Professor destaca importância da China na guerra na Ucrânia: "Tem o papel fundamental de negociar"

André Coelho lembra que país asiático se absteve em votação na ONU, mesmo com relações muito próximas ao governo russo

Por Tiago Lemos
06/03/2022 às 15h00
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Foto: Divulgação
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Convidado deste episódio do podcast do Portal M!, o professor André Coelho, mestre em Relações Internacionais, falou sobre o papel da China diante do conflito entre Rússia e Ucrânia. O país asiático se absteve na votação que aprovou uma resolução na Organização das Nações Unidas (ONU) condenando a invasão russa ao país vizinho. 

"A posição chinesa nesse conflito é relevante. Vem ao longo dessa década de 2010 realizando aproximações muito grandes com a Rússia, principalmente por conta das sanções que já existiam nos outros países ocidentais para a Rússia. E esses dois países chegaram a desenvolver processos de sistema de transação de comércio independente do comércio mundial. Passaram a fazer determinadas transações em moeda local e não do dólar, moeda de curso internacional", detalhou o professor.

Ele complementa: "Acho que efetivamente o papel da China e o que ela demonstra dentro do seu escopo de diplomacia é um favorecimento à efetiva não intervenção. Ela se absteve, mas não votou a favor da Rússia. A abstenção nesse sentido é salutar, e creio que a China tem o papel fundamental de negociar. Ela tem um poder de barganha fantástico no tabuleiro geopolítico internacional, de fazer movimentos que nos levem a uma redução da escalada muito grande que a gente tem visto", explicou.

Além disso, o professor destacou a força econômica da China. "A gente fala das fragilidades econômicas russas, isso não se aplica à China", iniciou.

"Representa tanto um caminho de investimentos mundiais, com a sua nova rota da seda, e ao mesmo tempo você tem o maior player global no processo do comércio exterior. A China hoje é o país que possui a maior corrente de comércio do mundo, somando exportação com importação", detalhou. 

 

Vladimir Putin e Adolf Hitler

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, o presidente Vladimir Putin começou a ser comparado com Adolf Hitler, ditador alemão que levou o mundo a se envolver na Segunda Guerra (1939-1945). André Coelho, entretanto, prefere deixar esta ideia de lado.

"Essas comparações são sempre complicadas. A gente precisa entender contextos. Os contextos históricos são muito diferentes, a Rússia de hoje não é a Alemanhã de 39", lembrou.

"Hitler tinha um projeto expansionista, de anexação de fronteiras e de expansão do território alemão. Não me parece ser essa a estratégia de Putin. O que parece é muito mais uma reação pontual", explicou.

Para concluir, o mestre em Relações Internacionais disse que a Rússia não tem condições econômicas de "manter uma guerra por um longo período de tempo".

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Escute o PODCAST na íntegra: