O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia, nesta segunda-feira (19), às 15h, a fase de depoimentos de testemunhas no processo que apura a tentativa de golpe de Estado atribuída ao núcleo central ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Essa nova etapa do inquérito, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, prevê a oitiva de 82 testemunhas até o próximo dia 2 de junho. Os depoimentos ocorrerão por videoconferência, de forma simultânea, para evitar alinhamento de versões entre os envolvidos.

As audiências integram o processo contra oito réus que compõem o chamado “núcleo 1”, considerado o grupo central da articulação investigada. Todos foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, entre outros. A denúncia foi aceita por unanimidade pela Primeira Turma do STF no dia 26 de março deste ano. As informações são da Agência Brasil.

Nomes de destaque entre as testemunhas

A lista de depoentes abrange militares de alta patente, parlamentares e ex-integrantes do governo Bolsonaro, tanto como testemunhas de acusação quanto de defesa. A expectativa é que os interrogatórios forneçam elementos cruciais para a análise do caso, que deve ser julgado ainda neste ano.

Primeiros depoimentos

Entre os primeiros a prestar depoimento estão o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército. Ibaneis, indicado pela defesa do ex-ministro Anderson Torres, chegou a ser afastado do cargo após os atos de 8 de janeiro, mas teve sua investigação arquivada em março de 2025. Já Freire Gomes é citado por ter resistido à tentativa de golpe e, segundo apurações, chegou a ameaçar prender Bolsonaro após sugestão de adesão das Forças Armadas à trama.

Também serão ouvidos, nesta segunda, o empresário Eder Balbino, suspeito de colaborar com um estudo que contestava a lisura das urnas eletrônicas; o servidor Clebson Vieira, envolvido em supostas ações da PRF contra eleitores do Nordeste; e Adiel Alcântara, ex-coordenador de inteligência da Polícia Rodoviária Federal.

Outros depoimentos relevantes

21 de maio (quarta-feira):

• Carlos de Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Força Aérea Brasileira, também teria presenciado conversas sobre adesão das Forças Armadas ao plano golpista.

23 de maio (sexta-feira):

• O senador Hamilton Mourão, ex-vice-presidente, será ouvido como testemunha de defesa de Bolsonaro e de outros acusados militares.
• Almirante Marcos Olsen, atual comandante da Marinha, prestará depoimento em nome da defesa de Almir Garnier, apontado como um dos que apoiaram a conspiração.

26 de maio:

• O ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, figura entre as testemunhas de defesa do general Braga Netto.

29 de maio:

• Ex-ministros Paulo Guedes (Economia) e Adolfo Sachsida (Minas e Energia) depõem em favor de Anderson Torres.

30 de maio:

• Um grupo de políticos influentes será ouvido como testemunha de defesa de Bolsonaro: os senadores Ciro Nogueira, Espiridião Amin, Eduardo Girão; os deputados federais General Pazuello e Sanderson; além do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
• Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, também prestará depoimento nesse dia.

2 de junho:

• Encerrando a série de oitivas, o senador Rogério Marinho será ouvido como testemunha de Braga Netto.

Próximas etapas do processo

Após a conclusão da fase de depoimentos, os réus, incluindo o ex-presidente Bolsonaro, serão convocados para interrogatório, ainda sem data definida. O julgamento deverá ocorrer ainda em 2025. Em caso de condenação, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão.

Réus do núcleo 1 da investigação

Os oito acusados integram o núcleo considerado pela PGR como o “coração” da tentativa de ruptura institucional. São eles:

• Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
• Walter Braga Netto, general do Exército e ex-ministro da Defesa;
• Augusto Heleno, general da reserva e ex-ministro do GSI;
• Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin;
• Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
• Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
• Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
• Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator.

A condução das audiências está sob responsabilidade de um juiz auxiliar designado por Moraes. Por segurança e sigilo do processo, a imprensa e os advogados das partes não estão autorizados a gravar os depoimentos.