"A volta de Lula não cicatriza as feridas deixadas por Bolsonaro", afirma Eduardo Leite

Governador do Rio Grande do Sul é o entrevistado do jornal A Tarde e do  Portal M!

Por Flávio Gomes e Osvaldo Lyra
19/07/2021 às 14h09
  • Compartilhe
Foto: Equipe M!
Foto: Equipe M!

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse em entrevista ao editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra, no Jornal A Tarde, que a volta do ex-presidente da República do PT "não cicatriza as feridas deixadas" por seu sucessor.

"O PT deu início a esse processo de discussão do nós contra eles, o tempo deles, o nosso tempo. E nesse discurso que buscou dividir sempre, separar uns dos outros, foi deixando terreno fértil para surgir Bolsonaro. Então por isso que eu entendo que a volta de Lula não cicatriza as feridas deixadas por Bolsonaro. Entendo que uma parcela da população, buscando superar os tempos difíceis que nós vivemos, lembre-se de um tempo de bonança de Lula e relembre com saudade daquele tempo", disse.

Eduardo disse ainda que é importante lembrar que muito daquela bonança foi proporcionada cavando um buraco grande no qual o país foi lançado nos anos seguintes.

"Para a gente poder superar esses problemas, a gente tem que criar um novo caminho, e não simplesmente voltar ao passado para substituir o que está aí. Então o encontro do ex-presidente Fernando Henrique com o ex-presidente Lula é legítimo, é um encontro de ex-presidentes, só que um desses ex-presidentes é candidato", ressaltou.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardozo se encontrou com o ex-presidente Lula na tentativa de distensionar esse antagonismo da política e construir um processo de diálogo para o próximo ano. Segundo o governador do Rio Grande do Sul é preciso ter bom senso e equilíbrio.

"Bolsonaro infelizmente é o oposto disso. É o caminho do conflito, do confronto, de uma política que busca mais destruir do que construir. Uma frase que eu gosto muito diz que o segredo da mudança, para se fazer mudança, é preciso focar a energia em construir o novo, e não em destruir o velho. Quem gasta energia tentando destruir perde a oportunidade de construir", pontuou.

"Tem muita energia desperdiçada no Brasil hoje na tentativa de destruição. Mas não pode deixar de ser dito que muito dessa energia canalizada para destruição feita por Bolsonaro é resultado de uma política divisiva, que buscou dividir, feita pelo PT também", completou.

Por ter declarado voto para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na última eleição, Eduardo Leite é cobrado por isso até hoje. Questionado se essa situação o deixa com uma pecha de bolsonarista arrependido, Leite afirmou que essa afirmação é exclusiva dos adversários de esquerda.

"É o que tentam adversários, especialmente a esquerda, colocar em mim, mas que de forma alguma corresponde à realidade. Ficou muito clara a minha posição naquela eleição de 2018. Eu poderia ter optado pelo caminho fácil de aderir, apoiar, fazer campanha junto de Bolsonaro, porque no primeiro turno das eleições o Rio Grande do Sul ele já fez mais de 55% dos votos. Então seria um caminho natural de quem quereria se eleger, quem queria se eleger a governador, mas não foi o caminho que eu optei, meu adversário sim", explicou.

Ele confirmou ainda que fez manifestação de voto, mas com críticas a Bolsonaro.

"No segundo turno, você tem uma eleição plebiscitária. Você tem dois caminhos. Você escolhe um caminho em relação ao outro. O que nós tínhamos naquele segundo turno? De um lado, Fernando Haddad, que representava o Partido dos Trabalhadores, com graves escândalos de corrupção, buscando aconselhamento na cadeia, não era aquilo adequado, seria um recado muito ruim para um país que estava buscando superar graves denúncias de corrupção das operações Lava Jato", disse.

"Do outro lado, a candidatura alternativa de Bolsonaro, que tinha um discurso durante uma vida pública inteira contrária ao respeito entre as pessoas. De ataque, de agressões. Mas, diante do quadro que se tinha, para evitar a volta do PT, naquele momento parecia o que era possível. Não tínhamos uma previsão de que teríamos uma pandemia e que a crueldade do presidente se apresentasse de forma tão grave, essa falta de compaixão que ele expressa de forma tão grave para o país num momento como essa pandemia. Então foi um erro e nós precisamos corrigir esse erro sem cometer um erro outro, que seja a volta ao passado de pouca responsabilidade e de denúncias de corrupção como a gente enfrentou", finalizou. 

Confira entrevista: