O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, foi preso pela Polícia Federal (PF) na manhã desta sexta-feira (13). Segundo informações divulgadas até o momento, a prisão aconteceu de forma preventiva, durante investigação da PF sobre uma suposta tentativa de fuga de Cid. A determinação de prisão foi expedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que, logo depois, revogou a mesma prisão.

Apesar de Mauro Cid não ter chegado a ser preso, ele será levado para a sede da polícia federal para mais esclarecimentos. As investigações contra o tenente-coronel ocorrem no mesmo âmbito da investigação que levou à detenção do ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro, Gilson Machado, em Recife (PE). Ele é acusado de arquitetar o plano de fuga de Cid, com a obtenção de um passaporte português, que seria emitido após a concessão da cidadania.

Cid também teve os celulares apreendidos, que passarão por perícia. A apreensão dos aparelhos do delator da trama golpista buscam apresentar novos esclarecimentos sobre a obtenção dos passaportes.

Gilson Machado é preso por planejar fuga de Mauro Cid

Desde a última terça-feira (10), a PF investiga a participação do ex-ministro sob suspeita de ter atuado para obter um passaporte português para Mauro Cid, com o objetivo de facilitar sua saída do país. Segundo indícios coletados, Machado teria comparecido, em maio, ao consulado de Portugal localizado em Recife, onde mora, para viabilizar o documento, porém sem sucesso.

De acordo com a Polícia Federal, existia a possibilidade de que Machado tentasse em outros consulados ou embaixadas, como o que há em Brasília. Para as autoridades, o objetivo do ex-ministro seria obstruir a colaboração do general, que é réu no processo que apura a trama golpista, como membro do chamado “núcleo crucial”, do qual também faz parte o ex-presidente Jair Bolsonaro.

As investigações também apontam que Machado teria promovido, por meio das redes sociais, uma campanha de arrecadação de doações em dinheiro que deveriam ser repassadas ao ex-presidente.

Depoimento de Mauro Cid no STF

O tenente-coronel Mauro Cid afirmou, em depoimento na última segunda-feira (9), ao Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pretendia encontrar indícios de fraude nas urnas eletrônicas como forma de convencer os comandantes das Forças Armadas a aderirem a uma tentativa de golpe de Estado. A oitiva foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal que investiga a articulação golpista para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após as eleições de 2022.

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator no processo, Mauro Cid é o primeiro réu do chamado “Núcleo 1” da investigação a prestar depoimento diretamente ao STF. A estratégia relatada incluía a elaboração de pareceres técnicos que questionassem a segurança das urnas eletrônicas e a utilização dessas informações como justificativa para uma intervenção militar.

Militares pressionados e parecer técnico enviado ao TSE

Cid afirmou que havia uma expectativa dentro do núcleo político e militar bolsonarista de que alguma fraude fosse identificada no sistema eletrônico de votação. Segundo ele, tanto Bolsonaro quanto o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e vice na chapa presidencial, esperavam encontrar alguma falha que pudesse embasar uma contestação institucional do resultado das eleições.

A expectativa, conforme o depoimento, era que uma possível fraude nas urnas convencesse os militares de que o pleito havia sido fraudado e, com isso, mudasse o cenário político do país. Um dos principais alvos dessa pressão teria sido o general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa. Cid relatou que havia forte insistência para que ele questionasse publicamente a confiabilidade do sistema de votação.

Em 2022, o general Nogueira chegou a enviar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um parecer técnico alegando não ser possível garantir total isenção de interferências no processo. O documento foi encaminhado no âmbito da Comissão de Transparência Eleitoral, criada pelo próprio TSE para acompanhar as eleições.