Dia do Professor: videoaulas criadas por Juçara Silva foram adaptadas para toda a rede municipal de ensino
"A pandemia trouxe mudanças na educação e acentuou também a desigualdade. Imaginei que as crianças não podiam ficar desassistidas", afirmou
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A pandemia do coronavírus impôs muitos desafios aos professores que tiveram que se adaptar às aulas online. O novo formato requer didática própria e mais atrativos. Foi para facilitar o aprendizado dos alunos que a professora da educação infantil de Salvador, Juçara Silva, decidiu embarcar de vez no mundo virtual e gravar videoaulas que auxiliam os pais no agora famoso homeschooling. A iniciativa deu tão certo que chamou atenção da Secretaria Municipal de Educação (Smed) e o conteúdo produzido por ela passou a ser distribuído para toda rede.
"A pandemia trouxe mudanças na educação do mundo todo e acentuou também a desigualdade. A nossa rede pública não tem a mesma disponibilidade que a particular. Imaginei que as crianças não podiam ficar desassistidas", afirma Juçara. "Faço pequenos vídeos de no máximo cinco minutos, com atividades diversas, que eu faria com eles [alunos] na escola, e adaptei para eles poderem assistir com a família em casa, dentro de um contexto de brincadeira. Porque a criança aprende rápido brincando. O objetivo é que possamos usar o benefício da tela [do celular] para uma aprendizagem mais efetiva", completa.
Professora há quase 20 anos, Juçara conta que no início da pandemia ela e os colegas da Escola Padre Ugo Meregalli, em Nova Brasília, estudavam maneiras que pudessem manter o vínculo dos pais dos estudantes e alunos com o colégio, já que a turma que a profissional é responsável por ensinar atualmente é formada por crianças de quatro anos e, que segundo a ela, precisam ter esse vínculo afetivo com a instituição.
Foi aí que a professora passou a fazer contação de histórias que eram publicadas no Facebook e Instagram pessoal. Essa ação foi ganhando fãs até que chegou na direção da escola. "Minhas gestoras viram e perguntaram se eu podia ter algumas ideias [de vídeos] para direcionar aos alunos da nossa escola, em especial a educação infantil", conta.
O sucesso foi tanto que Juçara recebeu o convite da Smed para compartilhar o conteúdo também no canal do órgão (veja aqui). A iniciativa, quebrou a barreira da escola e ganhou toda a rede municipal. Feliz com a repercussão, a professora só lamenta que devido às desigualdades, uma parcela dos alunos não podem assistir às produções por falta de um celular ou acesso à internet nas residências.
"Queria atingir 100% [dos alunos], mas sei que infelizmente eu não posso. Não são todas as pessoas que tem celular, nem tempo de sentar com as crianças. Mas o meu intuito é atingir o maior número".
Dia do professor
O desabafo de Juçara é a de uma responsável pelo desenvolvimento da educação e do conhecimento no país, características que só podem ser de um professor, que tem o dia celebrado nesta quinta-feira (15). Mesmo sem aulas presenciais, ela não parou de criar conteúdos para vídeos, como também de atividades que são passadas para os alunos, através dos pais, quando vão a escola buscar as cestas básicas. Mesmo com a rotina intensa, a profissional fala da falta de reconhecimento profissional, principalmente durante a pandemia.
"Buscamos a melhor maneira de dar assistência aos alunos, mas sinto falta da valorização dos professores. Nós não paramos, tivemos que aprender do dia para a noite sobre tecnologia e uma parcela da sociedade cobra um retorno como se tivéssemos parado", lamenta.
Volta às aulas
Para a professora sem vacina contra a Covid-19 o retorno às salas de aula é inviável. "Estou extremamente triste, preocupada, com muitas saudades", diz. "O novo normal também se aplica ao calendário pedagógico. Podemos ter a unificação dos calendários de 2020 e 2021", completa afastando a possibilidade de retorno ainda este ano.
Ela também arriscou palpites para um cenário pós pandemia. "Pelas portarias que estão saído vimos que o ensino híbrido foi aprovado. Haverá muitos ajustes para 2021. A escola, nossa vida, nosso cotidiano não serão os mesmos, A educação precisa acompanhar isso e a tecnologia será como uma aliada, mas que não substitua a convivência", avalia.
A educadora que se reinventou para levar conhecimento para os alunos também tirou lições da pandemia. "Foi um evento que provou que o futuro não está nas nossas mãos, ela veio para mostrar que eu e meus colegas podemos ir além. Acho que nunca estudei tanto como agora, estou concluindo uma pós [graduação] nesse período e quando tudo passar não poderei parar de me aprimorar. Estou sempre pensando em poder aprender mais por eles [alunos].
Veja o vídeo: