Os impactos da passagem de Lula pela Bahia e o distanciamento de Neto e Bruno

Toda quarta-feira temos novidades da política, do empresariado e da cultura para que você entenda melhor "como a roda gira" nos bastidores

Por Osvaldo Lyra e equipe
01/09/2021 às 07h37
  • Compartilhe
Foto: Arte: Haron Ribeiro
Foto: Arte: Haron Ribeiro
Até Lula já sabia 
 
Uma cena envolvendo o ex-presidente Lula na Bahia, na última semana, mostrou como o líder petista está bem informado sobre as nuances da política local. Na quarta, assim que chegou em Salvador, o ex-presidente foi abordado pelo secretário e deputado licenciado Josias Gomes, com uma cesta de produtos típicos do estado, produzidos por representantes da agricultura familiar. Ao ver Josias, Lula disparou: "essa cesta não foi doada pelo deputado Robinho não, né?", disse o ex-presidente, para gargalhada geral, já que o deputado progressista rompeu na semana anterior com o governador Rui Costa e se tornou figura non grata na seara petista.  
 

Reconexão com aliados e a militância
 
A última passagem de Lula pela Bahia foi considerada importante pela cúpula e pela militância do Partido dos Trabalhadores. Apesar da agenda ter sido restrita a Salvador e Camaçari, a avaliação geral é que a vinda do petista serviu para ele se reconectar com os aliados e a base da sigla. Até mesmo por conta da idade e do momento da pandemia, o consenso era que não daria para Lula visitar outras regiões do estado nesse momento. No entanto, o poder multiplicador das redes sociais se encarregou de dar a amplitude necessária à vinda do líder petista. A sensação é que teria ficado a vontade de "quero mais".

 
Afago em Leão 
 
A vinda do ex-presidente teve efeito pedagógico também junto ao PT e os partidos aliados. Até mesmo o afago feito no vice-governador João Leão serviu para adocicar a relação com o "bonitão" e o Partido Progressista na Bahia. Quando chegou em Salvador, o ex-presidente da República fez questão de ir à Governadoria se encontrar com Leão, num gesto de reconhecimento e deferência ao dirigente do PP baiano. Na heterogênea base do governo Rui Costa, o "bonitão" e o seu partido são os que mais criam embaraços e fazem ameaças à unidade do grupo. Leão insiste na tese de se lançar candidato ao governo, óbvio, que na tentativa de negociar espaços na formação da nova chapa e garantir que fará a transição nos últimos oito meses do governo atual. O fato é que por mais que tente minimizar, o comportamento de Leão causa instabilidade no grupo, sobretudo, no senador Jaques Wagner e em Rui. Por isso que a vinda de Lula foi considerada tão importante para apaziguar os ânimos na base petista.

 
A questão racial no topo
 
O vereador Luiz Carlos Suica disse que a ida do ex-presidente Lula para um encontro com representantes do Movimento Negro, na Senzala do Barro Preto, no Curuzu, teve um grau de importância ainda maior para colocar a questão racial no topo da discussão petista. "A população negra reclama o tempo todo, e com razão, que é excluída do debate. Os grandes cargos e espaços de poder, sobretudo nas chapas majoritárias, não contemplam os negros. Por isso eu sempre falo que é importante nos dar oportunidade, para que possamos mostrar a nossa capacidade", disse o dirigente sindical, ao ressaltar que "nem todo branco é inimigo, como nem todo preto é aliado". 
 
Erros da última eleição 
 
Petistas disseram ainda à coluna Vixe que erros, como na última eleição em Salvador, não podem ser repetidos. Eles enfatizaram que a candidatura da major Denice Santiago não era orgânica do PT e que só existiu para cumprir tabela na questão de gênero e raça . Para eles, é preciso dar oportunidade para o negro mostrar que é capaz de construir e não apenas de tapar buracos, como destacou um deles, ao criticar o fato de os espaços de poder estarem concentrados nas mãos de poucos brancos. 

 
A derrota mal digerida de Denice
 
A derrota do PT na prefeitura de Salvador no ano passado ainda não foi digerido por muitos integrantes do partido na Bahia. Conversas de bastidores, durante a passagem do ex-presidente Lula pela Bahia, mostraram que existem muitas feridas abertas ainda, após a derrota da major Denice Santiago. O que setores do partido argumentam é que o PT perdeu a eleição dentro de uma estratégia calculada pelo governador Rui Costa e pelo senador Jaques Wagner. O que se fala é que em 2024 dificilmente será a ex-comandante da Ronda Maria da Penha a candidata à prefeitura de Salvador, contra o atual prefeito Bruno Reis (DEM). Eleito senador ou não no próximo ano, a aposta se recairia sobre o governador Rui Costa para conquistar o Palácio Thomé de Souza, já que os petistas sempre bateram na trave mas nunca comandaram a prefeitura da capital baiana. 

 
Impacto sobre a candidatura de Neto
 
Três petistas de diferentes correntes mostraram-se bastante ponderados ao fazer uma avaliação sobre a passagem do ex-presidente Lula na Bahia e o impacto sobre a candidatura do ex-prefeito ACM Neto em 2022. Na visão de dois deles, a campanha não será fácil pra ninguém e não será embalada só pela boa aceitação do ex-presidente da República. Para eles, a disputa para o governo estadual será acirrada e totalmente imprevisível. E mais, não será a vinda do ex-presidente Lula que definirá a eleição para governador no próximo ano.
 
