Hepatologista condena uso indiscriminado de chás tidos como naturais; confira o que é mito e o que é verdade

Raymundo Paraná faz alerta veemente contra a prática estimulada até por médicos

Por Nicolas Melo
08/05/2022 às 08h20
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Foto: Reprodução/ALEH
Foto: Reprodução/ALEH

Engana-se quem acha que o famoso "chá milagroso" composto de "ervas para emagrecimento" é bom. A prática é condenada pelo médico assessor da Câmara Técnica em Hepatites Virais da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e do Ministério da Saúde, o hepatologista Raymundo Paraná. "Os consultórios dos hepatologistas do Brasil estão repletos de casos de toxicidade hepática por estas práticas", alertou.

Paraná denuncia uma prática que tem crescido nos últimos anos no país, principalmente ao longo da pandemia da Covid-19. Com emergência sanitária, mais de 2,3 bilhões de pessoas, cerca de 30% da população mundial, não tiveram acesso à alimentação saudável nem às rotinas de atividades físicas.

Com mais pessoas em casa, os anúncios de fórmulas para emagrecer, principalmente em redes sociais, cresceram. Em fevereiro deste ano, a enfermeira Edmara Silva Abreu, 42 anos, morreu após seu corpo rejeitar o fígado transplantado. Ela precisou do novo órgão após ter sido diagnosticada com uma hepatite fulminante por conta do consumo de um composto de "ervas para emagrecimento", vendido em cápsulas e com a garantia de que era 'natural'.

"Estas formulações são vendidas na internet como milagrosas para melhorar a imunidade, para fazer perder peso, mas também são prescritas em consultórios de profissionais de saúde - o que é absolutamente reprovável. Afinal, são fórmulas que não têm qualquer respaldo científico. Na Medicina, quando se tem muita coisa para tratar alguma coisa é porque nenhuma delas presta, porque quando alguma conduta presta, ela é comprovada e todo mundo faz igual", explicou o hepatologista.

Paraná associa a prática à oportunidade do momento: se essas fórmulas são vendidas, é porque tem quem fabrique e quem compre. "Há um interesse comercial por trás destas prescrições", pontuou. Ele condena veementemente a prática, principalmente as ações realizadas por médicos, uma vez que na Medicina não há estudos científicos comprobatórios da eficácia e da segurança desses compostos.

"Na medida em que cada profissional prescreve uma fórmula diferente e coloca ali dentro, às vezes, duas, três dezenas de substâncias diferentes, misturando medicamentos alopáticos com fitoterápicos sem que exista um único estudo que avalie as possíveis interações e a segurança deste tratamento, é muito errado", condenou. "E isso tem sido muito frequente, e é claro que a perda de peso ou a modulação corporal são o carro-chefe [das prescrições]", pontuou.

"Quando o paciente procura o mágico, e o mágico oferece para ele uma possibilidade dessa perda de peso rápida ou ganho de massa corporal, esse paciente precisa entender que ele paga um preço por isto, e esse preço pode ser parte da sua saúde", alertou o especialista.

Paraná ainda respondeu a um questionário do Podcast do Portal M! sobre mitos e verdades na área de hepatologia.

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