Metade dos brasileiros considera que as políticas comerciais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm impacto negativo na economia do Brasil, segundo pesquisa realizada pelo instituto Ipsos-Ipec e divulgada nesta última sexta-feira (18). O levantamento foi conduzido entre os dias 3 e 7 de abril, logo após o anúncio do “tarifaço”, que impôs uma tarifa de 10% sobre produtos de diversos países, incluindo o Brasil.

Para 25% dos entrevistados, as ações do governo norte-americano não geram impacto, enquanto os demais preferiram não responder ou disseram não saber.

Eleitores de Lula têm percepção mais acentuada

A percepção negativa é mais acentuada entre os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 61% considerando as ações prejudiciais. Já entre os que votaram em Jair Bolsonaro (PL), o número cai para 38%.

O levantamento mostra que a reprovação ao governo de Trump também ultrapassa a questão econômica. Quando questionados sobre a influência geral da atual gestão norte-americana no Brasil, 49% consideraram negativa, 29% positiva e 2% apontaram que é indiferente.

A pesquisa entrevistou 2 mil pessoas em todas as regiões do país, com margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%.

Brasileiros com maior renda e escolaridade têm opiniões divididas

A percepção sobre o impacto de Trump nos Estados Unidos também revela divisões no eleitorado brasileiro. Ao analisar o desempenho do republicano em seu próprio país, 30% dos entrevistados avaliaram como ruim ou péssimo, 27% como ótimo ou bom e 19% como regular. Outros 24% não souberam ou não quiseram responder.

A divisão é mais nítida entre os brasileiros com maior escolaridade e renda. Entre os que têm ensino superior, 34% avaliam positivamente o governo Trump, enquanto 35% o consideram negativo. Entre os que ganham mais de cinco salários mínimos, a avaliação favorável chega a 35%, contra 34% de avaliação desfavorável.

O apoio a Trump varia conforme a preferência eleitoral dos brasileiros. Apenas 15% dos eleitores de Lula aprovam a gestão do norte-americano. Em contrapartida, 45% dos bolsonaristas veem a administração republicana de forma positiva. Entre os que desaprovam, 13% são eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro defende tarifa e critica governo Lula

O anúncio do tarifaço foi defendido por Bolsonaro e seus aliados, que aproveitaram para criticar a política econômica do governo Lula. “A única resposta razoável à tarifação recíproca dos EUA é o governo Lula extinguir a mentalidade socialista que impõe grandes tarifas aos produtos americanos, inviabilizando o povo brasileiro de ter acesso a produtos de qualidade mais baratos”, disse Bolsonaro em suas redes.

Apesar das críticas da oposição e da pressão no Congresso por uma resposta equivalente, o governo brasileiro tem adotado uma postura cautelosa em relação às tarifas impostas por Trump. A reciprocidade foi descartada publicamente pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

Como parte de sua estratégia de comunicação, o Palácio do Planalto lançou a campanha “Brasil dos Brasileiros”, com foco em resgatar símbolos nacionais e ampliar o apoio popular fora da base tradicional do PT. Durante evento em comemoração aos 2 anos de mandato, o presidente Lula também aproveitou para criticar as ações comerciais de Donald Trump.

Lula sanciona Lei da Reciprocidade

O presidente Lula sancionou, na segunda-feira ((14), sem vetos, a chamada Lei da Reciprocidade, que permite ao Brasil adotar contramedidas diante de barreiras comerciais impostas por outros países. A norma foi aprovada com rapidez pelo Congresso Nacional, em regime de urgência, como resposta direta ao aumento de tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiro anunciado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A nova lei autoriza o Poder Executivo a suspender concessões comerciais, investimentos e obrigações relacionadas a direitos de propriedade intelectual quando essas medidas forem justificadas como resposta a ações de países ou blocos econômicos que prejudiquem a competitividade internacional do Brasil. As contramedidas deverão ser utilizadas de forma excepcional, apenas quando outras alternativas forem consideradas ineficazes.

O texto também prevê que tais ações sejam proporcionais ao impacto econômico causado por barreiras comerciais ou subsídios externos. Além disso, a legislação exige que sejam promovidas consultas diplomáticas e audiências públicas antes da adoção de qualquer sanção, para permitir a participação de empresas e setores afetados.