A vereadora de São Paulo Cris Monteiro (Novo) voltou a ser alvo de críticas após associar, em uma fala pública, uma pessoa negra a “sapatos baratos”. A declaração foi feita poucos dias depois de já estar sendo investigada pela Corregedoria da Câmara Municipal por possível racismo, em razão de outro comentário polêmico feito durante uma sessão legislativa.

O novo episódio ocorreu em 29 de abril, quando Monteiro participava de uma roda de conversa com mulheres da Federação Israelita do Estado de São Paulo. Na ocasião, ao contextualizar uma discussão anterior na Câmara, ela fez uma comparação que foi interpretada como ofensiva por colegas parlamentares e movimentos sociais.

“Quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês”, disse a vereadora

Entenda origem da polêmica

A controvérsia teve início durante uma sessão plenária em 23 de abril, em que Cris Monteiro discursou a favor da desapropriação da Favela do Moinho, comunidade localizada na região central de São Paulo. Em seu discurso, ela classificou o local como um “quartel-general do crime”, o que gerou reações imediatas.

A vereadora Keit Lima (PSOL), que é negra, respondeu ao pronunciamento, convidando Monteiro a conhecer a realidade da comunidade.

“Eu convido a vereadora Cris Monteiro para ir com seu sapato caro até a Favela do Moinho comigo, porque acho que falta conhecimento da realidade das pessoas pobres, periféricas e faveladas”, disse Keit na tribuna.

Comentário é rebatido com associação a classe e cor

Ao retomar o episódio em conversa com representantes da Federação Israelita, Cris Monteiro criticou a fala de Keit Lima.

“Vocês imaginem se eu chego lá e falo: eu quero convidar a vereadora preta para visitar a Faria Lima com seus sapatos baratos”, declarou. A frase gerou novo desgaste político e foi classificada como ofensiva por parlamentares da oposição.

A vereadora Luana Alves (PSOL), também negra, afirmou que a nova fala reforça o teor discriminatório do primeiro comentário.

“Mostra como essa vereadora não se arrependeu de ter dito uma frase racista. Pelo contrário, debochou e deu risada, reforçando um estereótipo contra nós, pessoas negras”, declarou.

Luana já havia acionado a Corregedoria da Câmara Municipal por quebra de decoro e racismo, após Monteiro afirmar, durante uma sessão em 29 de abril, que “uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês”. A declaração foi dirigida aos sindicalistas presentes na votação do reajuste salarial dos servidores municipais.

Corregedoria ainda analisa primeira representação

Segundo o gabinete de Luana Alves, ainda não foi feita nova representação contra Monteiro porque o primeiro processo disciplinar continua em análise pela Corregedoria da Casa. A apuração trata da fala considerada racista feita durante o plenário.

Em nota, a equipe da vereadora do Novo disse repudiar “tentativas de lhe atribuir falas racistas” e afirmou que Cris Monteiro apenas respondeu a um ataque classista vindo de outra parlamentar. A nota não menciona diretamente o comentário sobre “sapatos baratos”.

Ministra do TSE sofre discriminação ao tentar entrar em seminário sobre combate ao racismo

A ministra baiana Vera Lúcia Santana Araújo, integrante do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi vítima de racismo institucional durante um evento oficial realizado em Brasília. Mesmo sendo uma das palestrantes convidadas do seminário “Gestão Pública – Prevenção e Enfrentamento ao Assédio e à Discriminação”, ela foi impedida de entrar no auditório do Centro Empresarial da Confederação Nacional do Comércio (CNC), onde o encontro ocorria, apesar de apresentar sua identificação funcional. O caso gerou indignação e levou a Advocacia-Geral da União (AGU) a solicitar à Polícia Federal a abertura de investigação para apurar o episódio. A situação ganhou ainda mais destaque por ter ocorrido justamente em um evento que discutia políticas de enfrentamento ao preconceito e à desigualdade.