Fundador da Editora Noir afirma que recebe e-mails de influenciadores cobrando para elogiar livros

Convidado deste episódio do Podcast do M!, Gonçalo Jr. avalia que há muitas pessoas despreparadas no mercado

Por Bruna Ferraz e Bruno Brito
19/06/2022 às 08h00
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Foto: Reprodução/Jornal Correio
Foto: Reprodução/Jornal Correio

Influenciadores digitais têm ganhado espaço e visibilidade nas redes sociais, e isso preocupa o  jornalista Gonçalo Júnior, fundador da Editora Noir. Convidado deste episódio do Podcast do Portal M!., ele aponta que o principal problema se dá quando a atividade é desempenhada por pessoas despreparadas.

Um dos reflexos disso, segundo Gonçalo, está no fato de ele já ter recebido diversos e-mails com propostas financeiras feitas por influenciadores digitais em troca de elogios às obras da sua editora.

"Não foram poucas as vezes em que recebi e-mails de propostas de influenciadores digitais, querendo cobrar para elogiar livros da editora. Isso não é jornalismo. [...] Hoje em dia, se você quiser que mostre a capa do livro é R$ 500, se quer que entreviste o autor do livro, tem que pagar R$ 1 mil, se quer que elogie, é outro valor", descreve Gonçalo.

Para ele, há uma grande crise no jornalismo profissional atualmente, com a contribuição da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que acabou com a exigência do diploma para desempenhar a atividade.

"Acho que jornalismo tem que ser feito com responsabilidade. Até o começo deste século, todas as publicações tinham que trazer um jornalista responsável, no sentido de se responsabilizar por aquele conteúdo. Por que médico, engenheiro, arquiteto tem que ter diploma, e e não o jornalista?", questiona.

De acordo com Gonçalo, escrever bem - ou até mesmo fazer biografias - é uma coisa, enquanto escrever notícias é algo totalmente diferente. "Isso traz responsabilidade, preceitos éticos e morais", define.

O dono da Noir destacou ainda, que durante a graduação, o profissional aprende regras básicas - como ouvir os dois lados - e toda a técnica do texto jornalístico, mas o quadro atual tem ocasionado uma crise na confiabilidade da notícia.

"A notícia é um serviço público. A pessoa tem que saber a responsabilidade dela. Como hoje qualquer pessoa pode escrever e se autodenominar colunista, jornalista, formador de opinião, influencer, youtuber, você tem esse tipo de problema: a crise na confiabilidade da noticia", ressaltou.

Gonçalo afirmou também que a atividade de crítico requer bagagem, leitura, conhecimento e vivência.

"Crítica é uma coisa muito técnica e profunda. Para ser um bom crítico, você tem que saber muito daquele assunto, ter um longo histórico. Ninguém pode ser [crítico] com 20 anos de idade, não é preconceito, é que tem que se acumular bagagem, leitura, conhecimento, vivência. Geralmente, o critico se forma crítico, não vira da noite pro dia. A pessoa vai desenvolvendo, conhecendo as coisas e estudando", explicou.

Ele ressaltou também, que muitas vezes, a opinião ou crítica acerca de algum produto ou serviço  está monetarizada, atrelada ao pagamento de um valor, fator que acaba contribuindo para a crise na confiabilidade do conteúdo.

"Um influencer de moda mostra uma roupa, perfume, cosmético, diz que é maravilhoso. Quantas pessoas sabem que ela tá recebendo o kit e uma grana para dizer aquilo? Não tá dizendo que é bonito porque ela acha, ela tá preocupada em receber para dizer que é bonito. Essa crise está ligada à isso. Essa coisa de criar pessoas despreparadas está tudo nesse contexto, em uma incapacidade de lidar com redes sociais, que são ferramentas maravilhosas, mas acabam aflorando essa faceta muito terrível da pessoas, de banalização da vida", finalizou.

 

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Confira a íntegra do podcast: