Endividamento ameaça travar retomada da economia brasileira

Segundo o Banco Central dívidas das famílias chegam a 58,5% da renda

Por Flávio Gomes
29/07/2021 às 10h06
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Foto: Divulgação
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O Banco Central apresentou na quarta-feira (28), um relatório no qual aponta que o endividamento das famílias chegou aos 58,5% em abril deste ano, o maior porcentual da série histórica, iniciada em janeiro de 2005. Ou seja, para cada R$ 100 que uma família recebeu no último ano, ela já tem uma dívida contratada de quase R$ 60.

Com a renda afetada pela pandemia de covid-19, famílias e empresas nunca estiveram tão endividadas. O levantamento do Cemec-Fipe também aponta que o conjunto de dívidas das companhias não financeiras no Brasil atingiu 61,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em março de 2021, patamar também histórico. No fim de 2019, antes da pandemia, essa relação era de 50,1%.

De acordo com economistas, neste momento em que o desemprego e a inflação estão elevados, o aperto no bolso das famílias pode atrapalhar a retomada do crescimento econômico.

"Os juros vão subir, e as famílias que já estão endividadas terão opções de crédito ainda mais caras, o que pode comprometer a retomada do consumo no ano que vem", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Ele calcula que a economia crescerá somente 1,8% no ano que vem e que a retomada dos empregos será lenta.

Isso, na visão dele, terá impacto direto na renda dos brasileiros, que já está em baixa. Segundo dados do IBGE, a massa de salários em circulação caiu R$ 12 bilhões em um ano, o que representa um recuo de 5,4% no trimestre encerrado em abril em comparação ao mesmo período de 2020. Ou seja, o brasileiro está, além de mais endividado, mais pobre.

Para completar, a taxa de poupança das famílias vem em forte queda desde o segundo trimestre do ano passado. Segundo cálculos do Itaú Unibanco, o indicador chegou a ser de 31,1% no período entre abril e junho do ano passado, muito por causa do fechamento de comércios em geral no início da pandemia, e já voltou para 11,8% no primeiro trimestre deste ano.

"Muitas famílias de renda baixa deixaram de receber o auxílio emergencial no começo do ano e precisaram procurar outras formas de crédito", diz o coordenador do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec-Fipe), Carlos Antonio Rocca, que avalia como uma das principais características da atual crise a maior diferenciação entre as classes de renda.

*Com informações Estadão