Artigo: O Duplo Padrão e o medo do debate

Por Adilson Fonseca*
20/01/2021 às 08h00
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Foto: Divulgação
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Em 1633, o matemático, físico, astronômico e filósofo italiano, Galileu Galilei (1564-1642), foi condenado por heresia pelo Papa Urbano VIII, por defender o Heliocentrismo, que definia, entre outras coisas, que não era a Terra o centro do sistema Solar, mas o Sol, e que este, uma estrela de quinta grandeza, também não era o centro do universo. O físico foi uma vítima ícone da censura e amargou os últimos anos de sua vida, instado a abrir mão de suas convicções científicas, e vivendo em prisão domiciliar.

Galileu Galilei tinha plena convicção dos estudos, fruto de observações e cálculos, do método científíco do Heliocentrismo (Nicolau Copérnico - 1473-1543) sobre a configuração do sistema solar, da Terra, do Sol e do próprio Universo conhecido. Mas não tinha como provar. Somente três séculos e meio depois, em 1983, a condenação de Galileu foi revista pelo Vaticano, e suas teorias, precursoras das leis de Newton, que embasaram as atuais viagens espaciais e o estudo das estrelas, foram aceitas.

Nos dias atuais, e convivendo com a pandemia do Coronavírus (Covid-19), são muitas as hipóteses e observações científicas, sobre as formas de combate da doença. Desde as vacinas, ponta da linha dos experimentos científicos, aos métodos preventivos, com o uso dos mais diversos medicamentos. Nenhuma ainda tem a certeza científica, porque a própria ciência precisa de tempo para comprová-las. Mas a politização com que se transformou a pandemia no Brasil, impede tais debates e até mesmo, como na Idade Média, cerceia-os e ameaça de banimento os que ousam questionar os atuais métodos, ou simplesmente propor tais debates.

O Twitter, uma das plataformas digitais mais acessadas no mundo, ameaça cancelar pessoas que falem sobre a Hidroxicloroquina e Ivermectina, e outros medicamentos, como mecanismos que podem atenuar a expansão do Coronavírus no organismo humano. E mira suas censura para o presidente Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde, e também a deputados que apoiam o Governo Federal. O site do Ministério da Saúde diz de forma inequívoca: "Para combater o Covid-19, a orientação é não esperar. Quanto mais cedo começar o tratamento, maiores as chances de recuperação. Ao apresentar os sintomas do Covid-19, procure uma unidade de saúde e solicite o tratamento precoce".

Lembremos que no início da pandemia, o ex-ministro da Saúde e hoje desafeto do presidente Jair Bolsonaro, Henrique Mandeta, pregou que as pessoas só deveriam procurar as unidades de saúde quando sentissem falta de ar. Médicos e cientistas laureados internacionalmente, como Nise Yamagutchi, Anthony Wong e Roberto Kalil, dentre os mais de 10 mil profissionais da ciência e da Medicina que se manifestaram publicamente, defendem o tratamento precoce, não como cura, mas como atenuante e preventivo para impedir a expansão da doença. 

O duplo padrão nos julgamentos e avaliações de grupos sociais ou de lideranças, segue o viés político e ideológico no Brasil, onde a verdade universal da ciência, em um momento atual em que não há quaisquer comprovações científicas definitivas sobre a pandemia, não pode ser questionada, não para invalidar os procedimentos, mas para aprimorá-los. 

As pesquisas científicas, em quaisquer áreas, seguem um padrão de investigação e posterior aplicabilidade, que fornecem as bases lógicas ao conhecimento científico: o método indutivo, o método dedutivo, o método hipotético-dedutivo, método dialético fenomenológico, juntando experiências empíricas - baseadas na observação sistemática, resultantes de experiências de campo - para depois analisa-las com o uso da lógica.

Foi isso que fizeram os antigos pesquisadores no Egito e na Grécia, há mais de mil anos. Foi isso que fez Galileu Galilei na Idade Média, Alexander Fleming, nas décadas de 30 e 40 do século passado, e fazem os atuais médicos e cientistas brasileiros que defendem o tratamento precoce contra a Covid-19. Antes de obter a comprovação científica, juntam experiências empíricas (no atendimento clínico e na reação dos pacientes) e as aplicam com a lógica científica. Cercear o debate é voltar aos primórdios da Idade Média e reviver, nesses médicos e cientistas, a figura de Galileu Galilei.

* Adilson Fonseca é jornalista e escreve neste espaço às quartas-feiras.

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