ARTIGO: Omissão e conveniência 

Por Adilson Fonsêca*
09/12/2020 às 08h00
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Foto: Divulgação
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Um ano antes de começar a Segunda Guerra Mundial, em 1º de setembro de 1939, Adolf Hitler anexou a Áustria, e em seguida a Checoslováquia. As grandes potências da Europa, França e Inglaterra, protestaram de forma tímida, e não mais que isso. E de forma conciliatórias, para evitar uma guerra, aquiesceram. Em 1º de setembro de 1939, confiante da impunidade, Hitler invadiu a Polônia, sob o olhar complacente das potencias europeias. A Polônia desapareceu como país, e foi dividida entre a Alemanha e a antiga União Soviética (URSS), até o fim da guerra, em 1945.

Um dos principais motivos que levaram à situação que resultou em seis anos de conflito mundial, com mais de 65 milhões de mortes, foi a ausência de uma reação firme à agressão nazista, quando ainda era possível conter os ímpetos de Adolf Hitler. Sob o argumento de que era melhor ser complacente e ceder ao apetite nazista, a Europa se curvou, e quando tentou reagir, pouco ou nada pôde fazer. Polônia, Noruega, Holanda, Bélgica e França foram ocupadas durante cinco anos, ficando apenas a Inglaterra, antes relutante com o primeiro-ministro, Neville Chamberlain, e depois combativa com a ascensão de Winston Churchill.

Guardando as devidas proporções, mas fazendo um comparativo da história com os dias atuais, assistimos no Brasil, e em parte do mundo, uma complacência com a ditadura chinesa, sob o argumento de ser uma potência econômica, e no caso do Brasil, o nosso principal parceiro comercial. O prurido comportamental dos brasileiros impede que seja feita quaisquer referências negativas àquele país, mesmo quando se trata da violação dos direitos humanos, poluição ambiental, espionagem industrial e, mais recentemente, como revelaram documentos, negligência com as ações iniciais para evitar a propagação mundial do coronavírus (Covids-19).

No ano passado, em maio à situação conflitante em Taiwan, que a China considera parte do seu território, a Embaixada da China enviou uma carta à Câmara dos Deputados pedindo que estes não se manifestassem a favor de Taiwan. Taiwan é um país independente, com um governo eleito democraticamente e economia própria, mas vive sob constante ameaça de invasão militar por parte da ditadura chinesa. Apesar da interferência direta junto aos parlamentares brasileiros, os líderes do Congresso não reagiram.

Agora em uma crítica feita pelo deputado federal, Eduardo Bolsonaro, se referindo àquele país como uma ditadura, a Embaixada Chinesa no Brasil, ameaçou o parlamentar e o Congresso, e ditou normas de como estes devem se comportar. O porta-voz da embaixada chinesa, Yang Wanming, disse que "Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e evitar ir longe demais, tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil."

A China esqueceu que independente de ser ou não filho do presidente do Brasil, Eduardo Bolsonaro é um deputado eleito democraticamente, tem imunidade parlamentar, é livre e está em seu país. Ao contrário da China, o Brasil não é uma ditadura comunista. É um país democrático, que garante a liberdade de expressão e não cabe à China discutir o ordenamento constitucional brasileiro. Mas o Congresso e a maior parte da imprensa, se omitiram e foram omissos. Todos com medo de magoar o "dragão".

Quem se atreve a criticar a ditadura gigante da Ásia, como fez a Austrália, sofre represálias do   Partido Comunista da China, na forma de tributos de importação. Em março deste ano, o governo australiano defendeu publicamente a ideia de que nações democráticas investiguem se os chineses instrumentalizaram o novo coronavírus para ganhar dinheiro. Desde então, os comunistas têm atacado setores estratégicos da economia australiana. A lista de produtos com sanções inclui cevada, carne bovina, carvão, cobre, algodão, lagostas, açúcar, madeira, trigo e lã.

"Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes". Abraham Lincoln (1809-1865) - Foi o 16º presidente dos Estados Unidos, entre 1861 e 1865, e o primeiro presidente do Partido Republicano.


* Adilson Fonseca é jornalista e escreve neste espaço às quartas-feiras.

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