Aumento do consumo de álcool é o foco do Janeiro Branco

Mês foi escolhido pela OMS para alertar para a qualidade da saúde mental

Por Redação
14/01/2021 às 07h00
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Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

No mês escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para reforçar a atenção para a saúde mental e prevenir as patologias, um dos principais alertas do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) é para a relação entre o uso do álcool e problemas emocionais.

Segundo a entidade, o Janeiro Branco pretende chamar a atenção para o tema, principalmente no período de confinamento em decorrência da Covid-19, que se estende desde março do ano passado até agora. No período, chama atenção o aumento no consumo de álcool, além do fato de que a pandemia tem desencadeado transtornos mentais ou agravamento dos existentes.

Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizada em parceria com as universidades Federal de Minas Gerais e Estadual de Campinas, no período de 24 de abril a 8 de maio de 2020, indicou que o aumento do estado depressivo pode estar relacionado ao aumento do consumo de álcool relatado durante a pandemia: 18% dos entrevistados - 18,4% entre homens e 17,7% entre mulheres - afirmaram estar ingerindo mais bebidas alcoólicas nesse período.

O maior aumento, de 26%, foi registrado na faixa etária de 30 anos a 39 anos de idade, e o menor entre idosos, de 11%. Quanto maior a frequência dos sentimentos de tristeza e depressão, maior o aumento do uso de bebidas alcoolicas, atingindo 24% das pessoas que têm se sentido dessa forma durante a pandemia, indicou a pesquisa.

"Nessa faixa etária existe um depósito muito grande de sonhos, se está com energia sobrando querendo trabalhar, casar, ter filhos, ser ousado para construir metas mais interessantes. Isso tudo foi podado de forma violenta por conta da pandemia. As pessoas tiveram que ficar presas, sem os amigos, suas experiências, adiar sonhos e projetos por conta desse futuro totalmente incerto", avaliou o médico psiquiatra e presidente do Cisa, Arthur Guerra.

Ele lembra que está sendo frustrada a expectativa de que o ano de 2021 viraria uma chave na esperança da normalidade. Isto porque os números da Covid-19 só aumentam e trazem a ideia de que o ano deve ser tão ou mais difícil do que o anterior, contribuindo para uma piora da saúde mental.

 

Conceito de saúde mental

De acordo com Guerra, é preciso compreender que o mundo e a humanidade mudaram a definição de saúde mental. No passado, isso significava a ausência de doença mental, como esquizofrenia, depressão, ansiedade, dependência química, entre outras.

Então, na ausência de um diagnóstico médico psiquiátrico, o indivíduo era considerado saudável mentalmente.

"Hoje o conceito evoluiu. Nós temos que saúde mental é muito mais um modelo de qualidade de vida no qual você está preocupado não só com o aparecimento da doença mental, mas, principalmente, com a prevenção, com o diagnóstico precoce, com os fatores que levariam a uma doença mental. É muito mais uma postura pró-ativa de não deixar que a doença se instale, porque muitas vezes pode ficar crônica", explicou.

Guerra reforçou que o mundo antes da pandemia já era competitivo e favorecia o aparecimento de quadros de doença mental, com a oferta de atividades compulsivas, álcool e drogas em excesso - sejam legais ou não -, jogos, falta de exercícios, estímulos para se ter um corpo bonito, cobranças para ser bem sucedido e ganhar muito dinheiro.

"Cada vez mais cedo os jovens tinham essas diretrizes que chamamos de fatores estressores e que favorecem os distúrbios mentais. Durante a pandemia isso se multiplicou, porque manter esses valores foi por água abaixo com o confinamento. As pessoas ficaram muito mais vulneráveis dentro desse contexto de ter menos relações sociais e de não ter uma solução para esses problemas", disse.

De acordo com o psiquiatra, é extremamente importante ficar alerta ao menor sinal de aumento do consumo de bebida alcoólica nesse período, porque, ainda que para muitas pessoas esse consumo possa ser normal, para outras pode se tornar exagerado.

"É exagerado quando, independente da frequência e da quantidade, existe um prejuízo ou para aquela pessoa ou para quem está no entorno dela. Às vezes não é dependência, mas está no caminho para se tornar", alerta o presidente do Cisa.

 

* Com informações da Agência Brasil.