Relatório da PF revela facções infiltradas em 42 prefeituras; prefeito morto no RN expõe esquema bilionário
Cidade potiguar foi tomada por organização criminosa ligada ao PCC, que indicou vice-prefeita e passou a comandar a administração local

Um relatório da Polícia Federal (PF), divulgado pelo Fantástico no domingo (11), revelou que facções criminosas têm interferido diretamente em eleições municipais no Brasil. O documento aponta tentativas de manipulação eleitoral em pelo menos 42 cidades do país, com destaque para um caso extremo no município de João Dias, no interior do Rio Grande do Norte, onde o então prefeito Francisco Damião de Oliveira, conhecido como Marcelo, foi executado por ordem de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Com apenas pouco mais de 2 mil habitantes, João Dias se tornou símbolo da vulnerabilidade institucional diante do avanço do crime organizado, que chegou a comandar a prefeitura local após um acordo político envolvendo facções. As informações são do G1.
Aliança com traficante levou facção ao poder municipal
Segundo investigações da Polícia Civil, o crime teria sido motivado por uma disputa entre Marcelo e o traficante Francisco Deusamor Jácome, condenado por tráfico internacional e procurado pela Interpol. Em 2020, Deusamor teria financiado a campanha do então candidato à reeleição com a condição de que sua irmã, Damária Jácome, fosse indicada como vice-prefeita.
Durante a apuração exibida pela reportagem, áudios revelam que Deusamor chegou a oferecer R$ 500 mil ao prefeito, além de R$ 230 mil já pagos, para que ele renunciasse ao cargo, entregando a gestão municipal à irmã. Marcelo renunciou em junho de 2021, apenas seis meses após tomar posse, e Damária assumiu a prefeitura.
Na cerimônia de posse, Damária citou os irmãos traficantes como idealizadores do mandato, o que reforçou as suspeitas da polícia sobre o domínio da facção sobre a administração local.
Retorno ao cargo gerou tensão e levou à execução
No ano seguinte, em 2022, a Justiça considerou nula a renúncia de Marcelo, reconduzindo-o ao cargo. O prefeito passou então a colaborar com as investigações, expondo detalhes do funcionamento do esquema criminoso. O clima político se deteriorou ainda mais quando Marcelo anunciou nova candidatura à reeleição pelo União Brasil, enfrentando sua ex-vice Damária, que concorria pelo Republicanos.
Conforme a Polícia Civil, as duas chapas passaram a circular com escoltas armadas, em cenário típico de milícia. Informações levantadas pela investigação indicam que os criminosos cogitaram matar o prefeito durante um culto evangélico.
A execução ocorreu em agosto de 2023, quando Marcelo e o pai foram assassinados em uma barbearia. Os autores do crime teriam se escondido por cerca de dez dias em um sítio da família Jácome, onde também estocaram as armas usadas. Um vídeo gravado por um dos criminosos mostra o esconderijo utilizado antes do atentado.
Prisões, foragidos e avanço do PCC em outras cidades
Até agora, nove pessoas foram presas. Entre os quatro foragidos estão Damária Jácome e sua irmã Leidiane, que é vereadora em João Dias. Segundo a Polícia Federal, o Ministério Público e a Secretaria Nacional de Segurança Pública, o caso pode estar conectado a uma rede de prefeituras dominadas por facções em diferentes regiões do país.
De acordo com o relatório da PF, o PCC investiu cerca de R$ 8 bilhões no financiamento de candidaturas apenas no estado de São Paulo nas últimas eleições. O objetivo seria controlar prefeituras para ter acesso a contratos públicos e verbas federais. Em João Dias, por exemplo, a prefeitura movimentou mais de R$ 23 milhões em 2023 — valor significativo para os padrões de municípios pequenos.
Família da vítima assume prefeitura e busca estabilidade
Após o assassinato de Marcelo, a viúva Maria de Fátima Mesquita, também do União Brasil, assumiu o comando da cidade. Em nota, a gestão municipal declarou que João Dias vive um período de “profunda instabilidade” e trabalha para restabelecer a normalidade para os moradores.
O advogado das irmãs Damária e Leidiane afirmou que ambas “não participaram do crime” e teriam deixado o município “por temerem represálias”. Para a Polícia Civil do Rio Grande do Norte, a ocupação de cargos públicos por facções é uma ameaça grave à democracia e ao combate ao crime organizado.
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