ARTIGO: O Vírus, o Vale, o Decreto

Por *Margareth, Tatiana, Daniela, Sandra e Victória
07/07/2020 às 08h00
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Foto: Divulgação
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Os efeitos do vírus que se espalhou a partir de um mercado de animais silvestres, na então distante Wuhan, trazem forte expectativa de mudança global nas políticas que regulam a relação humana com a natureza. Na pós-pandemia haveremos de saber para onde penderá a balança das decisões sobre sustentabilidade. 

Por aqui, essa expectativa está inicialmente em um decreto que aguardava a assinatura do prefeito ACM Neto na semana anterior às urgências impostas pela Covid-19: o decreto de criação do 1o Refúgio da Vida Silvestre (Revis) de Salvador, na Mata Atlântica do Vale Encantado em Patamares.

A norma é fruto da principal discussão ecológica da cidade, que teve o seu último capítulo numa Consulta Pública feita pela prefeitura no início de março, pouco antes do distanciamento social. 

No encontro, foram expostas as razões científicas para criação do Revis no Vale onde moram tamanduá, macaco, tatu, ouriço-cacheiro em extinção, aves endêmicas e migratórias e mais de 200 espécies de plantas em meio a córregos, lagoas e nascentes de águas limpas. 

Uma das razões expostas dizia respeito à crise que se avizinhava. Estudos técnicos demostraram a contribuição do verde preservado na contenção de epidemias - a maioria delas originadas de doenças transmitidas de animais para pessoas, zoonoses. Neste quesito, não restou dúvida sobre a necessidade do Vale Encantado para fortalecer a barreira antiepidêmica. 

Seus 617 mil m2 de floresta formam o único corredor ecológico de Salvador. Conecta o Parque de Pituaçu e a Mata do Castão aos outros trechos de Mata Atlântica. Por essa via se dá o fluxo de animais e sementes que permite a reprodução com variedade genética - a biodiversidade crucial para deter desequilíbrios sanitários e climáticos. 

Com dados comparativos de outras cidades do mundo, os expositores também demonstraram a importância econômica da medida. Um local como o 1o Revis pode render milhões de reais a Salvador pelo aumento do turismo, pela valorização imobiliária nos arredores do verde e pelos serviços ecossistêmicos - como controle de alagamento, regulação climática, redução de poluição sonora, do ar e da água. Os benefícios dados, de graça, pela natureza diminuem uma série de gastos públicos, gerando economia que pode ser aplicada em educação, geradora de melhores empregos. 

O decreto do 1o Refúgio da Vida Silvestre de Salvador resultou destes e de outros motivos expostos naquela Consulta Pública e representaria então mais um passo da prefeitura em direção à sua meta de tornar Salvador a Capital da Mata Atlântica. Com a pandemia, esta causa ganhou nova dimensão. 

A esperança é que, a partir desse decreto, nossa cidade se una à expectativa global por uma nova ordem de sustentabilidade. 


* Margareth Maia e Tatiana Bichara - Biólogas integram o IMATERRA.
* Daniela Falcão, Sandra Jovita e Victória Leão - Bióloga, corretora e turismóloga.  Integram o SOS Vale Encantado.

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