Com 50 anos de folia, Antônio Diniz afirma que profissionalização consolidou atual formato do Carnaval

Para ele, folia em 2022 será a maior da história pela expectativa criada desde já

Por Yuri Abreu
12/02/2021 às 18h11
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Foto: Divulgação
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Com mais de 50 anos de Carnaval - pouco mais de 30 deles dedicados à cobertura da folia de momo em Salvador -, o jornalista Antônio Luiz Diniz também foi mais um a lamentar o cancelamento da maior festa de rua do mundo em 2021, devido a pandemia de covid-19.

Para ele, que teve o gostinho dos festejos em 1962, aos seis anos, quando foi levado ao Carnaval pela avô, e mais tarde aos 15, em 1970, quando foi sozinho pela primeira vez à festa, o principal evento do verão de Salvador passou por algumas mudanças, sendo uma delas a mais importante: a profissionalização, a partir de meados dos anos 1980, quando surgiu a axé music.

"O Carnaval era mais tranquilo, porém desorganizado. Não havia ordem dos desfiles dos blocos e era uma confusão pra entrar no Campo Grande. Além disso, as pessoas ainda guardavam lugara botando cadeiras nas ruas para acompanhar os desfiles", lembra o jornalista.

"A partir de 1985, 1986, depois do lançamento da música Fricote, de Luiz Caldas, foi quando as coisas começaram a mudar. Surgiram outros artistas como Sarajane, além das bandas Mel e Reflexus. Daí em diante, a festa foi cada vez mais se consolidando", salientou Diniz.

Chicleteiro assumido, o também colunista de Carnaval do jornal Tribuna da Bahia elencou dois momentos como os mais importantes da carreira dele enquanto foi repórter durante a folia. Um deles foi em 1980, quando o trio "Traz os Montes" fez uma verdadeira revolução com a implantação do som transistorizado.

"Muitos acharam que o cantor, Missinho, estava fazendo dublagem das músicas. Foi preciso que o bloco permitisse o acesso aos jornalistas, em cima do trio, para que eles confirmassem a novidade. Acabou virando tendência para os carnavais seguintes", afirma.

Já o segundo episódio ocorreu há cerca de 6 anos, quando Bell Marques anunciou que estava saindo do Chiclete com Banana. "Aquele Carnaval foi marcante e emocionante. Era um momento que não queria que acontecesse, mas acabei vendo tudo isso em cima do trio", diz.

Impactos e perspectivas

Diniz, que também viu outras mudanças na festa, a exemplo da "descida" dos blocos para a Barra, que foi puxada por Daniel Mercury, no início dos anos 1990, também falou sobre o impacto da não realização da festa neste ano, devido a pandemia de covid-19.

"Além do prejuízo grande de bilhões nas economias de Salvador e da Bahia, há também os impactos sobre toda a cadeia produtiva e de pessoas que tem o Carnaval como caminho para conseguir ganhar dinheiro. Acredito que todos vão sofrer. Os hoteis estão vazios e os turistas não virão. As cervejarias não terão o mesmo faturamento e o comércio terá problemas", disse.

Para 2022, a perspectiva dele é a de que o só haverá Carnaval se todo mundo estiver vacinado. Para Antônio Diniz, pelo andar da vacinação contra a Covid-19, a chance é pouca de, mesmo, Salvador ter uma festa do gênero no mês de julho deste ano, como chegou a ser aventado pelo prefeito Bruno Reis (Democratas).

"Acredito que teremos um grande Carnaval no ano que vem, devido a toda expectativa que já está sendo criada. Todo mundo vai querer vir à Salvador reviver essa energia", disse o jornalista, que vai participar, na próxima quarta-feira (17), do lançamento do livro que reúne crônicas de pessoas que viveram de perto a história do Carnaval.