ARTIGO: 2021 será mesmo um ano diferente...

Por Rodrigo Daniel Silva*
22/12/2020 às 08h00
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Foto: Divulgação
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2021 será mesmo um ano diferente...

...não iremos percorrer os oito quilômetros da Conceição da Praia até a Igreja do Bonfim, com os pés latejando de dor e a cabeça quente de tomar sol. Não vamos lamentar ter esquecido o protetor solar nem reclamar do preço exorbitante do Uber para voltar pra casa após subir as sagradas colinas, e nem vamos pensar: "em 2022, Deus me livre estar aqui de novo, mas quem me dera".

Em 2021, não iremos mergulhar os pés nas águas do Rio Vermelho. Não iremos acordar cedo para ser o primeiro a saudar Iemanjá, pedindo que nos ajude e ouvindo dela que tenha paciência de esperar. E vamos precisar tanto de paciência em 2021, né, meu caro amigo? Também não vamos resmungar do preço das flores, e nem da falta de um lugarzinho para parar o carro.

Em 2021, também não iremos ouvir Márcio Victor, de cima do trio, estribilhar: "músicaaaa do caarrrnavalll". Também não veremos Kannário puxando uma massa de gente, e nem gritando: "O Kannário tá chegando". Ora contendo a truculência de alguns policiais ora instigando os foliões contra os PMs. No ano que vem, também não veremos o pessoal descer para ver os filhos de Gandhi, com os colares no pescoço e nas mãos um frasco de alfazema. Também não olharemos para o desfile do Olodum pelas ladeiras e ruas estreitas do Pelourinho. 

Em 2021, não desceremos na muvuca do trio de Dodô e Osmar, do Clube Espanhol até o Farol da Barra, antes mesmo do carnaval começar oficialmente, e nem ouviremos: "pra quê tantos dias de festa?". Pergunta esta corriqueira daquele amigo chato. Porém, o nosso corpo mesmo fatigado nada pergunta. Também não escutaremos que vai acabar o circuito do Campo Grande. Nem aquela dúvida que chega a nos deixar irritados: quem é melhor Claudinha ou Ivete?

No próximo ano, não nos perguntaremos: "será que o governador e o prefeito vão para a saída do Ilê Aiyê?". "Será que vão ser vaiados?" O cântico "quem é que sobe a ladeira do Curuzu?" ficará tão somente na doce lembrança. Também não sentiremos as pipocas cair em nossas cabeças, e não nos encantaremos com os pombos da paz voando. Nem veremos os artistas globais na sacada deslumbrados com a magia da cultura baiana. Tudo isto será apenas fotografias na tela do celular. Mas como dói!

Mas, caro amigo, que 2021 seja um ano de muito aprendizado e grandes conquistas, e que Deus abençoe cada um de nós.

Obs.: Peço desculpas ao amigo leitor por não falar hoje de política, mas precisava desabafar.

*Rodrigo Daniel Silva é jornalista, repórter na Tribuna. É mestrando em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Jornalista. Twitter: @rodansilva
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