A rasteira em Leão e a reação do PP. Faltou alinhamento ou o jogo foi combinado entre Wagner e Rui? E mais, o que ganha ACM Neto com essa crise?

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Por Osvaldo Lyra e equipe
16/03/2022 às 08h33
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Foto: Arte/ Haron Ribeiro
Foto: Arte/ Haron Ribeiro

Uma operação Tabajara a ser estudada 
É tanta estratégia levantada pelos caciques do PT e do governo do estado que já há a procura por parte de acadêmicos para formulação de diferentes teses para cursos de sociologia e ciências políticas, diante do conturbado momento pré-eleitoral que vivemos na Bahia. Começando pelas idas e vindas do PT, inicio essa avaliação com o vice-governador João Leão, que se reuniu com o governador Rui Costa e o senador Jaques Wagner, ano passado, no Palácio de Ondina, para externar o seu desejo de assumir o governo nos últimos nove meses da gestão.  

Idas e vindas dos governistas 
Para isso, o Rui tentaria a vaga ao Senado, Wagner disputaria o governo e o senador Otto Alencar seria alçado à condição de vice. A proposta não avançou. O presidente do PSD só aceitava a vaga do Senado e o acordo travou. Então, o grupo governista passou a trabalhar com a tese de ter Wagner na cabeça de chapa ao governo, Otto na reeleição ao Senado e um nome do PP para a vice.

Jaques Wagner

Faltou alinhamento a Wagner e a Rui?
O problema é que o tempo passou e, após sucessivas pressões para anunciarem a chapa governista, vimos o experiente senador do PT agir com pouca habilidade e comunicar que o acordo até então estabelecido com Leão não seria mais cumprido e que Rui terminaria a gestão à frente do governo. Pelo desenrolar dos fatos na última semana, deu pra perceber que o criador (Wagner) e a criatura (Rui) não estavam tão alinhados como parecia. A irritação do governador no dia foi clara, durante entrevista coletiva com a imprensa. 

Jaques Wagner e Rui Costa

Jogo combinado? 

O que não se sabe até agora é se a "operação tabajara", como denominou o deputado federal Jorge Solla, estava alinhada ou se Wagner pegou todos de surpresa. Diante da crise aberta, o Partido dos Trabalhadores passou a trabalhar intensamente para escolher um nome que pudesse ser competitivo para brigar pelo governo. Na disputa, o secretário de Relações Institucionais Luiz Caetano e a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, além do secretário de Educação, Jerônimo Rodrigues. Os dois primeiros não gozavam de prestígio e aceitação nem dentro do PT. Daí, o governador fez valer a sua vontade, como na eleição de 2020, quando impôs a candidatura da Major Denice Santiago em Salvador, e o partido decidiu por Jerônimo.

Rui Costa

Dificuldade para se viabilizar 

Apesar de contar com Rui e Lula como seus principais cabos eleitorais, Jerônimo terá dificuldade de se viabilizar, sobretudo por não ser conhecido do grande público. Ele poderia ser muito mais competitivo, caso governador tivesse preparado o nome do sucessor ao longo dos últimos três anos, como esperava o senador Jaques Wagner. No entanto, Rui falhou na missão. Ele mostrou sua fragilidade política, que se antagoniza com a sua elevada capacidade de gestão. O governador não conseguiu fazer o que o seu antecessor fez com ele, deixando aliados temerosos com os impactos que terão na eleição. 

Jerônimo Rodrigues

Pros e contras do candidato
Pesa favoravelmente sobre Jerônimo o fato de não ter uma rejeição tão elevada, como, por exemplo, a de Wagner. Dentre os desafios, o secretário terá muito o que explicar sobre os baixos índices na Educação, impactada fortemente pela pandemia. Os apoiadores do PT, inclusive, dizem que o novo candidato já aparecerá nas próximas pesquisas com índices oscilando entre 20% a 25%, devido à força do partido e do ex-presidente Lula no estado. Tanto na base do governo como na oposição, o sentimento é que o petista vai crescer junto ao eleitorado. 

A decepção do PP 
Como desdobramento, acompanhamos nos últimos dias a decepção dos quadros do PP com o ex-governador petista, que acabou levando Leão e seus aliados a entregarem todos os cargos que controlavam no governo da Bahia. Dizem que passa de 600 postos de trabalho, além, é claro, dos três secretários e o comando da Bahiapesca, órgão do segundo escalão. Na sequência, Leão foi entregar sua carta de renúncia a Rui, fato seguido por seus principais apoiadores. Quem viu a cena do encontro na Governadoria diz que o momento mais forte foi quando Leão pediu um abraço de despedida ao governador e o "Bonitão" saiu pela porta da frente, da mesma forma que entrou. 

