Medicina integrativa tem bons resultados no tratamento da endometriose

Abordagens para controlar processo inflamatório melhoram qualidade de vida e trazem mais benefícios do que o tradicional bloqueio menstrual

Por Redação
23/02/2021 às 22h30
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Foto: Divulgação
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Práticas da medicina integrativa mostram que é possível melhorar a qualidade de vida da paciente com endometriose por meio de tratamentos que extrapolem uma monoterapia com anticoncepcional para bloquear a menstruação. A doença, causada pela presença de células do endométrio fora do útero, acomete uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva no Brasil. 

Embora a dor descrita pela maior parte das pacientes seja incapacitante, com fortes cólicas que podem levar à internação, mundialmente, as estimativas mostram que um diagnóstico preciso pode demorar quase uma década. As mulheres sofrem também com a falta de opções para tratamento: na maior parte das vezes, a solução apresentada para reduzir a dor fica restrita ao bloqueio da menstruação e à cirurgia. 

"Quando se bloqueia a menstruação, trata-se a consequência, mas não a causa do problema, que é a inflamação. Ao longo desses anos, muitas coisas evoluíram. Antigamente, se pensava que a endometriose era apenas associada ao refluxo menstrual; hoje sabemos que se trata de uma doença que tem total interação com o sistema imunológico e um caráter inflamatório muito importante. Portanto, todas as medidas que visem reduzir a inflamação crônica, melhorar a imunidade e corrigir a disfunção intestinal vão fazer com que as pacientes tenham resultados melhores em todos os aspectos", explica o médico ginecologista Jorge Valente, especialista em medicina integrativa e reposição hormonal. 

 

Correção da dieta

Com 22 anos de atuação em prática médica e uma visão holística da doença, Jorge Valente alerta para a importância da dieta, na prescrição para o controle da sintomatologia em pacientes com endometriose. "A gente tem no intestino vários receptores de reconhecimento de tudo o que a gente come. Alimentos processados, ricos em gliadina, caseína, são altamente inflamatórios, e essa inflamação intestinal gera problemas para a paciente com endometriose. Por isso, o auxílio nutricional, com plano alimentar para reduzir álcool, lácteos e carboidratos é fundamental", aponta o médico. 

Segundo ele, o tratamento inclui ainda a reposição de probióticos, para que a paciente tenha uma nova microbiota anti-inflamatória, a prescrição de antioxidantes, que contribuem na redução do sofrimento físico da paciente, e a reposição de vitamina D.

"Corrigir os níveis de vitamina D faz com que o sistema imunológico entre em equilíbrio e toda essa cascata de inflamação diminua", observa Jorge Valente. 

A introdução de uma terapia voltada ao controle da inflamação, que corrige a dieta e lança mão de antioxidantes, probióticos e vitamina D, faz a diferença na estabilização do quadro clínico das pacientes. Na prática - aponta o médico - isso pode significar o fim de um grande sofrimento durante o período menstrual.  

"O que a gente percebe é que após 45 a 60 dias, cerca de 90%, 95% das pacientes estão sem dor. Isso muda significativamente a qualidade de vida, se pensarmos que existem mulheres com endometriose que precisam ir para a emergência todo mês. É um período de uma semana, dez dias, em que sua vida está totalmente comprometida, devido a dores incapacitantes, que deixam a pessoa impossibilitada de realizar outras atividades", afirma. 

 

Sem negligenciar a dor 

De acordo com o ginecologista Jorge Valente, o acompanhamento da paciente com endometriose é contínuo e, embora existam confluências entre as prescrições, a terapia é individualizada, respeitando as particularidades de cada mulher para o melhor resultado. 

O médico lembra ainda que a dor ocorre, geralmente, durante o período menstrual, podendo haver, associados à cólica, sintomas intestinais, impactos psicológicos, como ansiedade e depressão - muito frequentes em pacientes com infertilidade -, além de resistência insulínica e aumento da circunferência abdominal.

Para o diagnóstico, ele recomenda acompanhamento de um profissional qualificado, e destaca que é fundamental não negligenciar a dor.