Médicos defendem telemedicina, mas alertam que modelo de atendimento não deve se tornar regra no pós-pandemia

O Cremeb teme que planos de saúde restrinjam pacotes de serviço a atendimentos virtuais

Por Francisco Artur
03/03/2021 às 16h30
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Foto: Reprodução/ Conecta Medico
Foto: Reprodução/ Conecta Medico

Um ano atrás, com o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, a rotina de atendimento da médica Júlia Lopes vem sendo construída por meio da comunicação digital.

Em vez de comandar todas as consultas de forma presencial, a otorrinolaringologista de 29 anos se divide entre atender alguns pacientes na clínica e outros por telechamadas, usando um aplicativo de conversas. 

Entre as consultas virtuais, ela acredita ser uma boa opção a pacientes que pertencem a grupos de risco, como idosos e pessoas com doenças crônicas. 

"Também para aqueles com suspeita da  Covid-19, para avaliação inicial, orientações e monitoramento deles dentro de suas casas quando as condições clínicas permitem , reduzindo assim a transmissão do vírus", acrescentou a otorrinolaringologista, ponderando que o teleatendimento não deve, como regra, substituir a relação presencial, em que há uma proximidade entre o médico e paciente. 

Otorrinolaringologista Júlia Lopes se divide entre atendimento presencial e virtual


Aumento na telemedicina


Assim como a médica Júlia, outros profissionais de saúde vêm adotando consultas online como forma de prevenção à saúde.  A adesão a este modelo é representada pelo crescimento da plataforma de atendimento médico virtual DocWay, que registrou um crescimento de 600% no faturamento em 2020.

Segundo a empresa, ao longo do ano passado, foram registrados mais de um milhão de atendimentos na plataforma, sendo que apenas 35% das consultas tinham relação direta com a Covid-19.

Diante desse fenômeno do aumento de assistência médica virtual, o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) e integrante do Conselho Federal de Medicina (CFM), Júlio Braga, afirmou que essa modalidade não pode se transformar em regra no período pós-pandemia.

"A telemedicina ela apresenta limitações prejudiciais à relação do médico e paciente, como a falta do exame físico, já que o médico precisa apalpar e conversar olhando nos olhos do paciente", disse Júlio, reconhecendo a legitimidade da teleconsulta no momento de pandemia.

Ele também mostrou preocupação com a possibilidade de governos e seguros de saúde restringirem pacotes a atendimentos via telemedicina, condicionando médicos e pacientes a seguirem por este caminho.

"O padrão é apenas adotar o virtual quando o atendimento presencial não puder ser realizado. Então o receio é que haja uma prática abusiva de atendimento online e que governos e planos de saúde usem isso como modelo", pontuou.