João Leão

Primeira viagem juntos será para o Oeste
Na sequência, Leão se reuniu com a cúpula do PP na sede do partido e sacramentou o rompimento com o PT. Ontem, a equipe de comunicação do ex-prefeito ACM Neto divulgou uma nota informando que ele e Leão darão uma entrevista coletiva nesta quinta, no Hotel Fiesta, a partir das 11h30, quando farão o anúncio da nova aliança, tendo Neto ao governo e o vice-governador ao Senado. Dentre as novidades, estará a apresentação de uma agenda de viagens de ambos ao interior da Bahia, além de adesões políticas à base de apoio. A expectativa é que a primeira viagem deles, juntos, aconteça nesta sexta para a região Oeste do estado. 

João Leão e ACM Neto

A faca no pescoço
Muitas pessoas se surpreenderam ontem com a declaração dada pelo governador Rui Costa, durante evento no município de Almadina, no interior do estado. No final do discurso, o petista disse que iria terminar a sua fala para os prefeitos e lideranças de forma diferente do habitual e que não iria aceitar a pressão para renunciar ao cargo. A fala dura de Rui aconteceu um dia após o anúncio oficial do PP, que deixou a base do PT no estado. Na ocasião, o governador disse ser grato pelo povo da Bahia, que concedeu seu mandato até o dia 31 de dezembro de 2022. "Ninguém, em pretexto nenhum, pode colocar a faca no meu pescoço e dizer que eu abra mão deste mandato".

João Leão e Rui Costa

A reação de Leão 
O vice governador João Leão disse que não colocou a "faca no pescoço de ninguém", para ser senador na chapa do PT. O Bonitão disse que o que foi feito com o PP extrapolou todos os limites. "O que aconteceu conosco extrapolou os limites. Nós tínhamos um acordo toda a Bahia sabe e todo o compromisso, qual era o compromisso que nós tínhamos. O governador Rui Costa é um governador meu amigo, gosto muito de Rui, tenho uma responsabilidade muito grande, no entanto, nós acertamos, fizemos um acordo", pontuou para emendar: "Em 7 anos de convivência, nunca coloquei a faca no pescoço. Quem pode ter colocado a faca no pescoço dele foi Jaques Wagner. Porque toda a Bahia sabe que Rui queria ser candidato a senador ou eu estou mentindo", disparou Leão, em entrevista à rádio Sociedade.

Dor de cabeça com aliados 
Trazendo agora a avaliação para o campo do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, apesar de se fortalecer com a saída de cena de Wagner, que estava no papel de protagonista da eleição pelo governo, Neto terá dor de cabeça para acomodar tantos políticos e partidos aliados interessados na sua chapa majoritária, composta apenas por três vagas. Uma dele, outra de Leão e a terceira (em disputa) na vice.

ACM Neto

O começo da debandada
O nome do deputado federal Marcelo Nilo é apontado como favorito para ocupar o posto. Pode ser pelo MDB ou pelo Republicanos. Isso porque Nilo é apontado como o responsável por iniciar a debandada do campo governista, o que acaba tendo um valor simbólico importante para a campanha do União Brasil. Só que a acomodação de dois ex-aliados do PT deixa muitos aliados de Neto enfurecidos. Dizem que os ex-adversários são adesistas e que chegaram agora para ocupar "o melhor do avião". Sem contar que "envelhecem" a chapa. Não pela idade, mas por pertenceram há até pouco tempo como aliados de primeira hora do PT, contrariando o discurso do democrata de renovação.

Marcelo Nilo 

Muitos nomes, poucas vagas 
Caso não seja Nilo na vice, a briga hoje está mais forte entre o presidente do PDT, Félix Mendonça Júnior, e o presidente do Republicanos, bispo Marcio Marinho. Pelo que se comenta à boca pequena na oposição baiana, não há espaço na chapa do secretário-geral do partido União Brasil (ex-Democratas) para o prefeito de Mata de São João, João Gualberto, nem para o ex-prefeito de Feira, José Ronaldo.

Márcio Marinho 

Quer a majoritária, mas ficará na proporcional 
Zé Ronaldo quer porque quer estar na chapa majoritária, mas, pelo visto, terá que se contentar com uma vaga de deputado. Pode ser para federal ou ainda para estadual, provavelmente pelo PDT, para assumir o comando da Assembleia Legislativa, caso Neto vença a eleição. Todos sabem que é difícil um deputado acabar de ser eleito para assumir vaga em um parlamento, seja municipal, estadual ou federal, e já conseguir comandar o Legislativo.

