose surgir e progredir, são necessários os hormônios liberados todo mês nos ciclos ovulatórios. Segundo a ginecologista, é por isso que a primeira linha de tratamento das pacientes com endometriose é bloquear os ciclos ovulatórios.

"Então, se a paciente usa qualquer terapia hormonal, pílulas contraceptivas, DIU's, implantes contraceptivos, qualquer um desses tratamentos hormonais, que vise bloquear a ovulação, será um bom tratamento para endometriose. Já aquelas mulheres que têm a doença mais avançada, que têm dor mais intensa, que têm a presença de cistos ovarianos, irão necessitar também de abordagem cirúrgica. Mas o bloqueio da ovulação, a interrupção dos ciclos ovulatórios, é fundamental para que a doença seja paralisada", explica.

 

Retirada de ovários e útero

Já quanto a possibilidade da retirada dos ovários como tratamento para a endometriose, a especialista aponta que ela não é feita porque pode causar, entre outros problemas, a infertilidade, sendo indicada apenas em casos excepcionais.

"Seria uma alternativa porque você retira os ovários, tira a produção hormonal, e a doença desaparece. Mas não é feita porque a retirada dos ovários vai tornar a mulher infértil e porque vai trazer outras consequências relacionadas à falta dos hormônios. Então a retirada dos ovários é vista hoje como uma abordagem incomum, feita apenas em casos muito excepcionais, muito específicos, quando outras abordagens não podem ser utilizadas", explica.

A ginecologista acrescenta que a retirada do útero não faz com que a endometriose desapareça. "É uma questão importante, porque a endometriose, apesar de ser a presença desse tecido endometrial, não vai desaparecer se a paciente for submetida a retirada do útero", afirma.

 

Confira o podcast na íntegra: