Seca e chuva geram impacto nos custos no campo e devem pressionar inflação dos alimentos em 2022

Feijão, arroz e pecuária de leite e de corte também sofrem com clima adverso

Por Redação
22/01/2022 às 09h40
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Foto: Reprodução/RBS TV
Foto: Reprodução/RBS TV

A seca que afeta o Sul do Brasil e o excesso de chuvas em partes do Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste causaram perdas na produção agropecuária e estão aumentando os custos. Todos esses fatores devem pressionar a inflação dos alimentos ao consumidor neste ano.

Os problemas climáticos se estendem desde o fim do ano passado, como resultado do fenômeno La Niña, que provoca chuvas fortes no Norte e Nordeste do Brasil e estiagem no Sul.

Alguns dos principais impactos, por enquanto, estão nos grupos de alimentos a seguir.

- Milho e soja: a falta de chuva prejudicou o desenvolvimento das plantas, gerando perdas em lavouras do Sul e de parte do Centro-Oeste. Essa situação vem pressionado os preços dos grãos, que já tiveram altas no ano passado por causa da seca.

- Frango: o milho e o farelo de soja compõem a ração das aves e, com alta no valor dos grãos, os custos do setor estão aumentando. O preço do frango já subiu em 2021 por este motivo e, segundo produtores, os custos atuais podem ser repassados ao consumidor nos próximos meses.

- Feijão: a seca provocou queda na produção de lavouras do Paraná, principal produtor do grão no país. Com isso, houve aumento do valor da saca no atacado, que também pode se refletir no varejo. As chuvas também geraram perdas no interior de Minas Gerais e Bahia, segundo a associação do setor.

- Arroz: apesar de impactos pontuais no Rio Grande do Sul, onde há a maior produção de arroz, ainda não há estimativas oficiais de quebra de safra por causa da seca nem de aumento de preços. A qualidade do cereal, porém, pode cair.

- Leite: a falta de chuvas está prejudicando a qualidade das pastagens e aumentou os gastos com a ração das vacas. Por outro lado, produtores estão com dificuldades de repassar custos para o consumidor, pois a queda no poder de compra do brasileiro reduziu a demanda por lácteos.

- Carne bovina: a seca está atrasando a engorda no Sul e sustentando as cotações do boi em patamares elevados no campo. Por outro lado, especialistas dizem que é provável que esses custos não cheguem ao consumidor, pois o varejo não consegue mais absorver altas no preço desta proteína, que disparou em 2020 e seguiu em alta em 2021.

 

Soja e milho: maiores perdas

As lavouras de soja e milho do Sul e de parte do Centro-Oeste são, até o momento, as que mais tiveram perdas por causa da seca. A falta de chuvas desde o final do ano passado prejudicou o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, reduziu a produção de muitas fazendas.

No Sul, tem propriedade que já está no segundo ou terceiro ano consecutivo de queda na colheita por causa de estiagem, conta o analista de grãos Lucilio Alves, do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP).

"O cenário mais crítico é o do milho. A produção já foi menor em 2021 em função da seca, e os produtores esperavam que a safra de Verão - colhida no primeiro trimestre do ano - pudesse ocorrer dentro da normalidade", afirmou.

O setor, porém, espera recompor perdas com a entrada da segunda safra de milho, a partir de maio, que é bem maior e representa cerca de 75% da produção nacional do grão. Somando as três safras de milho do ano, o Brasil deve colher 112,9 milhões de toneladas - 29,7% mais que no ciclo passado.

Já o cenário para soja é mais favorável. Mesmo com problemas na produção do Sul, a estimativa de colheita de 140,5 milhões é recorde. "Não vai faltar soja para exportação, não vai faltar soja para atender mercado doméstico", diz Iglesias.

Por outro lado, ele destaca que o excesso de chuvas em partes do Nordeste e Sudeste trazem dificuldades logísticas.

"As chuvas deixaram estradas do Tocantins e de Minas Gerais destruídas. Então, há uma dificuldade de escoar a produção de soja neste momento, tanto que está atrasando a entrega deste produto no mercado interno", pontuou.

O aumento do preço da saca de milho em função da seca afeta diretamente os gastos com a criação de aves e porcos. O grão, junto com o farelo de soja, compõem a ração desses animais e representam 70% dos custos do setor.

Em 2021, a alta do preço do milho, associada ao aumento da demanda, fez o preço do frango em pedaços, por exemplo, disparar 29,8% ao consumidor. E, neste ano, deve seguir em tendência de alta impulsionada pelos mesmos motivos, diz a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

 

* Com informações do Portal G1.