José Ronaldo

Experiência conta
No entanto, o fato de Zé Ronaldo já ter sido deputado estadual por quatro vezes faz com que essa tese ganhe eco entre apoiadores do ex-prefeito de Salvador. Pode ser uma estratégia interessante, inclusive para puxar votos e ajudar a eleger uma ampla bancada governista. O detalhe é que o ex-prefeito de Feira insiste em buscar um espaço na majoritária, o que parece não ser possível hoje. E mais. Não adianta falar que essa notícia é fake news, pois a informação partiu dos próprios aliados dele e do União Brasil. 

Acordo com Lupi e a vice de Félix 
A situação do deputado federal Félix Mendonça Júnior deverá ser definida já nos próximos dias, provavelmente na próxima semana. Segundo informação obtida pela coluna Vixe, Félix estaria insatisfeito com a ameaça de não participar da majoritária. No entanto, ACM Neto teria se comprometido com o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, de dar uma vaga para o dirigente do partido na Bahia.

Carlos Lupi

Manutenção do entendimento 
Consultado sobre o assunto, Félix disse que a prioridade deveria ser a manutenção do entendimento já estabelecido com o presidente nacional da sigla, de estar contemplado na chapa. "É nisso que estamos confiando até hoje. Não quero analisar a questão do 'se' vamos participar, pois acreditamos que isso (ficar fora) não vai acontecer. E, caso aconteça, vamos reunir o partido para definir o rumo a seguir", disse. Ele enfatizou, inclusive, que a pressa para a definição se dá pela necessidade de ter clareza no processo, pois impacta diretamente na formação das chapas para deputado estadual e federal. 

Félix Mendonça Júnior

Rui de olho no PDT
Apesar de afirmarem que o dirigente estadual do PDT não foi procurado ainda pela articulação política do governo (nem do PT) para tratar do assunto, a informação que se tem da própria Governadoria é que a negociação com Lupi tem sido constante e feita diretamente pelo governador. "Esperamos que o acordo (feito com Neto) seja cumprido. Por isso, quero aguardar uma definição do ex-prefeito para sabermos o que fazer", disse ele, ao citar a "experiência vitoriosa" do PDT ao lado do prefeito Bruno Reis, em Salvador. 

O retorno aos braços do PT? 
Apesar de não falar abertamente sobre o assunto, o que se comenta no próprio PDT é que seu presidente pode abrir uma frente de diálogo com os caciques do PT, caso o entendimento com Neto naufrague. Félix e o partido deixaram a base petista após a última eleição para prefeito. O detalhe é que esse retorno estaria sendo desejado tanto por Wagner quanto por Rui, na tentativa de robustecer a chapa encabeçada por Jerônimo. As propostas para os pedetistas mudarem de lado seriam de encher os olhos de muitos políticos. 

Roma tenta viabilizar a terceira via 
Tentando se viabilizar como uma terceira via na Bahia, o ministro João Roma (Republicanos), tentar colar cada vez mais sua imagem na do presidente Jair Bolsonaro (PL). Hoje mesmo o ministro acompanha o presidente da República numa viagem a Salvador, para visitar as Obras Sociais Irmã Dulce.

João Roma

Apoios necessários
Roma conta hoje com o apoio do PL e do PTB. Não se sabe ainda se ele terá o apoio do Republicanos, seu atual partido, ou se a legenda ligada à Igreja Universal marchará com ACM Neto, como prevê Marinho. Na semana passada, inclusive, Roma teve a candidatura ao governo anunciada por Bolsonaro, em uma transmissão pelas redes sociais. O ministro deve ficar no governo até o prazo de desincompatibilização, no começo de abril, quando deverá reforçar suas andanças pelo estado. 
 
Subiu no telhado

A candidatura de Moro à Presidência da República subiu no telhado. Como mostramos nesta mesma coluna há 15 dias, o ex-juiz não tem empolgado entre as principais lideranças do Podemos e sua participação não deve ser mantida pela legenda comanda nacionalmente por Renata Abreu. Um dos principais motivos para a não candidatura do ex-juiz da Lava Jato é a falta de palanques estaduais. Moro não tem aliado peso em nenhum dos quatro principais colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. "Faltam ao Sérgio Moro sorte, palanques estaduais, dinheiro para campanha e aliados de peso", comentou um analista da política nacional.

Sérgio Moro

Dedo podre
Há quem diga também que o ex-juiz tem um dedo podre na hora de escolher aliados. Recentemente, Moro se uniu ao MBL (Movimento Brasil Livre) em São Paulo com o objetivo de garantir palanque estadual no principal colégio eleitoral do país. A intenção era apoiar a candidatura de Arthur do Val, o Mamãe Falei, e em troca ter palanque no estado. Porém, os áudios machistas do deputado paulista vazados recentemente sobre as ucranianas acabou frustrando o projeto de Moro, que teve de se afastar do MBL.