ARTIGO: O açodamento sino-paulista e uma vacina ainda incompleta

Por Adilson Fonseca*
16/12/2020 às 08h00
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Foto: Divulgação
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A Indonésia, um dos três países que adotaram, junto com o Brasil (no caso, o Estado de São Paulo) e a China, protocolo para o uso da Coronovac, revogou uma declaração oficial sobre os resultados positivos do imunizante, após constatar que não existe ainda dados que demonstrem a eficácia da vacina. A farmacêutica estatal da Indonésia, Bio Farma, disse na semana passada, que ainda não é possível determinar a eficácia do potencial da vacina fabricada pela farmacêutica chinesa Sinovac, que anteriormente anunciara que o imunizante tinha eficácia de até 97%.

Recentemente o dono do Laboratório Sinovac, fabricante chinês da Coronavac, Yin Weidong, admitiu, em entrevista à agência Bloomberg, que ainda não dispõe de dados sobre a eficácia da vacina e que prevê para janeiro a divulgação desses resultados. As declarações bem que poderiam servir de suporte para o governador de São Paulo, João Doria, e de outros gestores estaduais e até mesmo municipais, para que diminuíssem o tom açodado em querer aplicar, de forma obrigatória, a vacina chinesa sem que ainda seja comprovada a sua eficácia.
No açodamento do governador João Dória, que lidera com outros governadores e alguns prefeitos a oposição ao Governo Federal, São Paulo
anunciou a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, e estipulou o início da vacinação para 25 de janeiro. Na esteira do açodamento ideológico, outros governadores prometem ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) para forçar o presidente Jair Bolsonaro a utilizar a Coronavac como o imunizante no Brasil, mesmo que não venha a ser validado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Tudo em nome da ideologia.
O açodamento ideológico também contaminou o STF. Neste final de semana, o ministro O ministro Ricardo Lewandowski deu prazo de 48 horas para que o Ministério da Saúde informe as datas de início e término do plano nacional de operacionalização da vacinação contra a Covid-19, inclusive de suas fases de implantação. Para o Ministério da Saúde, contudo, "apresentar uma data, especificar um imunobiológico e apresentar informações sem a devida identificação de uma vacina aprovada pela Anvisa, não condiz com as práticas de segurança e eficiência do Programa Nacional de Imunizações da pasta, que não trabalha com fulcro em especulações desprovidas de confirmações técnicas e científicas".

O que os gestores estaduais e municipais, nas suas críticas compulsórias ao presidente Jair Bolsonaro, precisam ter em mente, é que todas as tecnologias no fabrico das vacinas contra o Covid-19 são bem vindas, mas que é preciso que comprovem, não só a segurança, mas também a eficácia e imunidade, que são partes imprescindíveis para obterem o aval de serem aplicadas na população. Todas têm chance de funcionar, mas é preciso observar peculiaridades, como o fato de que pode acontecer de uma ser melhor para idosos, e outra só funcionar em jovens. Pode ser que uma seja dose única e outra precise de duas ou três doses. Pode ser que uma seja mais eficaz, e proteja mais pessoas do que outra. 

Tudo isso deve ser levado em conta quando se prepara uma campanha de vacinação em massa. Importa muito mais as respostas que o medicamento vai ter na sua aplicação, e seus efeitos, do que a marca deste ou daquele fabricante, e menos ainda, os conchavos e acordos, e os posicionamentos político-ideológicos dos gestores públicos. 
No caso específico da Coronavac, da China, que virou uma espécie de cabo de guerra do governador João Dória, e que vem sendo utilizado por alguns governadores e prefeitos para atacar o presidente da República, é preciso explicar, por exemplo, se a farmacêutica, que já foi acusada de suborno no fabrico de vacinas no passado, tem ou não boas práticas de fabricação. É o mesmo procedimento que está sendo feita com a AstraZeneca a Pfizer.

O que não pode é um governador e seus seguidores ignorar esses fatos, e em nome da ideologia resolver vacinar a população, de forma obrigatória, com uma vacina que ainda não está completa, e cujos riscos, eficácia e segurança, precisam ser amplamente demonstrados.

* Adilson Fonseca é jornalista e escreve neste espaço às quartas-feiras.

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