"Eu não acredito", afirma Gonçalo Jr. sobre aumento de faturamento e vendas de livros em meio à pandemia

Para o sócio da Editora Noir, é improvável que dados estejam corretos diante do fechamento das livrarias Cultura e Saraiva, que concentravam 40% do mercado

Por Bruna Ferraz e Bruno Brito
18/06/2022 às 16h00
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Foto: Acervo pessoal
Foto: Acervo pessoal

Embora um levantamento feito pela Nielsen BookScan e confirmado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) aponte que o mercado de livros elevou o número vendas e seu faturamento em meio à pandemia de Covid-19, o jornalista Gonçalo Júnior, fundador e sócio da Editora Noir, desconfia da informação. Para ele, é improvável que tenha existido aumento diante do fechamento das livrarias Cultura e Saraiva, que concentravam 40% do mercado de livros do país.

Convidado deste episódio do Podcast do Portal M!, Gonçalo ressalta que o ano de 2021 ficou marcado pela saída do mercado das duas maiores redes de livrarias, fator que impediria um possível incremento do setor.

"2021 é o ano do fechamento da Saraiva e da Cultura. Foram, sei lá, 500 livrarias fechadas, que representavam 40% do mercado de livros, então quando apontam esse número, que aumentou, de onde [vem]? Em cima do quê?", questiona.

Segundo o levantamento realizado pela Nielsen BookScan e confirmado pelo SNEL, em 2021, foram vendidos 55 milhões de exemplares, 29% a mais que em 2020. Já entre janeiro e abril deste ano, a alta registrada foi de 11% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados apontam ainda que os exemplares vendidos em 2021 movimentaram R$ 2,28 bilhões no setor.

"Se as duas maiores redes de livrarias quebram, fecham, param de vender, esse aumento foi em cima do quê? Eu não entendo", questiona.

Gonçalo defende que o cenário visto nesse período foi bem diferente do relatado pelo levantamento. Ele também afasta a possibilidade de o aumento ter ocorrido em função de vendas por plataformas on-line.

"Não, teria impulsionado as nossas também, que estavam indo muito bem até o inicio da pandemia. No início da pandemia, estávamos vendendo razoavelmente, e continuamos do mesmo jeito, não teve explosão ou aumento. Claro que depende do tipo de livro, por exemplo, nossos livros mais vendidos seguem sendo os mesmos, não aumentaram as vendas", apontou.

Entre as dificuldades enfrentadas no período, Gonçalo destaca que o mercado editorial também sofreu com o aumento do custo do papel.

"No ano passado, o papel aumentou 82%, quase dobrou o custo de impressão. Este ano, tivemos 35% de aumento em fevereiro, 13,5% em abril, entre 13% e 14% em maio e agora, no dia 1º, tivemos outro de 20%", listou.

Segundo o sócio da Editora Noir, o quadro tem dificultado o dia a dia das editoras, inclusive para colherem orçamentos junto às gráficas para impressão.

"Fazemos o orçamento, e em três dias temos que dar o OK, se não o papel será destinado para outra coisa. Então é difícil, você faz orçamento de gráfica, os caras falam que o orçamento só tem duração naquela semana. Imagina, onde está essa beleza de marcado toda? Várias editoras parando de publicar, diminuindo os lançamentos. Livros de 120 páginas, que eram vendidos a R$ 40, estão sendo vendidos a R$ 70 ou R$ 80. Como é que o mercado tá crescendo?", questionou.

 

* Com informações do Portal G1

Confira a íntegra do podcast: