'As principais ocupações econômicas do país estão nas mãos dos homens', critica Lídice da Mata

Deputada federal conversou com o Portal M! sobre os desafios das mulheres no mês em que elas são celebradas

Por Yuri Abreu
08/03/2021 às 08h56
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Foto: Portal M!
Foto: Portal M!

Primeira prefeita de Salvador, entre os anos de 1993 e 1996, a deputada federal, Lídice da Mata (PSB-BA), é uma daquelas mulheres que possui um forte e importante histórico de luta pelo igualdade de gênero, seja no Poder Executivo ou Poder Legislativo, este com mais ênfase, já que também foi senadora da República.

Em conversa com o Portal M!, ela falou sobre os principais desafios enfrentados pelas mulheres, no dia-a-dia, em busca de reconhecimento, mas afirmou que há muito a celebrar.

"Tirando a situação da pandemia, com mulheres na frente da luta pela vida, com muitas delas perdendo as próprias vidas, o aumento da violência contra a mulher e perda de renda, temos sim muitas vitórias neste caminho. A luta pela igualdade de direitos que é um caminho longo e dificil (...) mantidas as condições atuais, sem intervenção real para mudar a situação, levaremos até 80 anos pra alcancar a igualdade de gênero do Brasil", afirmou.

Questionada sobre as dificuldades das mulheres em ascenderem aos espaços de poder, assim como assumirem mais postos no Executivo e Legislativo, ela disse que a falta de suporte financeiro e o machismo na sociedade são alguns dos principais empecilhos a serem vencidos.

"As mulheres são maior parte do eleitorado do país, com 52% dos votantes, mas não conseguem ter mais de 10 a 15% de representação política nas Casas Legislativa. Este é um grande problema que impacta na democracia brasileira. Infelizmente, a decisão política não nos inclui devidamente", diz

"A dificuldade de ela estar nos espaços de poder se relaciona com a raiz cultural do machismo, que nos coloca, na socidade, pelo cuidado interno, doméstico, das famílias, e pelo cuidado das pessoas. Além disso, somos as menos votadas porque não temos recursos para bancar as campanhas em uma sociedade em que o voto é caro. As principais ocupações econômicas do país estão nas mãos dos homens", critica.

Política e pandemia

Durante a conversa, ela defendeu a implantação das cotas para eleições legislativas, como uma forma de se chegar a essa igualdade, pelo menos no parlamento. Lídice pontuou que só houve o crescimento de 50% de mulheres nas duas casas por conta de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em que determinou que 30% dos recursos do Fundo Partidário, obrigatoriamente, sejam direcionados para elas. 

"Isso foi algo que impactou positivamente no aumento de vagas no parlamento. Defendeu cotas para mulheres no parlamento. Mulheres são capazes e têm o direito de alcançar as mesmas posições que os homens na sociedade", ratifica.

Com relação ao aumento de casos de violência contra a mulher, a pessebista afirmou que, para mudar esse cenário, é preciso mudar a formação dos jovens e das crianças, principalmente os homens.

"A pandemia tem revelado mazelas da nossa sociedade, a profunda desigualdade no país,  principalmente nos níveis mais empobrecidos. O cenário atual gera um estresse nas relações, principalmente na violência de gênero. Os homens estão mais tensos, em casa e acabaram  perderam sua renda. A forma de revelar esse estresse se dá na violência contra os filhos, mulheres e vulneráveis. Os feminicídios aumentaram. É preciso mudar a formação dos jovens e crianças, dando limites, que os homens não podem ter tudo, podem perder e que as mulheres são suas propriedades", afirmou Lídice da Mata.

Confira o podcast completo com a deputada federal, Lídice da Mata (PSB-BA), clicando no player abaixo: