Moro acusa governo Lula de usar caso de deportados dos EUA como ‘cortina de fumaça’
Senador critica exploração política e cobra debate mais amplo sobre imigração e direitos humanos
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
O senador e ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro (União-PR), acusou, neste último domingo (26), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de utilizar o caso dos brasileiros deportados dos Estados Unidos como uma “cortina de fumaça” para esconder o que chamou de “fracassos administrativos”. A polêmica gira em torno da situação enfrentada pelos deportados, que relataram maus-tratos e uso de algemas durante o voo de repatriação organizado pelo governo americano.
Embora Moro tenha reconhecido que o uso de algemas em deportados que não apresentam ameaça seja um “exagero”, ele classificou a reação do governo brasileiro como uma estratégia de exploração política. “Não é de agora e vai continuar sendo assim”, pontuou o senador, ressaltando que é um debate mais interessado em atacar adversários políticos do que em buscar soluções para as questões migratórias.
Brasileiros relatam maus-tratos e reações se intensificam
O caso ganhou repercussão nacional quando um grupo de 88 brasileiros deportados desembarcou em Manaus, na última sexta-feira (24), em um voo vindo dos Estados Unidos. Durante o trajeto, os deportados foram algemados e denunciaram episódios de violência e desrespeito. A aeronave precisou pousar na capital amazonense devido a problemas técnicos e, no trecho final até Belo Horizonte (MG), as algemas foram retiradas após intervenção das autoridades brasileiras.
O Ministério das Relações Exteriores emitiu nota oficial condenando o uso “indiscriminado” de algemas e correntes, alegando que tal prática viola os termos do acordo de repatriação firmado entre Brasil e Estados Unidos. “O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas. O Brasil concordou com a realização de voos de repatriação, a partir de 2018, para abreviar o tempo de permanência desses nacionais em centros de detenção norte-americanos, por imigração irregular e já sem possibilidade de recurso”, destacou o Itamaraty.
Embate político e guerra de narrativas
O episódio acendeu uma disputa de narrativas entre governistas e a oposição. Políticos alinhados ao governo Lula condenaram a situação e responsabilizaram o ex-presidente Donald Trump pelas condições desumanas impostas aos brasileiros. Por outro lado, a oposição, incluindo figuras como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), rebateu, afirmando que o problema começou durante a gestão de Joe Biden e acusou o governo petista de hipocrisia.
“Os mesmos que celebram penas de até 17 anos de cadeia para mães de família e senhoras como Iraci Nagashi de 71 anos, agora se dizem compadecer com deportados. Mas mais uma vez trata-se de sinalização de virtude + seleção de fatos convenientes, pois destes 3.660 aqui nem um pio”, afirmou Eduardo, ao citar que, apenas durante o governo Biden, o Brasil recebeu 32 voos de deportação.
Já entre os governistas, figuras como o deputado federal José Guimarães (PT-CE) exaltaram a atuação do governo Lula. “Enquanto 88 brasileiros eram expulsos dos EUA, políticos bolsonaristas comemoravam a posse de Trump. Lula proibiu algemas e garantiu avião da FAB para resgatar os deportados. Já a extrema-direita brasileira? Preferiu celebrar quem quer humilhar nosso povo”, escreveu o petista.
Histórico e políticas migratórias dos EUA
A deportação em massa de imigrantes ilegais foi uma das bandeiras de campanha de Donald Trump e continua a ser uma política controversa nos Estados Unidos. Apesar da posse de Trump no último dia 20, o voo que trouxe os brasileiros é parte de um processo iniciado ainda na gestão de Joe Biden. Esse detalhe gerou confusão e alimentou o confronto político no Brasil, com acusações mútuas entre os partidos.
Na Colômbia, uma situação semelhante teve desdobramentos diferentes. O presidente colombiano, Gustavo Petro, recusou voos de deportação, levando os Estados Unidos a aplicarem sanções econômicas. O episódio, no entanto, terminou com um acordo bilateral. Sérgio Moro compartilhou declarações do ex-presidente colombiano Iván Duque, destacando a importância da diplomacia e da inteligência nas relações internacionais.
Debate sobre direitos humanos e imigração
A polêmica expõe não apenas a divisão política no Brasil, mas também questões mais amplas sobre imigração e direitos humanos. Especialistas apontam para a necessidade de uma abordagem conjunta entre os governos de Brasil e Estados Unidos para garantir condições dignas aos imigrantes em processos de deportação.
Ao mesmo tempo, o debate levanta questões sobre a eficácia de políticas migratórias restritivas e a responsabilidade dos governos em proteger seus cidadãos no exterior. Enquanto governistas e oposicionistas continuam a trocar acusações, os relatos de maus-tratos e condições degradantes evidenciam a urgência de um diálogo mais construtivo sobre o tema.
O caso dos deportados brasileiros reflete não apenas tensões políticas internas, mas também desafios globais no tratamento de imigrantes. As declarações de Sérgio Moro e a resposta do governo Lula evidenciam que o tema seguirá no centro das atenções, alimentando debates sobre imigração, direitos humanos e relações internacionais. A pressão sobre o Itamaraty para assegurar mudanças nos acordos bilaterais com os Estados Unidos será um dos próximos passos para evitar novos episódios de desrespeito aos brasileiros no exterior.
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