Ginecologista chama atenção para sintomas e sinais de alerta da endometriose

Convidada do Podcast do Portal M!, Renata Britto afirma que cólicas menstruais intensas e dores durante as relações sexuais devem ser investigadas

Por Bruno Brito e Bruna Ferraz
17/07/2022 às 08h00
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Foto: Divulgação
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Cólicas menstruais intensas, dores durante a relação sexual, além de incômodos e sangramentos intestinais e urinários durante a menstruação podem ser alguns dos sinais da endometriose, doença que acomete 15% das mulheres ou sete milhões no Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A enfermidade atinge uma a cada dez mulheres em idade reprodutiva, com idade entre 15 e 45 anos, e afeta 176 milhões de cidadãs no mundo, sendo responsável pela metade dos casos de pacientes que não conseguem engravidar.

Convidada deste episódio do Podcast do Portal M!, a ginecologista Renata Britto, graduada em medicina pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), com mestrado e pós-doutorado em Medicina e Saúde, aponta que, diferente do que se imagina, a menstruação não pode ser um período doloroso, de grande sofrimento.

Atualmente, Renata é professora associada de Ginecologia da Ufba, supervisora do Programa de Residência Médica em Endoscopia Ginecológica e chefe da Unidade de Atenção à Saúde da Mulher do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hospital das Clínicas).

A ginecologista é categórica ao falar sobre o tema: segundo ela, qualquer mulher que menstrua e tem cólica deve ser investigada para endometriose.

Caracterizada pela presença do tecido endometrial fora do útero, a endometriose acontece quando esse tecido começa a migrar para fora do útero, em direção aos ovários e à cavidade abdominal.

"No passado, as pessoas ainda tinham essa ideia de que toda menstruação causava dor, de que era normal a menina, logo depois das menstruações, ter essas queixas de muita cólica menstrual. Na maioria das vezes, uma cólica intensa, uma dor pélvica que permanece, mesmo depois do período menstrual, e também aquelas mulheres que tem dor durante a relação sexual, esses sintomas são característicos de endometriose", destaca a médica, que atende na clínica AMO.

A ginecologista reitera que não é normal a paciente apresentar cólica tão intensa nos ciclos menstruais a ponto de liminar a realização de suas atividades habituais.

"Toda mulher que sente dor no período menstrual, e que tem qualquer restrição no dia a dia, precisa se investigada e tem grandes chances de ter endometriose", completa.

 

Sinais de alerta

Diante da possibilidade de estar presente em outros órgãos, e não apenas no abdômen ou no peritônio, a endometriose pode apresentar sintomas característicos, dependendo da localização.

"Por exemplo, o sistema urinário pode ser acometido pela endometriose, e a paciente pode ter sintomas relacionados à micção. Então ela pode ter dor ou dificuldade ao urinar, principalmente, no período menstrual. Ela pode ter urina com sangue, avermelhada. Ela pode ter alterações ao trato digestivo, dor ao defecar, sangramento nas fezes, dificuldade em defecar, aquele mal estar", aponta.

Segundo a especialista, embora seja mais raro, a doença também pode surgir em outros lugares.  "Temos casos mais raros, de endometriose no pulmão, fígado, cérebro. Então, às vezes, temos casos mais incomuns e que trazem sintomatologia relacionada ao período menstrual. Se a paciente tem um sintoma que aparece sempre quando está menstruada, é sinal de alerta", explica.

 

Fatores de risco

A presença da endometriose pode ter relação com alguns fatores de risco, como o histórico familiar. De acordo com a ginecologista, trata-se é um dado muito importante para se levar em consideração. "Aquela mulher que a mãe, avó, tia ou irmã tem ou tiveram endometriose tem uma chance maior", afirma.

Outro fator comum, segundo Renata, é a mulher postergar muito a gravidez e ter poucas gestações ao longo da vida.

"Isto porque a endometriose é nutrida pelos hormônios do ciclo ovulatório. Então aquela mulher que menstrua com 11 ou 12 anos de idade, e vai engravidar com 35 ou 37 anos, passa muitos anos e muitos ciclos ovulatórios, com níveis hormonais elevados. Isso faz com que a doença progrida, fique mais grave e cada vez mais comum", ressalta.

Para a especialista, como hoje em dia as mulheres deixam para ter filhos mais tardiamente, a endometriose tem sido cada vez mais frequente.

"Elas têm poucas gestações, com um, dois, três filhos, isso faz com que a endometriose tenha se tornado uma doença cada vez mais frequente. E os estudos mostram que a frequência da endometriose é maior hoje do que no passado. Pode ser que seja ainda maior no futuro, por conta desse fator de risco tão importante, que é a não gestação e as gestações tardias", concluiu.

 

Confira o podcast na íntegra: