ARTIGO: Made in China

Por Adilson Fonseca*
28/10/2020 às 08h00
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Foto: Divulgação
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Quem já contraiu o coronavírus (Covid-19) pode se vacinar contra a doença? E quem tem comorbidades (mais de uma doença em uma mesma pessoa) também pode? Crianças precisam ser vacinadas? São perguntas que precisam ser respondidas antes de se começar um processo de vacinação em massa em qualquer parte do planeta. E não seria diferente no Brasil, onde antes mesmo de se estabelecer protocolos de como seria a vacinação, já tem governadores que querem determinar a obrigatoriedade da mesma. 

Na semana passada, um dos maiores especialistas brasileiro na área de imunização, o neurocirurgião Paulo Porto de Melo, falou sobre os riscos e efeitos colaterais das vacinas, entre as quais a Coronavac, alvo da polêmica envolvendo o governador de São Paulo, o presidenciável João Dória, e o presidente da República, Jair Bolsonaro. A Coronavac, é a  vacina chinesa produzida pelo Laboratório Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, uma das que vai ser testada no Brasil.

O governador quer a obrigatoriedade da vacina para os 46 milhões de paulistas, enquanto o presidente diz que essa ou qualquer outra vacina não deve ser obrigatória para os brasileiros, mas sim dentro de um critério técnico que identifique quem pode e quem não pode tomar o medicamento. Por isso não avaliza a sua compra imediata. A politização sobre o uso ou não do medicamento, só aumenta a insegurança da população, até porque, por ser um regime ditatorial, fechado, onde não há qualquer isenção nas informações, que só podem ser aquelas oficializadas pelo PCC (Partido Comunista Chinês), não se sabe a extensão do que é ou não é verídico.

Para uma vacina ser aprovada, ela precisa passar por diversas fases de testes clínicos prévios de laboratórios e em humanos. Primeiro, ela é avaliada em fases pré-clínicas, que incluem testes em animais, como ratos ou macacos, para identificar se a proteção produz resposta imunológica. A fase 1 é a inicial, quando os laboratórios tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz imunidade contra um vírus. Já a fase 3 é a última do estudo e tenta demonstrar a eficácia da imunização.

O histórico do regime político da China suscita dúvidas naturais quanto à veracidade das informações que vêm daquele regime. Berço da Covid, foi lá que aconteceu a repressão da informação, quando médicos denunciaram os primeiros casos e estranhamente foram presos e não mais se soube dos seus paradeiros. É de lá também que vieram as denúncias de manipulação do uso da vacina. Para minimizar as críticas de ter sido a "mãe|" do Covid-19, o governo chinês acelerou a produção de uma vacina contra o novo coronavírus, oferecendo recursos às empresas farmacêuticas, e quatro empresas começaram a testar suas vacinas em seres humanos.

O país, contudo, ainda gera desconfiança, até porque, há dois anos se descobriu que vacinas (não a do Copvid-19) ineficazes foram aplicadas em bebês. Sem divulgar detalhes sobre gastos, e o percentual da população, de 1,5 bilhão de pessoas que estão sendo testadas, o Brasil pode estar sendo usado como um grande laboratório experimental. Algumas vacinas chinesas estão sendo testadas no próprio país, como a de uma empresa sediada em Tianjin, que está na fase 2 de ensaio, e foi testada em apenas508 pessoas. O Instituto Wuhan de Produtos Biológicos, região onde surgiu o Covid-19, também está na fase 2. Já os estudos da Sinovac Biotech, uma empresa privada, e o Instituto de Produtos Biológicos de Pequim, que também pertence à Sinopharm, estão na fase 1. 

O instituto Wuhan, no entanto, esteve envolvido em um escândalo de 2018 em que vacinas sem eficácia para doenças como difteria e tétano foram aplicadas em centenas de milhares de bebês. Procedimentos questionáveis cientificamente, para apresar os resultados resultado, foram adotados naquele país, como o que permite que as empresas possam fazer combinadas as duas primeiras fases de testes, sem levar em conta que os resultados de segurança da primeira fase devem ser avaliados antes do início da segunda fase.

Nesta semana, estudos indicaram que a vacina que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com o laboratório AstraZeneca, gera uma forte resposta imune entre os idosos. 

Os testes clínicos da vacina estão na fase 3, e só então será possível dizer com exatidão se é possível proteger a população do Covid-19, e então se determinar ou não uma imunização em massa da população. Nada de açodamento, cujos prejuízos podem ser irreparáveis

* Adilson Fonseca é jornalista e escreve neste espaço às quartas-feiras

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