Artigo: Orgulho x humildade

Por Adilson Fonseca*
31/03/2021 às 08h00
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Foto: Divulgação
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"Muitos são orgulhosos por causa daquilo que sabem; face ao que não sabem, são arrogantes." - Johann Wolfgang von Goethe (1749 - 1832) cientista e filósofo alemão. 

A frase dita há mais de 180 anos, revela a natureza humana em tempos de pandemia, no Brasil e em boa parte do mundo. Arrogantes, avessos a quaisquer debates que contraponham suas convicções, os gestores orgulhosos se consideram os senhores da razão, e por isso não costumam ouvir seus pares que contra argumentam sobre determinadas medidas adotadas. Já o humilde, ouve, antes de mais nada, para tomar uma decisão. E tem a noção de que aquilo que julgava certo pode ser revisto.

Não há lógica, ou no mínimo sucinta debates, a implantação de lockdowns radicais, juntamente com o toque de recolher, que depois de um ano de pandemia, não trouxeram resultados satisfatórios. Em contrapartida, sem registros de aglomerações e "pancadões" de finais de semana, o número de contaminados pelo coronavírus só tem alimentado em todo o País, sem que os gestores responsáveis por essas medidas restritivas expliquem de onde vêm os doentes.

Historicamente a Medicina sempre cuidou de isolar os doentes, para evitar o contagio com os sãos. Juntar todos em um confinamento, como tem sido feito, parece não ser um resultado eficaz.
Não existe ciência (com c minúsculo), mas ciências para se chegar à CIÊNCIA. Se existem estudos que mostram que o lockdwon não tem sido eficaz, como atestam instituições de pesquisas renomadas, como as universidades de Alberta, no Canadá, de Stanford, nos Estados Unidos, as federais de Minas Gerais e de Pernambuco, no Brasil, e até mesmo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e especialistas dos mais variados matizes, por que não se debruçar sobre a questão, sem se revestir do ideologismo, mas sim de racionalidade na busca de um resultado?

Como justificar cientificamente o fechamento de templos religiosos, como se estes causassem aglomerações, quando o sensato seria proibir apenas as celebrações? Esses locais são refúgios espirituais e só superlotam em momentos de celebrações. Como justificar fechar secções de supermercados, por considerar itens que não sejam alimentos, limpeza e higiene pessoal, como não essenciais? Uma lâmpada que precisa ser trocada, um vasilhame plástico para guardar sobras de alimentos, um coador para quem não dispõe de uma cafeteira, se misturadas no carinho de compras vai transmitir o coronavírus ou gerar aglomerações? E quando se precisar de um conserto na casa e a loja de material de construção estiver fechada, porque não é considerada essencial? O que fazer?

O Professor do Departamento de Pediatria, Divisão de Medicina Intensiva, da Universidade de Alberta e especialista em infectologia do Hospital Infantil Stollery, em Edmonton, no Canadá, Ari Joffe, era um defensor do confinamento rigoroso. Depois de avaliar os resultados práticos da medida, entretanto, o médico publicou um artigo descrevendo por que mudou de ideia. Entre os motivos, Joffe destacou que "as previsões iniciais de modelagem" induziram ao "medo" e ao pensamento de grupo. 

Na Universidade de Edimburgo, na Escócia, pesquisa concluiu que as infecções na Grã-Bretanha já estavam diminuindo antes que o lockdown começasse no fim de março. Uma análise realizada pelo Instituto de Tecnologia de Karlsruhe descobriu que as infecções na Alemanha estavam se reduzindo na maior parte do país antes do início das medidas de confinamento. Também foi provado que o toque de recolher imposto na Baviera e em outros estados alemães não surtiu efeito. Nos Estados Unidos, menos de 1% da população vive em lares de idosos, mas, em janeiro de 2021, essa fração foi responsável por 36% das mortes.

"Na ausência de informação, pode-se manter o padrão de preservar a dignidade humana, a liberdade e o estado de direito, e então ir atrás de informação. Em vez disso, fez-se a opção de paralisar a sociedade por causa de incertezas", escreveu o economista Jeffrey Tucker, escritor de economia americano da Escola Austríaca. 

Dr. David Nabarro, embaixador da OMS, disse no final do ano passado: "Os lockdowns têm apenas uma consequência que você nunca deve menosprezar: torna os pobres muito mais pobres". E do professor da Universidade de Stanford e prêmio Nobel de Química em 2013, Michael Levitt> "Usar o lockdown, fechamento total do comércio não-essencial, como estratégia contra o coronavírus pode matar mais pessoas."

Para reflexões sobre o que se está fazendo e o que pode ser revisto.
 

* Adilson Fonseca é jornalista e escreve neste espaço às quartas-feiras.

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