Convencimento do eleitorado 
 
 "Mas sim, aquele que tiver mais condição de andar e convencer o eleitor, levará vantagem na Bahia. Será necessário apresentar um projeto arrojado, diferenciado, que projete o futuro dos baianos e encha a população de esperança. Será necessário tirar o estado do marasmo na educação, impulsionar a geração de emprego e renda e continuar avançando na saúde pública", como disse um petista que tem mandato na Assembleia Legislativa. "Precisamos pensar em avançar diante do que está posposto até aqui", completou outro petista, que transita com desenvoltura na Governadoria.

 
Postura de Eden desagrada
 
Chamou a atenção do ex-presidente Lula e dos dirigentes nacionais do PT a baixa receptividade ao presidente do partido na Bahia, Éden Valadares. Durante evento na Senzala do Barro Preto, no Curuzu, apenas três pessoas aplaudiram o dirigente petista, o que chamou a atenção da cúpula da sigla. Quem presenciou a cena disse que Lula teria se convencido de que é necessário ampliar o diálogo com a militância e tirar os dirigentes do pedestal que se colocaram. É um erro pensar que o prestígio de Lula será o suficiente para embalar a candidatura de Wagner na Bahia. 
 
Conversa pra boi dormir 
 
O discurso do ex-presidente Lula, de que não conversaria com o ex-prefeito de Salvador e presidente nacional do Democratas, ACM Neto, sobre 2022, não condiz com cenário real para muitos integrantes do PT. Apesar da declaração dada na rádio Metrópole, o consenso é que a necessidade de derrotar Bolsonaro poderá fazer com que o ex-presidente da República abra o diálogo com o dirigente do DEM, da mesma forma que fez com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). As ameaças à democracia e a possibilidade de vitória do governo atual seriam pontos de convergência no eventual diálogo entre Lula e Neto. Portanto, o que o petista falou na Metrópole soou muito mais como jogo de cena para animar a plateia e a militância do partido do que como um fato real. A conferir. 


 
As condições para a sucessão de Geraldinho
 
Palestrante do último almoço do LIDE-BA, na segunda-feira, no Fera Palace, o presidente da Câmara de Salvador, Geraldo Júnior, do MDB, aproveitou o evento para o empresariado para tornar pública as condições que terão que ser levadas em consideração na sua sucessão em 2022. Segundo disse Geraldo, quem quiser sucedê-lo no comando do Legislativo da capital "terá que ser leal, terá que entender que a lealdade é diferente de fidelidade, terá que ser verdadeiro e transparente, não podendo colocar o carro adiante dos bois, e muito menos ficar antecipando movimentações antes da hora". Habilidoso, o atual presidente foi fundamental na vitória de Paulo Câmara, na eleição de Leo Prates e nas suas duas vitórias, se configurando como um conhecedor exímio da casa e dos seus bastidores. E mais, o próprio prefeito Bruno Reis já externou que a sucessão da Câmara passará diretamente por Geraldo Júnior, que deve se lançar candidato para a Camara Federal.


 
O namoro de Yulo e o PSB
 
Ex-deputado pelo PT, Yulo Oiticica tem se aproximando do PSB e da senadora Lídice da Mata, presidente estadual do partido. Com base forte na Igreja Católica, Yulo tem sido cortejado pelos socialistas para se lançar candidato para a Assembleia Legislativa em 2022. 
 


Não falou bem assim. 
 
Depois de ter confirmado em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia, que o ex-presidente Lula queria que o PT da Bahia abrisse mão da candidatura do senador Jaques Wagner a governador para priorizar a eleição de Rui Costa para o Senado, o deputado federal José Guimarães, do PT do Ceará, foi obrigado a gravar um vídeo ontem desdizendo o que havia falado anteriormente. Sem conseguir se explicar direito, o deputado petista disse que a vinda de Lula à Bahia consolidava o apoio à pré-candidatura de Wagner ao Palácio de Ondina. Isso, apesar de a emenda ter ficado pior do que o soneto, já que Guimarães teria externado que o ex-presidente considera que a prioridade é a disputa presidencial, além da eleição de deputados federais e senadores. Nesse contexto, como a coluna Vixe já havia publicado, Wagner continuaria no Senado e Otto Alencar se lançaria candidato a governador. A conferir. 
 


Neto e Bruno estremecidos?
 
Quem circula pela praça Municipal passou a achar muito estranho o distanciamento entre o ex-prefeito ACM Neto e o seu sucessor Bruno Reis, ambos do Democratas. Óbvio que é salutar que o ex-inquilino do Palácio Thomé de Souza tenha destronado e deixado Bruno trabalhar, mas, desde que pipocaram as informações de que eles estariam estremecidos, após a tentativa de demissão, sem sucesso, do ex-prefeito de Amargosa, Rosalvinho Sales, que é apoiador declarado do ministro João Roma, que não se houve falar da aproximação de Neto e Bruno. O ex-prefeito teria exigido a demissão de Rosalvinho, mas o atual gestor fez vistas grossas e manteve o aliado de Roma nos quadros da prefeitura da capital.
 
 
Troca-troca 
 
Outro que trocou a gestão municipal pelo Ministério da Cidadania foi o filho do pastor Átila Brandão, o Átila Brandão Filho, que deixou o staff local e foi se juntar ao republicano em Brasília. Neto também não tinha engolido a saída...
 
 
 
Quem te segura?
 
Há quem diga nas dependências da prefeitura de Salvador que o prefeito Bruno Reis não morre de amores pelo superintendente da Transalvador, Marcos Passos. A permanência dele nos quadros da administração da capital estaria se dando por uma imposição do ex-prefeito ACM Neto, já que Marcos teria se colocado como um dos quadros "mais próximos" ao democrata na gestão passada.