Hepatologista tranquiliza pais sobre surto de 'hepatite misteriosa' em crianças: "Sem pânico"
No podcast do M!, Raymundo Paraná fala sobre os estudos da doença que já chegou à América Latina, com o primeiro caso confirmado na Argentina
- Compartilhe
Desde abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta sobre um surto de hepatite aguda grave de causa desconhecida em crianças no Reino Unido. Na última quarta-feira (4), o Ministério da Saúde argentino confirmou o primeiro caso da doença na América Latina - um menino de 8 anos apresentou a forma grave da infecção de origem desconhecida. Ele está internado no Hospital Infantil da zona norte da cidade de Rosário, Santa Fé, e não há informações sobre seu estado de saúde.
O risco de a doença chegar em solo latino-americano era iminente, segundo o médico assessor da Câmara Técnica em Hepatites Virais da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e do Ministério da Saúde, o hepatologista Raymundo Paraná.
"Todos os casos de hepatite que não têm uma causa definida devem ser notificados para que sejam feitos os estudos desses pacientes e se observe se é possível admitir a chegada desta doença entre nós. Mas eu volto a dizer que as hepatites fulminantes são eventos raros, independente da causa", explicou Raymundo Paraná, que também é professor titular de Gastro-Hepatologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e livre-docente da instituição.
O especialista explica que, quando se tem um registro de hepatite fulminante em uma determinada região, seguramente há outras centenas de casos mais leves. Assim, ele tranquiliza os pais, que estão apreensivos com o surto envolvendo crianças: "Não é uma situação de pânico, claro que não".
Segundo Paraná, os sintomas a serem observados são, em casos de hepatite grave, a elevação das enzimas do fígado (ALT e TGP); a inversão do ritmo do sono - quando o paciente fica sonolento durante o dia e agitado, à noite; a alteração na coagulação sanguínea, com registro de sangramentos, manchas na pele como se fossem causadas por pancadas, sangramentos gengivais etc; além do olho amarelado e a urina muito escura (cor de guaraná).
"Essas situações e sintomas indicam gravidade, e quando o paciente tem um quadro de confusão mental e alteração do sono, ele tem que estar em um centro de referência porque poderá necessitar de um transplante", explica o hepatologista.
Paraná ainda recomenda que gestão de saúde local oriente os plantonistas do serviço de emergência a fazerem um diagnóstico precoce de casos graves e, se for o caso, encaminhar o paciente a um centro de referência.
O Ministério da Saúde disse ao Portal M!, por meio de nota, que até o momento não há casos confirmados da doença no Brasil. Os Centros de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) monitoram junto aos núcleos de epidemiologia hospitalar da Rede Nacional de Vigilância Hospitalar (RENAVEH) qualquer alteração do perfil epidemiológico, bem como a detecção de casos suspeitos da doença.
"A pasta orienta aos profissionais de saúde e da Rede Nacional de Vigilância, Alerta e Resposta às Emergências em Saúde Pública do Sistema Único de Saúde (VigiAR-SUS) que estejam atentos e que suspeitas sejam notificadas imediatamente", disse o órgão.
De forma bem didática, o hepatologista Raymundo Paraná explicou ao Portal M! que o termo hepatite significa uma inflamação no fígado. Contudo, este quadro pode ocorrer de várias formas e por causas diferentes, como obesidade, abuso de bebida alcoolica, uso de medicamentos (principalmente sem prescrição médica), consumo de chás fitoterápicos, além das doenças autoimunes e genéticas.
"Tudo isso causa inflamação no fígado. Quando essa inflamação é causada por um vírus, chamamos de hepatite viral. Existem os principais vírus causadores de hepatite que são determinados pelas letras A, B, C, D e E. Embora todos causem hepatite, são doenças diferentes. No caso do vírus A e B tem vacina, e o D tem, por consequência, imunização, após [tomar a] a vacina do vírus B", explicou.
Logo, dos cinco vírus, três são prevenidos por vacinação. Porém, de acordo com Paraná, existem outros agentes que causam doenças em outros órgãos e sistemas do corpo humano, que, eventualmente, podem atingir o fígado e causar hepatite.
Entre os casos da doença, principalmente nas manifestações mais agudas, há sempre o risco de evolução para sua forma mais agressiva - a chamada hepatite fulminante.