O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), declarou, nesta sexta-feira (30), ao Supremo Tribunal Federal (STF) que jamais discutiu ou ouviu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tratar sobre qualquer tentativa de golpe de Estado. O depoimento foi prestado como testemunha de defesa de Bolsonaro na Ação Penal que investiga uma suposta articulação golpista e os atos de 8 de janeiro de 2023.

A oitiva foi conduzida por videoconferência pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo. Tarcísio foi convocado pela defesa do ex-presidente por ter ocupado o cargo de ministro da Infraestrutura durante o governo federal, antes de ser eleito governador.

Encontros no Alvorada e ausência de diálogo sobre golpe

Durante o depoimento, Tarcísio afirmou que esteve com Bolsonaro algumas vezes no Palácio da Alvorada após a eleição de 2022, mas que as visitas ocorreram por motivos pessoais.

“Da mesma forma, nesse período, na reta final do governo, nas visitas, tivemos várias conversas, jamais se tocou nesse assunto [de golpe], jamais mencionou ruptura”, declarou.

O governador também destacou que as preocupações do ex-presidente estavam relacionadas a temas econômicos e sanitários. “A preocupação [de Bolsonaro] era que a coisa desandasse, uma preocupação com o futuro do país”, disse, ao mencionar fatores como a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia.

Tarcísio reforçou que, durante sua atuação no governo federal, nunca presenciou qualquer diálogo sobre ruptura institucional. Ele frisou jamais ter tratado ou ouvido Bolsonaro abordar assuntos relativos a golpe, tanto após a eleição de 2022 quanto antes, quando ministro.

Declarações anteriores e possível protagonismo político

As declarações de Tarcísio estão alinhadas a outras falas que já deu publicamente sobre o tema. Em ocasiões anteriores, o governador afirmou que as acusações feitas pela Polícia Federal contra Bolsonaro são uma narrativa que “carece de provas”. Tarcísio é considerado possível nome do bolsonarismo para a disputa presidencial de 2026.

Durante a oitiva, Tarcísio também comentou sobre o estado emocional de Bolsonaro após a derrota nas urnas. Segundo ele, o ex-presidente demonstrava tristeza e resignação. Essa versão foi corroborada por Ciro Nogueira (PP/PI), senador e ex-ministro da Casa Civil.

Ciro relatou ao STF que Bolsonaro ficou desanimado após perder a eleição e estava com “falta de interesse pela situação do país”, afirmou o senador. Assim como Tarcísio, ele negou qualquer conhecimento sobre articulação de golpe.

Ao ser questionado pelo advogado Celso Vilardi, defensor de Bolsonaro, sobre a existência de conversas com o ex-presidente sobre golpe, Nogueira foi enfático. “Em hipótese nenhuma. Nunca aconteceu isso. Todas as determinações que o presidente me deu foi para que fizesse a transição da melhor forma possível”.

Sobre o processo de transição entre os governos, Nogueira declarou que tudo ocorreu de maneira regular. “O presidente em momento nenhum quis obstaculizar qualquer situação”, disse. Assim como Tarcísio, o senador prestou depoimento por videoconferência.

As oitivas desta sexta-feira foram divididas em dois períodos, com depoimentos colhidos durante a manhã e tarde. No período matutino, além de Tarcísio e Nogueira, o STF ouviu outras testemunhas indicadas na defesa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF.

Outros depoimentos prestados ao STF nesta sexta-feira

Entre os nomes que depuseram pela manhã, estavam o deputado distrital João Hermeto (MDB), o senador Esperidião Amin (PP/SC) e o deputado federal Ubiratan Sanderson (PL/RS). Todos prestaram depoimento em defesa de Torres, no mesmo inquérito que investiga a tentativa de golpe.

Estava previsto também o depoimento do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, mas ele foi dispensado pela defesa de Anderson Torres e não participou da audiência.

Durante a tarde, o STF retomou os trabalhos para ouvir novas testemunhas indicadas em favor de Bolsonaro. Estão agendados os depoimentos do coronel Wagner de Oliveira, do ex-assessor da Secretaria-Geral da Presidência Renato de Lima França, do ex-secretário executivo da Casa Civil Jonathas Nery e do ex-secretário de TI do TSE Giuseppe Dutra Janino.